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Nagorno-Karabakh: milhares de refugiados na Armênia clamam ajuda humanitária internacional

Mais de 50 mil refugiados chegaram à Armênia nos últimos dias, o que representa mais de um terço da população dessa região separatista que fugiu do território e do avanço das tropas azerbaijanas. As autoridades locais apelam para a ajuda internacional.

Famílias refugiadas tentam cruzar a fronteira e chegar ao centro de registro do Ministério das Relações Exteriores da Armênia.
Famílias refugiadas tentam cruzar a fronteira e chegar ao centro de registro do Ministério das Relações Exteriores da Armênia. AFP - ALAIN JOCARD
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No dia 19 de setembro, o Azerbaijão anunciou uma operação militar no enclave separatista de Nagorno-Karabakhrealizou e deu início a bombardeios na região, que concentra população de maioria armênia. Os ataques, classificados pelo Azerbaijão como "medidas antiterroristas" deixaram mais de 200 mortos e representam o rompimento de um cessar-fogo entre Armênia e Azerbaijão, mediado pela Rússia, ainda em 2020.

Na segunda-feira (25), o governo do Azerbaijão se comprometeu a garantir os direitos dos habitantes armênios de Nagorno-Karabakh que fogem do conflito em direção ao país. O Azerbaijão afirmou que irá permitir que todos os soldados que depusessem suas armas saíssem da zona de tensão, mas outras declarações levantaram temores de represálias por parte das autoridades azerbaijanas contra os armênios, em particular o fato de que as autoridades dizem que querem procurar os autores de "crimes de guerra" entre os soldados separatistas.

Em entrevista à RFI, Tigrane Yegavian, professor de Relações Internacionais da Universidade Schiller e pesquisador do Instituto Cristão do Oriente e autor de "Geopolítica da Armênia", disse que apesar do presidente do Azerbaidjão, Ilham Aliyev, ter dito que irá respeitar os direitos dos armênios, os refugiados temem, pois o mesmo disse "há três anos que iria caçar os armênios como cães" e já citou um "projeto de limpeza étnica para ter sua vingança e também a alcançar seu objetivo de anexação".

Os habitantes de Nagorno-Karabakh estão esperando discriminação, na melhor das hipóteses, e violência e limpeza étnica, na pior, e é por isso que estão pegando a estrada, explica o enviado especial da RFI, Daniel Vallot. A única estrada para a Armênia é o famoso corredor de Latchine. O que explica os intermináveis engarrafamentos.

No total são necessárias cerca de 30 horas para sair de Nagorno-Karabakh, enquanto há falta de combustível, explica Taline Oundjian, correspondente especial da France 24 em Goris. Voluntários estão levando gasolina para a fronteira em galões para que esses carros possam pelo menos chegar à cidade mais próxima do outro lado da fronteira.

Associações sobrecarregadas em Goris

Essa cidade do outro lado da fronteira se chama Goris e tem uma população de 20 mil habitantes. Ela está enfrentando a chegada de dezenas de milhares de pessoas em condições dramáticas. Algumas delas tiveram que dormir em seus carros, enfrentando o frio, e os voluntários no local dizem que falta alimentos e até mesmo pão.

A situação em Goris é de "sobrecarrega e transbordamento, pois a cidade tem 20 mil habitantes e no momento um excesso de mais de 40 mil pessoas que transitam (...) Não se trata de um corredor humanitário. Os azerbaijanos bloqueiam os acessos", completa Tigrane Yegavian. 

"A Armênia não tem infraestrutura logística, econômica para receber essa quantidade de refugiados, não estão preparados nem mesmo psicologicamente, logo, efetivamente, as estruturas que estão mobilizadas, como a Cruz Vermelha, estão sobrecarregadas", opina. 

Ani é uma das pessoas que deixou tudo para trás e agora está esperando que a ajuda internacional chegue logo, depois de uma longa jornada, sem nada para comer e com apenas alguns pertences. “Dormimos no carro por duas noites. Agora estamos esperando que a ajuda internacional chegue. A situação é difícil, estamos em guerra. Portanto, tenho certeza de que eles nos ajudarão”, conta a cidadã.

As autoridades, as associações e os observadores da região estão pedindo ajuda, uma missão de observação e a permissão para que jornalistas entrem em Nagorno-Karabakh para relatar a situação e levar os produtos de que as pessoas deslocadas à força precisam.

Depois de 26 horas de viagem, Azat acaba de chegar com sua família em Goris. As associações locais estão levando água, alimentos e produtos que eles não veem há meses, já que Nagorno-Karabakh está sob bloqueio desde 12 de dezembro de 2022.

“Não temos família aqui, mas poderemos ficar com amigos até que o governo venha nos ajudar. As autoridades nos disseram que estamos seguros, o vice-ministro veio nos visitar e disse que seríamos bem cuidados. Mas, para ser sincero, não temos ideia do que o dia de amanhã nos trará”, diz o refugiado.

Refugiada passa por uma fila de veículos em congestionamento após cruzar a fronteira e chegar ao centro de registro do Ministério das Relações Exteriores da Armênia, perto da cidade fronteiriça de Kornidzor, em 25 de setembro de 2023.
Refugiada passa por uma fila de veículos em congestionamento após cruzar a fronteira e chegar ao centro de registro do Ministério das Relações Exteriores da Armênia, perto da cidade fronteiriça de Kornidzor, em 25 de setembro de 2023. AFP - ALAIN JOCARD

 

Apoio econômico e político dos países europeus

Helicópteros também foram vistos no céu na terça-feira (26). O Azerbaijão abriu seu espaço aéreo para os russos para que eles possam evacuar as centenas de feridos graves após a explosão em um posto de gasolina que deixou dezenas de mortos.

As autoridades da república autoproclamada estão intensificando seus pedidos de ajuda, principalmente aos países europeus. Seu representante na França, Hovhannes Guevorkian, esteve presente na manifestação de apoio organizada por parlamentares franceses em frente à Assembleia Nacional na terça-feira, 26 de setembro.

"É a estrada do êxodo, Nagorno-Karabakh será esvaziada nos próximos dias porque a fila na estrada de mão única de Stepanakert, a capital de Nagorno-Karabakh para a Armênia, até a cidade mais próxima, Goris, é impressionante. É necessário apoio econômico e político. Precisamos organizar a recepção digna que essas pessoas merecem como refugiados, encontrar seu lugar na sociedade armênia e criar as medidas necessárias para que possam ser reintegradas e continuar suas vidas com dignidade", afirma Guevorkian.

(Também com informações da AFP)

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