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Líder separatista de Nagorno-Karabakh afirma que 120 mil armênios devem deixar território

Os 120 mil armênios étnicos de Nagorno-Karabakh partirão para a Armênia porque não querem viver no Azerbaijão e temem ser vítimas de limpeza étnica, disse a liderança do enclave separatista à Reuters no domingo (24). O primeiro-ministro armênio declarou, por sua vez, que os armênios "provavelmente abandonariam" o território e que o seu país estava pronto para acolhê-los.

Moradores de Nagorno-Karabakh passam por posto de checagem no vilarejo armênio de Kornidzor. (24/09/2023)
Moradores de Nagorno-Karabakh passam por posto de checagem no vilarejo armênio de Kornidzor. (24/09/2023) REUTERS - IRAKLI GEDENIDZE
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Na quarta-feira (20), em uma operação de menos de 24 horas, o enclave foi tomado pelo Azerbaijão, em um conflito que remonta à queda da União Soviética. Nagorno-Karabakh é internacionalmente reconhecido como parte do Azerbaijão, mas tem estado fora do controle de Baku desde o colapso soviético.

O território tem sido administrado por autoridades armênias dissidentes que consideram a região como a sua pátria ancestral. Os armênios de Nagorno-Karabakh foram forçados a concordar com um cessar-fogo em 20 de setembro.

O Azerbaijão prometeu garantir os direitos dessa população e integrar plenamente a região, mas os armênios de Nagorno-Karabakh temem uma onda de repressão.

‘Vergonha para o povo armênio’

"Nosso povo não quer viver no Azerbaijão; 99,9% preferem deixar nossas terras históricas", disse David Babayan, assessor do presidente da autoproclamada República de Artsakh, Samvel Shahramanyan, à agência Reuters. “O destino do nosso pobre povo ficará na história como uma desgraça e uma vergonha para o povo armênio e para todo o mundo civilizado”, acrescentou David Babayan. “Aqueles que são responsáveis ​​pelo nosso destino um dia terão que responder diante de Deus pelos seus pecados.”

Os líderes armênios de Nagorno-Karabakh afirmaram num comunicado que todos aqueles que ficarem sem abrigo desde a operação militar do Azerbaijão e desejarem partir serão escoltados para a Armênia por forças de manutenção da paz russas presentes no enclave.

Um primeiro grupo de refugiados entrou na Armênia neste domingo, observou uma equipe da agência AFP na fronteira com a região. Algumas dezenas de residentes do território, principalmente mulheres, crianças e idosos, chegaram ao centro de acolhimento criado pelo governo armênio em Kornidzor.

Alguns refugiados disseram à AFP que vieram da aldeia fronteiriça de Eghtsahogh, enquanto outros afirmaram ter percorrido distâncias mais longas nesta zona montanhosa do Cáucaso.

David Babayan acrescentou que ainda não sabia quando os armênios utilizariam o corredor de Lachin, que os liga à Armênia. O primeiro-ministro do país, Nikol Pashinyan, enfrenta protestos para que renuncie por não ter conseguido salvar Nagorno-Karabakh.

Babayan também indicou que o processo de entrega de armas aos combatentes de etnia armênia está em curso.

Primeiro-ministro armênio toma distância de Moscou

Num discurso à nação, Pashinyan disse que alguma ajuda humanitária tinha chegado ao país, mas que os armênios em Nagorno-Karabakh ainda estavam expostos ao “perigo da limpeza étnica”.

“Se não criarmos condições de vida reais para os armênios de Nagorno-Karabakh nas suas casas e mecanismos eficazes contra a limpeza étnica, será cada vez mais provável que (eles) vejam a expulsão como a única forma de sair da sua terra natal”, salientou.

Primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, disse neste domingo que os armênios em Nagorno-Karabakh ainda estavam expostos ao “perigo da limpeza étnica”. (24/09/2023)
Primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, disse neste domingo que os armênios em Nagorno-Karabakh ainda estavam expostos ao “perigo da limpeza étnica”. (24/09/2023) REUTERS - ARMENIAN PRIME MINISTER

De acordo com uma transcrição do seu discurso fornecida pelo governo, o primeiro-ministro armênio acrescentou que “a responsabilidade por tal desenvolvimento nos acontecimentos recairia inteiramente sobre o Azerbaijão, que adotou uma política de limpeza étnica, e sobre o contingente russo de manutenção da paz estacionado no enclave.

O Azerbaijão tem negado repetidamente qualquer intenção de prejudicar os armênios. O país, de maioria muçulmana, afirmou que os armênios – de religião cristã – podem partir se assim desejarem. Evacuações médicas do enclave separatista são esperadas para este domingo.

O êxodo de um número tão grande de pessoas poderá também alterar o delicado equilíbrio de poder nesta região montanhosa do Sul do Cáucaso, povoada por diversos grupos étnicos e atravessada ​​por oleodutos e gasodutos. O local é palco de uma luta de influência entre a Rússia, os Estados Unidos, a Turquia e o Irã.

No seu discurso, o primeiro-ministro armênio também anunciou uma mudança de aliança, virando as costas a Moscou após a invasão de Nagorno-Karabakh. Ele descreveu as atuais alianças do seu país como "ineficazes", numa alusão às suas relações com Moscou, herdadas da época em que a Armênia fazia parte da União Soviética.

“Os sistemas de segurança externa em que a Armênia está envolvida revelaram-se ineficazes na proteção da sua segurança e dos seus interesses”, declarou Pashinyan, enfraquecido após a invasão, contra a qual não reagiu.

"A Armênia nunca renunciou às suas obrigações nem traiu os seus aliados. Mas a análise da situação mostra que os sistemas de segurança e os aliados em quem confiamos há muito tempo se propuseram a tarefa de mostrar a nossa vulnerabilidade e a incapacidade do povo armênio de ter um Estado independente", acrescentou.

Papel da Rússia

A Rússia é central neste conflito entre a Armênia e o Azerbaijão: foi a Rússia, afirmando o seu papel como potência regional, que patrocinou o acordo de cessar-fogo que pôs fim às hostilidades anteriores, em 2020.

Moscou enviou forças de paz russas para Nagorno-Karabakh, o que não impediu a invasão relâmpago do enclave pelas tropas de Baku esta semana.

"Há aí um jogo geopolítico. Uma pequena força russa de manutenção da paz foi criada em Karabakh em 2020" pela Rússia "que sempre oscilou e manipulou os dois campos", sublinha Thomas de Waal, do Carnegie Europe Center, numa análise publicada esta semana. Mas, com o ataque lançado pelo Azerbaijão, “a impressão de que tinha havido um acordo entre Moscou e Baku foi reforçada”, acrescenta, avaliando que a Rússia puniu Pashinian pela sua “inclinação pró-ocidental” cada vez mais acentuada.

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