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Central nuclear ucraniana segue desconectada; AIEA quer acelerar missão internacional

A central nuclear ucraniana de Zaporíjia, ocupada pelas tropas russas e alvo de bombardeios recentes, permanece desconectada nesta sexta-feira (26) da rede elétrica nacional, informou o operador de energia da Ucrânia ( Energoatom), que culpou "os invasores" por essa situação. Em entrevista à RFI, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, disse que “é preciso estabilizar a situação” para afastar os riscos de uma catástrofe nuclear no local.

Usina nuclear de Zaporíjia, ocupada pela Rússia, é desligada de rede elétrica da Ucrânia
Usina nuclear de Zaporíjia, ocupada pela Rússia, é desligada de rede elétrica da Ucrânia REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO
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Em uma mensagem no Telegram, Energoatom declarou nesta manhã que está preparando o restabelecimento da conexão da central, a maior da Europa, à rede elétrica ucraniana. A companhia informou que uma linha já foi consertada e assegurou que os equipamentos e os sistemas de segurança da instalação funcionam normalmente.

A usina foi “totalmente" desligada na tarde de quinta (25). "Os dois reatores em funcionamento da central foram desconectados da rede. Em consequência, as ações do invasor causaram a desconexão total [da central de Zaporíjia] da rede elétrica, pela primeira vez em sua história", assinalou a operadora, na quinta.

A AIEA afirmou que foi "informada pela Ucrânia" sobre a perda de conexão com a rede nacional, mas indicou que a usina "permanece conectada" através da "central térmica vizinha, que pode fornecer eletricidade de emergência”.

Missão internacional

De passagem por Paris, onde esteve para se encontrar com o presidente francês, Emmanuel Macron para preparar a missão internacional ao local, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, aproveitou o incidente para insistir na urgência de uma inspeção na central: "Não podemos perder mais tempo”.

“É uma missão complexa. Primeiro, pelo simples fato de chegar ao local, que não será fácil. É uma zona de guerra”, disse, em entrevista exclusiva à RFI. “Depois, no âmbito técnico, precisamos definir os parâmetros da missão e, eventualmente, estabelecer uma presença contínua da agência no local. Temos que tentar restabelecer os sistemas de transmissão de dados que nos chegam a Viena [sede da AIEA] e tentar estabilizar um pouco a situação na instalação”, defendeu.

Diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, esteve em Paris para preparar a missão internacional da agência à Ucrânia.
Diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, esteve em Paris para preparar a missão internacional da agência à Ucrânia. © iaea.org

Sobre o risco de um novo acidente nuclear, já que a central é visada desde o início do conflito, Grossi tentou transmitir segurança.

“É uma guerra de tipo convencional, que lembra muito a Segunda Guerra Mundial, com tanques, infantaria. Não imaginávamos isso – pensávamos mais na ameaça de uma guerra cibernética ou mísseis”, reconhece. “Mas a agência é um reservatório de talentos e especialistas internacionais. Temos a ‘crème de la crème’ dos especialistas mundiais e em segurança nuclear. Portanto, devo dizer que mesmo se não esperávamos tais eventos, estamos preparados”, garantiu.

Desvio da energia para a Crimeia

As autoridades ucranianas acreditam que Moscou se apoderou da usina nuclear para desviar energia para a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Os Estados Unidos, por sua vez, condenaram nesta quinta qualquer tentativa russa deste tipo. O presidente Joe Biden exigiu que Moscou devolva o controle da central a Kiev.

"A eletricidade que [essa central] produz pertence legitimamente à Ucrânia e qualquer tentativa de desconectar a usina da rede elétrica ucraniana para direcioná-la para áreas ocupadas [pela Rússia] é inaceitável", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.

A Rússia ocupa o complexo desde o início de março, poucos dias depois de iniciar a invasão da Ucrânia, uma guerra que já deixou milhares de mortos e milhões de deslocados. Nas últimas semanas, Moscou e Kiev se acusaram mutuamente de bombardear a central, que conta com seis reatores e uma capacidade total de 6.000 megawatts.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, alertou nessa quinta-feira à noite sobre o perigo das ações russas na central. "A Rússia colocou os ucranianos e todos os europeus a um passo do desastre nuclear".

Bombardeio de um trem

Na quarta-feira (24), o bombardeio russo de um trem na estação de Chaplino (centro) matou 25 civis, segundo o último balanço oficial ucraniano. A Rússia afirmou que havia atacado "um trem militar" e eliminado "mais de 200 militares da reserva das Forças Armadas ucranianas".

O ataque coincidiu com o 31º aniversário da independência da Ucrânia, uma ex-república soviética. Na segunda-feira (22), a Ucrânia reconheceu a morte de cerca de 9 mil soldados desde o início do conflito, um balanço que, na realidade, poderia ser muito superior, segundo os observadores.

Do lado russo, cerca de 80 mil militares teriam morrido ou ficado feridos, de acordo com as estimativas feitas no início de agosto por um funcionário do Departamento de Defesa americano. O presidente russo Vladimir Putin firmou um decreto nessa quinta-feira para aumentar em 10% o número de integrantes das Forças Armadas. Assim, a partir de janeiro, o exército russo deverá ter 2 milhões de integrantes, incluindo 1,15 milhão de soldados.

Bombas de fragmentação

Desde a retirada das forças russas dos arredores de Kiev no fim de março, a maioria dos combates se concentra no leste, onde Moscou vem ganhando terreno, e no sul, onde as tropas ucranianas afirmam ter lançado várias contraofensivas. A Rússia também realiza bombardeios em outras regiões com mísseis de longo alcance. Contudo, Kiev e as áreas próximas da capital não costumam ser atingidas.

A rede Coalizão contra as Bombas de Fragmentação (CMC, na sigla em inglês) denunciou nessa quinta, em seu relatório anual, que Moscou utilizou de forma maciça bombas de fragmentação na Ucrânia, causando centenas de vítimas civis e danificando residências, escolas e hospitais.

Com informações da AFP

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