Acessar o conteúdo principal

Assassinato de blogueiro pró-Kremlin evidencia resistência a Putin dentro da Rússia

O Kremlin anunciou nesta segunda-feira (3) ter detido uma mulher suspeita de estar envolvida no assassinato do blogueiro militar que usava o pseudônimo Vladlen Tatarsky, morto em decorrência da explosão de uma bomba em um café em São Petersburgo, no domingo (2). Especialista ouvido pela RFI afirma que o episódio demonstra “a presença de uma resistência ao regime de Vladimir Putin dentro da Rússia”.   

Um retrato do blogueiro militar russo conhecido pelo pseudônimo de Vladen Tatarsky, morto em uma explosão em um café em São Petersburgo, em 2 de abril de 2023.
Um retrato do blogueiro militar russo conhecido pelo pseudônimo de Vladen Tatarsky, morto em uma explosão em um café em São Petersburgo, em 2 de abril de 2023. REUTERS - ANTON VAGANOV
Publicidade

O blogueiro, que tinha mais de 560 mil seguidores no Telegram, dava forte apoio a Moscou na guerra da Ucrânia, ao mesmo tempo em que criticava o Estado-Maior russo.

O diretor de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris) e doutor em Estudos Eslavos da Universidade de Paris Nanterre, Lukas Albin, destaca que Tatarsky nasceu em Donestsk, república separatista ao leste da Ucrânia, onde esteve preso por assalto a banco. “Em 2014, após a anexação da Crimeia, ele fugiu da prisão e passou a ter espaço na mídia russa, e se tornou um blogueiro militar que difundia infirmações pró-Moscou nas regiões separatistas e na Rússia”, afirma o especialista. Essa atuação, contudo, fez de Tatarsky um alvo para forças contrárias a Putin, tanto na Rússia como fora do país, ele acrescenta.         

Nesta segunda-feira, a Rússia acusou a Ucrânia de ter organizado, com a cumplicidade de apoiadores do opositor russo detido Alexei Navalny, o atentado que matou o famoso blogueiro e defensor fervoroso da ofensiva contra Kiev. "Foi estabelecido que o ato terrorista cometido em 2 de abril em São Petersburgo (...) foi planejado pelos serviços especiais ucranianos, que recrutaram agentes entre os que colaboram com o chamado Fundo Anticorrupção Navalny", afirmou o comitê antiterrorismo russo, citando o nome da principal suspeita detida, Daria Trepova. Ela estava numa lista de pessoas procuradas por Moscou.

O blogueiro, cujo nome verdadeiro era Maxim Fomin, morreu no atentado no café em São Petersburgo onde discursava em uma conferência de uma organização de apoio à ofensiva russa na Ucrânia, a Cyber Z Front. O café pertence ao fundador do grupo paramilitar Wagner, Yevgueni Prigozhin, que informou ter disponibilizado o local para a organização do evento. O balanço atualizado divulgado pelas autoridades locais afirma que o ataque deixou 32 pessoas feridas, oito delas em estado grave.

 

Policiais no local da explosão em que o blogueiro militar russo Vladlen Tatarsky (nome real Maxim Fomin) foi morto, no dia anterior, em São Petersburgo, Rússia, 3 de abril de 2023.
Policiais no local da explosão em que o blogueiro militar russo Vladlen Tatarsky (nome real Maxim Fomin) foi morto, no dia anterior, em São Petersburgo, Rússia, 3 de abril de 2023. REUTERS - ANTON VAGANOV

 

A polícia russa divulgou um vídeo em que Trepova, de 26 anos, admite ter levado ao evento uma estatueta com uma bomba escondida, cuja explosão causou a morte do blogueiro militar. Em 2022, a jovem já havia passado dez dias presa por protestar contra a ofensiva russa na Ucrânia. De acordo com o moscou, ela se recusa a dizer a origem do explosivo e não fez nenhum comentário sobre a organização de Alexei Navalny. Adversário do Kremlin, Navalny está preso há mais de dois anos. Ele cumpre pena de nove anos de prisão por fraude e está sendo processado por extremismo.

Terrorismo interno

Um funcionário da presidência ucraniana, Mykhaïlo Podoliak, negou, por meio do Twitter, qualquer envolvimento no caso, acreditando que se tratava de "terrorismo interno" devido a rivalidades dentro do regime russo.

Para o porfessor Lukas Albin, o atentado pode ser considerado uma continuação do que aconteceu à filha do ideólogo russo e próximo de Putin, Alexander Dugin, em agosto do ano passado. A jornalista e cientista política Daria Dugina, que também demonstrava apoio aberto à ofensiva russa na Ucrânia, foi assassinada na explosão de um carro a cerca de 40 km de Moscou.

Hoje, se a Rússia faz a guerra no front, na Ucrânia, o país começa a pagar também pelas consequências de seus atos em seu próprio território, o que não era o caso no início da guerra”, comenta Albin. “Elementos permitem dizer que existe, na Federação russa, no seu território, uma resistência ao regime de Vladimir Putin”, conclui.  

(Com informações da RFI e da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.