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Rússia ficará "mais forte" após rebelião do grupo Wagner, diz Lavrov

Ataques de drones de origem desconhecida atingiram, durante a madrugada desta sexta-feira (30), uma base aérea no leste da Líbia, onde se encontravam mercenários do grupo paramilitar russo Wagner. Uma semana após a tentativa de rebelião no país liderada por Yevgeny Prigozhin, o Kremlin afirma que a Rússia sairá fortalecida desse episódio.

A Rússia será "mais forte" após o motim frustrado do grupo paramilitar Wagner, que abalou o Kremlin na semana passada, afirmou nesta sexta-feira o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
A Rússia será "mais forte" após o motim frustrado do grupo paramilitar Wagner, que abalou o Kremlin na semana passada, afirmou nesta sexta-feira o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. AFP - ALEXANDER NEMENOV
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De acordo com o relato de uma fonte que pediu anonimato, drones "de origem desconhecida atingiram a base aérea de al-Kharrouba, localizada  a150 quilômetros a sudeste de Benghazi, no leste do país, onde estariam integrantes do grupo Wagner". Os ataques não causaram vítimas, acrescentou.

O governo da Líbia negou qualquer envolvimento em ataques de drones contra uma base usada pelo grupo paramilitar russo Wagner, mas sites de notícias locais atribuem o ataque às Forças Armadas do governo de Trípoli reconhecidas pela ONU, mas cuja legitimidade é contestada pelo campo rival, no leste da Líbia. 

"Estamos surpresos com a informação sobre o ataques efetuados pelos nossos aviões contra uma base no leste da Líbia", indicou o ministério da Defesa do governo de unidade nacional. "Respeitamos o cessar-fogo assinado em outubro de 2020", acrescentou o comunicado.

Crise política

A Líbia passa por uma grande crise política desde a queda do regime de Muammar Kadafi, em 2011. O país enfrenta as consequências das divisões entre o Oriente e o Ocidente e a interferência estrangeira.

De abril de 2019 a junho de 2020, o marechal Khalifa Haftar, o homem forte do leste da Líbia, usou combatentes do Chade, do Sudão, da Nigéria e Síria, mas especialmente mercenários de Wagner, em sua tentativa fracassada de tomar a capital Trípoli.

Desde então, centenas de integrantes do grupo Wagner permaneceram ativos no leste da Líbia, especialmente nas áreas dos terminais de petróleo, e no sul do país, após a partida de parte dos integrantes do grupo para o Mali ou para a Ucrânia, onde passaram a lutar ao lado do Exército russo.

Rússia saíra “fortalecida”

Para o ministro das Relações Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o país ficará "mais forte" depois da fracassada rebelião do grupo Wagner, que abalou o poder russo na semana passada. "A Rússia sempre emergiu mais sólida, mais forte, de todas as dificuldades. Será o caso novamente desta vez. Já ​​sentimos que este processo começou", disse Lavrov em entrevista coletiva em Moscou, nesta sexta-feira.

Quanto ao futuro do grupo paramilitar Wagner na África, a presença da milícia vai depender dos "países em causa", disse nesta sexta-feira o chefe da diplomacia russa. "O destino desses acordos entre os países africanos e o Grupo Wagner é antes de tudo uma questão para os governos dos países envolvidos decidirem se devem ou não buscar essa forma de cooperação", disse Lavrov.

A República Centro-Africana, principal país africano onde o grupo Wagner está baseado, disse, na segunda-feira, que a Rússia continuará a operar no país, com ou sem o grupo paramilitar.

A França, por sua vez, pediu na quarta-feira a todos os países envolvidos que se dissociem da milícia Wagner. Paris disse estar pronta para impor sanções adicionais pelos crimes que este grupo é acusado de cometer.

As atividades do grupo Wagner também serão alvo de novas sanções americanas, principalmente na República Centro-Africana, segundo Washington.

Rastros dos motim

Enquanto isso, a população russa ainda se depara com crateras de bombas, casas danificadas e moradores em estado de choque após a rebelião armada dos mercenários de Wagner, que deixou sua marca no interior da Rússia, a centenas de quilômetros do front ucraniano.

No sábado (24), por ordem de seu líder Yevgeny Prigozhin, colunas de veículos do grupo Wagner deixaram sudoeste da Rússia em direção a Moscou. Objetivo: derrubar o comando militar acusado de mentiras e de incompetência na operação na Ucrânia.

O motim foi uma das piores ameaças enfrentadas por Vladimir Putin em mais de duas décadas no poder. Após 24 horas de negociações, Prigozhin ordenou a seus homens que voltassem. A ordem foi seguida de um exílio em Belarus.

Durante esta ação relâmpago, confrontos em circunstâncias ainda obscuras eclodiram entre os milicianos Wagner e o Exército regular na região de Voronezh, 450 quilômetros ao sul da capital russa, uma área agrícola conhecida por sua terra fértil.

Na saída da cidade, grandes crateras de bombas são visíveis perto de uma estrada, cuja grade de proteção foi arrancada. Árvores e um poste foram derrubados pela explosão.

Yevgeny Prigozhin afirma que o grupo Wagner abateu vários aviões do Exército russo e que dois de seus homens foram mortos, enquanto vários ficaram feridos. Putin admitiu a morte de vários pilotos, sem dar números.

Na vila de Elizavetovka, também na região de Voronezh, 19 casas foram danificadas por tiros.

"Houve tiros e granadas. Graças a Deus era muito cedo (sábado) e as pessoas estavam dormindo", disse um morador, sob condição de anonimato.

Na capital regional, Voronezh, um depósito de combustível pegou fogo perto de uma importante via pública e as marcas ainda são visíveis na cidade de um milhão de habitantes, onde tanques carbonizados permaneciam nas ruas, na última terça-feira.

Moradores da região estão divididos. Alguns elogiam a ação do Kremlin e acreditam que a crise está resolvida. Outros, contudo, ainda não se sentem seguros e até apoiam o motim de Yevgeny Prigozhin. "Ele está certo. Todos o apoiam, mas têm muito medo de dizer isso", afirmou um morador de Voronezh, também sob condição de anonimato por medo da repressão que está atingindo massivamente os críticos do poder. “Falamos no carro, nas cozinhas, mas ninguém fala nada (em público), nem na Internet, porque têm muito medo. Dá para ir para a prisão por isso”, sublinha.

“A incerteza permanece, a desconfiança permanece em relação ao que está acontecendo”, diz Inna, uma psicóloga aposentada de 60 anos. Para ela, não há "nada de reconfortante" apesar do fim oficial da crise.

Já outra moradora disse à AFP ser totalmente contrária a uma intervenção militar na Ucrânia. "Eu só quero paz. Acho que é culpa de Putin. Ele trouxe à tona toda a escuridão."

 

(com informações da AFP)

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