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Fuga desesperada de palestinos em Gaza continua; conflito Israel-Hamas soma mais de 3,2 mil mortos

Milhares de palestinos fogem pelas ruas devastadas da Cidade de Gaza, na esperança de encontrar refúgio mais ao sul, em reação à ordem de retirada de apenas 24 horas feita na sexta-feira (13) por Israel, que se prepara para uma ofensiva terrestre em retaliação ao ataque sangrento lançado pelo Hamas.

Centenas de palestinos fogem da cidade de Gaza. Na sexta-feira (13), Israel deu ordem para que os civis deixassem o norte da Faixa de Gaza em direção ao sul.
Centenas de palestinos fogem da cidade de Gaza. Na sexta-feira (13), Israel deu ordem para que os civis deixassem o norte da Faixa de Gaza em direção ao sul. © MAHMUD HAMS / AFP
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O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, criticou neste sábado (14) a ordem israelense para o deslocamento de mais de 1 milhão de pessoas do norte de Gaza em um único dia. “Como representante da posição oficial da União Europeia, digo que [a ordem de retirada] é totalmente, totalmente impossível de colocar em prática”, ele declarou durante uma conferência de imprensa em Pequim, no último dia de sua visita de três dias à capital chinesa.

“Imaginar que poderíamos deslocar 1 milhão de pessoas em 24 horas em uma situação como a de Gaza só pode resultar em uma crise humanitária”, acrescentou. “A posição é clara”, continuou Borrell, “certamente defendemos o direito de Israel de se defender. Mas, como qualquer lei, tem um limite. E esse limite é o direito internacional."

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, por sua vez, alertou que “Este é apenas o começo” das operações israelenses em Gaza, em declaração na sexta-feira (13), sétimo dia da guerra desencadeada pelo ataque do movimento islâmico palestino contra Israel e que já deixou mais de 3,2 mil mortos. O Hamas também sequestrou 150 reféns que ameaça executar.

O exército israelense, que respondeu com intensos ataques na Faixa de Gaza, anunciou na sexta-feira que também realizaria incursões terrestres. Pelo menos 1,3 mil israelenses, a maioria deles civis, foram mortos desde o primeiro ataque.

Cerca de 1,9 mil palestinos, em sua maior parte civis, incluindo 614 crianças, de acordo com as autoridades locais, morreram na Faixa de Gaza, um pequeno território, empobrecido e sitiado, espremido entre Israel e o Egito.

O Hamas, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel, e no poder na Faixa de Gaza desde 2007, anunciou na sexta-feira que 13 reféns, “incluindo estrangeiros”, foram mortos em ataques israelenses. O grupo islâmico, que Israel jurou “aniquilar”, já tinha anunciado a morte de quatro reféns nos atentados.

“Até as guerras têm regras”

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, em visita a Jerusalém na sexta-feira, acusou o Hamas de estar usando a população como um “escudo”. Aumentam os apelos em todo o mundo para evitar uma “catástrofe humanitária”, depois do ultimato de Israel de sexta-feira para esvaziar a parte norte da Faixa de Gaza, em apenas 24 horas, o que corresponde ao deslocamento de cerca de 1,1 milhão de habitantes, em uma população total de 2,4 milhões.

“Até as guerras têm regras”, lembrou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, apelando ao acesso humanitário “imediato” à Faixa de Gaza. Ele descreveu um “sistema de saúde à beira do colapso”, “necrotérios lotados” e “uma crise hídrica”.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, garantiu que “a crise humanitária” em Gaza era “uma prioridade”, enquanto diversas ONG apelam também à abertura de corredores humanitários.

O presidente russo, Vladimir Putin, apelou ao "fim do derramamento de sangue", alertando que um possível ataque terrestre a Gaza provocaria "perdas civis absolutamente inaceitáveis".

Hezbollah

Há também uma forte tensão na fronteira norte do país. Um porta-voz do exército israelense anunciou que diversos “terroristas” foram mortos na manhã de sábado durante uma tentativa de infiltração em Israel a partir do Líbano, frustrada pelo exército. "Soldados do exército israelense identificaram há algumas horas um comando terrorista que tentava entrar em território israelense vindo do Líbano. Um drone teve como alvo esse comando e matou diversos terroristas", disse o porta-voz em um comunicado de imprensa.

Na noite de sexta-feira para sábado o exército israelense já havia afirmado ter atingido um alvo do Hezbollah no sul do Líbano em resposta à “infiltração de objetos aéreos não identificados” e ao “disparo contra um drone aéreo do exército”. O Hezbollah, um movimento pró-iraniano aliado ao Hamas, informou na sexta-feira que estava “totalmente preparado” para intervir contra Israel “no momento certo”.

Um jornalista da Reuters foi morto e seis outros jornalistas da AFP, Reuters e Al-Jazeera ficaram feridos em atentados a bomba no sul do Líbano na sexta-feira.

Na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967, pelo menos 16 palestinianos foram mortos em confrontos com as forças israelenses durante manifestações de solidariedade à Faixa de Gaza, informou o Ministério da Saúde palestino. Milhares de pessoas também se manifestaram sexta-feira em Beirute, Iraque, Irã, Jordânia e Bahrein em apoio aos palestinos.

Um manifestante com uma tatuagem “Palestina” participa de uma manifestação pró-palestinos em Amã, capital da Jordânia, em 13 de outubro de 2023.
Um manifestante com uma tatuagem “Palestina” participa de uma manifestação pró-palestinos em Amã, capital da Jordânia, em 13 de outubro de 2023. © Alaa Al Sukhni / Reuters

Terror

Na madrugada de 7 de outubro, centenas de combatentes do Hamas se infiltraram em Israel em veículos, por via aérea e marítima, a partir da Faixa de Gaza. Eles mataram mais de mil civis, semeando o terror sob uma saraivada de foguetes durante este ataque em uma escala nunca vista desde a criação de Israel em 1948.

Cerca de 270 pessoas, afirmam as autoridades, foram mortas em um festival de música. O Hamas sequestrou cerca de 150 reféns israelenses, estrangeiros e binacionais, de diversas idades, de acordo com as autoridades israelenses. Centenas de pessoas estão desaparecidas, e os corpos das vítimas do conflito ainda estão sendo identificados.

Após o ataque, o exército israelense afirmou ter recuperado os corpos de 1,5 mil combatentes palestinos. Israel respondeu declarando guerra para destruir o Hamas, bombardeando a Faixa de Gaza e mobilizando dezenas de milhares de soldados ao redor do território, bem como na fronteira libanesa.

Na manhã de sexta-feira, centenas de foguetes foram novamente disparados de Gaza em direção ao território israelense, informou um jornalista da AFP.

Escombros

O exército israelense ordenou a todos os civis na Cidade de Gaza para “deixarem suas casas e se deslocarem para o sul, para sua própria segurança”. Aos milhares, carregando sacos com alguns de seus pertences, eles fogem por todos os meios, a pé, amontoados em reboques, carroças, motos, carros, por ruas cheias de escombros, ladeadas de edifícios em ruínas.

De um lado, uma criança segura com firmeza o travesseiro na mão, de outro, uma mulher reuniu tudo o que conseguiu guardar em uma bolsa que carrega no ombro. Folhetos em árabe, lançados por drones israelenses, avisam os residentes para que deixem suas casas “imediatamente”. O Hamas rejeitou este ultimato.

A Faixa de Gaza, um território de 362 km², está sujeita a um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo israelense desde que o Hamas assumiu o poder. O Egito controla sua única abertura para o mundo, o ponto de passagem de Rafah, que está atualmente fechado.

Submetido a um “cerco total” desde 9 de outubro, o enclave está privado de água, eletricidade e abastecimento de alimentos, cortado por Israel. De acordo com a agência de notícias oficial dos Emirados, WAM, os Emirados Árabes Unidos enviaram na sexta-feira um avião transportando ajuda médica de emergência para El-Arich, no Egito, que será deslocada para Gaza por meio da passagem de fronteira de Rafah.

“Até quando vamos viver sob bombas?”

Em Gaza, o som das explosões é incessante. O exército israelense afirma ter alvejado 750 “alvos militares” durante a noite, mas os ataques atingiram o grande campo de refugiados de Al-Shati, informaram jornalistas da AFP.

“Até quando vamos viver sob bombas, com mortes por toda parte?”, questiona Oum Hossam, de 29 anos, com o rosto coberto de lágrimas, que busca refúgio com seus quatro filhos após a destruição de sua casa.

Outros moradores se recusam a sair, por falta de meios ou para não ceder: “O inimigo quer nos aterrorizar e nos obrigar ao exílio, mas resistiremos”, afirma um deles, Abou Azzam.

O rei Abdullah II, da Jordânia, alertou contra “qualquer tentativa de deslocar os palestinos”, sublinhando que o conflito “não deve se alastrar para os países vizinhos”. Mais de 423 mil palestinos já abandonaram suas casas, aponta a ONU, que lançou um apelo de emergência para doações.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, comparou este atual "deslocamento" a uma "segunda Nakba" ("catástrofe" em árabe), nome dado à fuga de cerca de 760 mil palestinos na ocasião da criação do Estado de Israel.

(Com informações da AFP)

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