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Ataques em Jerusalém: Israel impõe medidas contra "famílias terroristas"

O gabinete de Segurança de Israel anunciou, na noite de sábado (28) para domingo (29), medidas contra "famílias terroristas" após dois ataques em Jerusalém Oriental, em que um dos ataques matou sete pessoas.

Policiais israelenses protegem o local do tiroteio em Jerusalém Oriental, sábado, 28 de janeiro de 2023.
Policiais israelenses protegem o local do tiroteio em Jerusalém Oriental, sábado, 28 de janeiro de 2023. AP - Mahmoud Illean
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O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu havia prometido na noite de sábado uma resposta "forte" e "sólida" a esses ataques perpetrados por dois palestinos de Jerusalém Oriental, parte da Cidade Santa ocupada e anexada por Israel. Sete civis, incluindo um casal e um menino de 14 anos, morreram em um dos atentados, na noite de sexta-feira (27), em Neve Yaacov.

Ao final de uma reunião, na noite deste sábado, o gabinete de Segurança israelense anunciou a revogação dos direitos à Segurança Social de "famílias de terroristas que apoiam o terrorismo". O gabinete também anunciou que um projeto de lei que visa revogar as "carteiras de identidade israelenses" para esta mesma categoria de famílias será discutido na segunda-feira (30) no Conselho de Ministros.

Ministros e oficiais de segurança decidiram isolar imediatamente a casa da família do autor do ataque à sinagoga no bairro de Neve Yaacov. O procedimento já está em andamento na manhã deste domingo e a casa deve ser destruída em seguida, apurou Michel Paul, correspondente da RFI em Jerusalém.

Netanyahu voltou ao poder em dezembro com o apoio de partidos judeus de extrema direita e ultraortodoxos, e essas medidas provavelmente se aplicarão principalmente aos palestinos com nacionalidade israelense (árabes israelenses, de acordo com a classificação dada por Israel) e palestinos de acordo com o estatuto de residente de Jerusalém Oriental.

Ataques não reivindicados

Na noite de sexta-feira, um palestino de 21 anos atirou contra pessoas que passavam perto de uma sinagoga no bairro de assentamento de Neve Yaacov, matando sete pessoas antes de ser baleado. Na manhã de sábado, um palestino de 13 anos atirou e feriu dois israelenses em Silwan, a poucos passos das muralhas da Cidade Velha. Nenhum desses dois ataques foi reivindicado.

Três das vítimas do tiroteio em Neve Yaacov foram enterradas durante a noite de sábado para domingo: Asher Natan, um adolescente de 14 anos, e Eli e Natalie Mizrahi, um casal baleado enquanto tentava ajudar as primeiras vítimas do ataque, de acordo com o depoimento de um vizinho.

Este novo episódio de violência ocorre em um cenário de escalada repentina após a morte quinta-feira (26) de nove palestinos, incluindo combatentes e um idoso de 60 anos, em uma invasão do exército israelense em Jenin, na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967.

As forças israelenses foram colocadas em alerta máximo, e o exército anunciou que fortalecerá suas tropas na Cisjordânia, já que os pedidos de contenção se multiplicaram no exterior.

Civis armados

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, é esperado em Jerusalém e Ramallah na segunda (30) e terça-feira (31) para discutir medidas para a desescalada de violência.

O gabinete de Segurança de Israel também decidiu facilitar a obtenção de licenças para armas. "Quando os civis têm armas, eles podem se defender", declarou o ministro de extrema direita da Segurança Interna, Itamar Ben Gvir.

No bairro palestino de Silwan, o agressor, armado com uma pistola, feriu um pai e seu filho soldado, de 47 e 23 anos respetivamente, de acordo com informações da polícia e os serviços de salvamento, antes de ser ferido por civis armados e depois detido.

O ataque a Neve Yaacov, perpetrado na noite do Dia Mundial da Memória do Holocausto, gerou indignação na Europa e nos Estados Unidos, além da condenação de governos árabes ligados a Israel, como Egito, Jordânia e Emirados Árabes Unidos.

A imprensa israelense e palestina identificaram o agressor como Khayri Alqam, alguém amplamente elogiado em nas redes sociais em língua árabe.

Comunidade internacional

Mohammad Hassouneh, 35, mora em Ramallah, e já teme a repressão que se aproxima, consequência direta dos últimos ataques.

"Somos nós que pagaremos o preço: Israel precisará derramar mais sangue após este ataque. E a única forma de parar tudo isso é acabar com esse apartheid em que vivemos. O que você espera de uma criança que viveu toda sua vida sob ocupação? Você acha que ela vai lhe trazer flores? Não. Elas nem sabem como são as flores", ele declara à RFI.

Hassouneh evoca o papel da imprensa e da comunidade internacionais, "que só se interessam pela situação quando os israelenses são mortos" e cita os cerca de 30 palestinos, incluindo civis, que morreram desde o início do ano.

"Se você comparar e olhar os números já é o suficiente para entender a realidade. O governo israelense pode matar quantos palestinos quiser. Em silêncio e com total impunidade. Ninguém os impedirá, ninguém os punirá e ninguém fará um movimento contra Israel. É realmente devastador. Acho que as vidas humanas deveriam ser iguais, mas não vejo isso", ele continua.

Ele deixa claro que sua esperança não está nem na comunidade internacional nem nos governos, mas na sociedade civil. “Nós, os palestinos, é isto que nos mantém vivos”, conclui Hassouneh.

ONU preocupada

Chamando o ataque de um crime "particularmente hediondo", o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar "profundamente preocupado com a escalada da violência". A Autoridade Palestina se absteve de condenar o incidente e julgou que Israel era "totalmente responsável pela perigosa escalada".

A operação militar israelense em Jenin, na Cisjordânia, na quinta-feira, foi apresentada por Israel como uma ação preventiva contra uma célula do grupo armado palestino Jihad Islâmica. A noite seguinte foi marcada por disparos de foguetes de Gaza contra Israel e ataques israelenses neste microterritório. Não houve vítimas.

O deputado israelense da oposição, Mickey Levy, afirmou temer “o que aconteceu há 20 anos [começar a] acontecer agora” em uma referência à Segunda Intifada, a revolta palestina de 2000 a 2005.

Em Tel Aviv, algumas dezenas de milhares de pessoas, muito menos do que nos dois sábados anteriores, se manifestaram contra o governo e seu contestado projeto de reforma do sistema judiciário. Os manifestantes marcaram um minuto de silêncio em memória das vítimas de Neve Yaacov.

(Com informações da AFP)

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