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Psicóloga explica por que imigrantes estão mais sujeitos à “dezembrite” e diz como combatê-la

As festas de fim de ano nem sempre despertam sentimentos positivos. O sentimento de ansiedade, tristeza ou de nostalgia que atinge muitas pessoas no mês de dezembro até já ganhou um nome, a “dezembrite”. De acordo com especialista, imigrantes estão mais sujeitos a essa depressão de fim de ano, mas existem maneiras de combatê-la. 

O sentimento de ansiedade, tristeza ou de nostalgia que atinge muitas pessoas no mês de dezembro até já ganhou um nome, a “dezembrite”. Para os imigrantes, essa depressão de fim de ano pode ser ainda pior.
O sentimento de ansiedade, tristeza ou de nostalgia que atinge muitas pessoas no mês de dezembro até já ganhou um nome, a “dezembrite”. Para os imigrantes, essa depressão de fim de ano pode ser ainda pior. © iStock / martin-dm
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Ana Carolina Peliz, da RFI

A psicanalista Juliana Campocasso, especializada em imigração e psicóloga do Programa de assistência aos brasileiros do Consulado do Brasil, explica à RFI que alguns aspectos podem agravar a “dezembrite” nos imigrantes.

Ela lembra que o termo, que descreve esse conjunto de sentimentos negativos associados ao final do ano, às festas de Natal e também ao ano que está terminando, não é um conceito da psicologia, da psiquiatria ou da psicanálise, mas um nome popular.

De acordo com a psicóloga e psicanalista, o sentimento de tristeza, a ansiedade, a angústia, o estresse, o desânimo ou algo mais acentuado, como a depressão e até mesmo doenças, podem variar de uma pessoa para outra, dependendo da sua estrutura psíquica. 

As queixas mais frequentes que ela recebe em seu consultório são dificuldade para dormir, estresse, ansiedade, dificuldade de lidar com as cobranças e com a vida social.

As causas da dezembrite são diversas, mas, segundo ela, estão ligadas principalmente ao fato de o final do ano ser um momento de “balanço”, quando as pessoas se perguntam “o que elas viveram, as expectativas, o que elas conseguiram construir ao longo desse ano. Então, isso aumenta a pressão. Uma pressão de estarmos felizes, de reencontrar as pessoas e nem sempre reencontrar os parentes é um grande prazer”, salienta ela.

Dezembrite do imigrante

Viver as festas de final de ano fora de seu país de origem pode aumentar estes sintomas. “Eu tenho percebido, tanto no meu consultório particular aqui em Paris, quanto no Programa de assistência aos brasileiros do Consulado do Brasil, onde sou psicóloga, que nesse período há um número maior de pedidos de atendimento”, diz Juliana Campocasso.

Ainda que sentimentos negativos com relação às festas de fim de ano sejam uma realidade para pessoas que estão no Brasil, o processo de imigração pode acentuá-los. “Porque você não tem aquela sensação de pertencer ao lugar, não tem as mesmas lembranças da sua infância, os rituais, as lembranças afetivas, como as confraternizações com os amigos, os famosos amigos secretos, os encontros com a família que fazem falta, ainda mais nesse momento de Natal”, diz.

Ela também ressalta as questões sensoriais. “As comidas não são as mesmas. O clima é outro, é frio. Então, todas essas mudanças de perspectivas com relação às lembranças que se tinha do Natal afetam os imigrantes e fazem com que o final do ano, para quem já tem tendência a ter sentimento negativo, seja ainda mais difícil”, explica afirmando que até mesmo quem não sofre de dezembrite pode ter uma dificuldade com essas datas quando está fora de seu país.

A psicóloga observa, também, que essas dificuldades podem afetar pessoas de todas as faixas etárias, inclusive crianças. “Elas recebem uma dose de estresse ainda maior na imigração porque elas têm que lidar com as questões delas próprias e as dos pais”, diz.

Outro problema para o estrangeiro é o local onde vai passar as festas. “Eu escuto muitos pacientes que dizem, ‘prefiro trabalhar para nem ter que pensar onde eu vou passar o Natal’”, conta.

A psicóloga e psicanalista Juliana Campocasso.
A psicóloga e psicanalista Juliana Campocasso. © arquivo pessoal

Remédio contra a dezembrite

Mas tem algum remédio contra a dezembrite? Juliana Campocasso lembra que na psicanálise, o simples fato de se dar conta que o estresse, a irritabilidade e a tristeza estão relacionadas com o final do ano e ter um espaço para falar sobre o tema, já são passos importantes.

“E não ter vergonha. Porque às vezes muitas pessoas dizem, ‘poxa, eu estou em Paris e estou triste, como pode?’, mas é importante não ter vergonha”, insiste.

“Eu acho que essa questão de reconhecer suas próprias emoções, saber procurar ajuda e também o fato de tentar se integrar nessa nova cultura, aprender a língua, procurar ter uma rede de apoio, encontrar novos amigos, tentar se integrar no trabalho e, com relação à criança, essa integração na escola. Também encontrar com pessoas da sua própria língua materna”, estas possibilidades ajudariam a se proteger dos sentimentos negativos do fim do ano.  

“Não tem assim uma receita de bolo para a gente encontrar uma solução”, ressalta a psicóloga, “mas eu acho que cada um, na sua singularidade, pode reconhecer e também saber onde procurar ajuda e também procurar se integrar e reconstruir essa rede de apoio. Eu acho que cada um vai saber essa dosagem e assim teremos um 2024 diferente para todo mundo”, diz.

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