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Após nova manifestação contra o Islã na Suécia, embaixada do país é incendiada em Bagdá

A embaixada de Suécia em Bagdá foi incendiada nesta quinta-feira (20) antes do amanhecer (hora local), em um movimento organizado por partidários do turbulento líder religioso Moqtada al-Sadr. O ataque aconteceu antes de uma manifestação na capital Estocolmo, em que um refugiado iraquiano havia ameaçado queimar um exemplar do Alcorão, em frente à embaixada do Iraque.

Manifestante segura foto de Moqtada al-Sadr em ataque que incendiou a embaixada da Suécia em Bagdá.
Manifestante segura foto de Moqtada al-Sadr em ataque que incendiou a embaixada da Suécia em Bagdá. REUTERS - AHMED SAAD
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O ataque à embaixada em Bagdá aconteceu em retaliação à liberação, por parte da polícia sueca, de uma manifestação, em Estocolmo, nesta quinta-feira (20). O organizador do ato, o refugiado iraquiano Salwan Momika, planejava queimar uma cópia do Alcorão, bem como a bandeira iraquiana em frente à embaixada do país.

Autoridades suecas consideraram que "os riscos de segurança" ligados à queima do Alcorão "não são de natureza a proibí-la". Além disso, não há lei contra a blasfêmia no país. O governo sueco condena tais atos, que considera islamofobia, mas insiste que os incidentes fazem parte da liberdade de expressão, protegida pela Constituição do país.

Momika pisoteou o livro sagrado do Islã diversas vezes, mas acabou não ateando fogo ao Alcorão, como havia prometido. Ele já havia queimado algumas páginas de uma cópia do livro no dia 28 de junho em frente à maior mesquita de Estocolmo durante o dia do Eid al-Adha, feriado comemorado pelos muçulmanos em todo o mundo. Este primeiro incidente levou os apoiadores do líder religioso Moqtada al-Sadr a invadir a embaixada sueca em Bagdá, em 29 de junho. Eles entraram e ficaram lá por cerca de 15 minutos, gesto que provocou uma série de condenações internacionais.

Atos com a queima de exemplares do Alcorão já aconteceram duas vezes na Suécia só este ano e são frequentes em outros países europeus, muitas vezes por iniciativa de movimentos de extrema-direita.

Funcionários em segurança

Antes do amanhecer ainda era possível ver a fumaça que saía do prédio da embaixada sueca em Bagdá. Vários caminhões da defesa civil estiveram no local para apagar o fogo. Usando canhões de água, as forças de segurança fortemente mobilizadas perseguiram os manifestantes com bastões elétricos para afastá-los do local e forçá-los a dispersar. Eles responderam atirando pedras. Durante a noite, os manifestantes brandiam cópias do Alcorão e fotos de Mohamed al-Sadr, um influente líder religioso xiita e pai de Moqtada al-Sadr.

O Ministério das Relações Exteriores da Suécia afirmou que os funcionários da embaixada estão "seguros". “Estamos cientes da situação. Nossa equipe da embaixada está segura e o ministério está em contato regular com eles”, disse o órgão por meio de um e-mail.

“Estamos mobilizados hoje para denunciar a queima do Alcorão, que é só amor e fé”, disse um manifestante em Bagdá. “Exigimos do governo sueco e do governo iraquiano que cesse esse tipo de iniciativa”, insistiu. “Não esperamos pela manhã, entramos de madrugada, incendiamos a embaixada sueca”, disse outro jovem manifestante, antes de entoar “Moqtada, Moqtada, Moqtada”, em nome do líder religioso. Falando sob condição de anonimato, o manifestante disse que "os filhos da corrente sadrista (apoiadores de al-Sadr)" agiram após a autorização dada uma vez mais a Salwan Momika "para queimar o Alcorão" na Suécia.

“Investigação urgente”

O Ministério das Relações Exteriores do Iraque condenou "nos termos mais severos" o incêndio na embaixada sueca em Bagdá, pedindo às forças de segurança que abram uma "investigação urgente", segundo um comunicado à imprensa. "O governo iraquiano instruiu os serviços de segurança a realizar uma investigação urgente e tomar todas as medidas necessárias para esclarecer as circunstâncias do incidente e identificar os manifestantes para responsabilizá-los segundo a lei", de acordo com o comunicado.

Já a Suécia anunciou a convocação do encarregado de negócios iraquiano. "O que aconteceu é totalmente inaceitável e o governo condena esses ataques nos termos mais fortes possíveis", disse o ministro das Relações Exteriores, Tobias Billström, em comunicado. "As autoridades iraquianas têm uma clara obrigação de proteger as missões diplomáticas e os funcionários conforme a Convenção de Viena", reforçou Billström. “É óbvio que as autoridades iraquianas falharam seriamente nas suas responsabilidades”, acrescentou.

Embaixadora é expulsa do Iraque

O primeiro-ministro iraquiano ordenou a expulsão da embaixadora sueca em Bagdá. Mohamed Chia al-Soudani, "pediu à embaixadora sueca para deixar o território iraquiano", informou seu gabinete em um comunicado, acrescentando que o encarregado de negócios iraquiano em Estocolmo havia sido chamado de volta.

Esta decisão surge na sequência dos "repetidos incidentes de profanação do Alcorão Sagrado" com autorização do governo sueco, "insultos a santuários islâmicos e queima da bandeira iraquiana", segundo a mesma fonte.

Além disso, o presidente da Autoridade Iraquiana de Mídia e Telecomunicações, Ali Al-Mouayad, "suspendeu a licença de exploração da empresa sueca Ericsson em território iraquiano", segundo um comunicado de imprensa, justificando esta decisão com a "permissão dada pelo governo sueco de queimar o Alcorão e a bandeira iraquiana".

(Com AFP)

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