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“Escravidão faz mal ainda hoje”: cresce debate sobre símbolos da colonização portuguesa

Nesta semana, a pichação do emblemático monumento lisboeta Padrão dos Descobrimentos, que celebra as navegações coloniais portuguesas, chamou a atenção do mundo para o debate sobre o tratamento da história colonial de Portugal. Enquanto o país europeu agia rapidamente para apagar o protesto que criticava as marcas deixadas por seu período colonial, em Cabo Verde, um grupo entregou ao parlamento um pedido de retirada de todos os “monumentos pró-esclavagistas e coloniais” do país.

Padrão dos Descobrimentos foi vandalizado em Lisboa em 8 de Agosto de 2021.
Padrão dos Descobrimentos foi vandalizado em Lisboa em 8 de Agosto de 2021. LUSA - ANTÓNIO COTRIM
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Com informações de Miguel Martins e Odair Santos, da RFI

À beira do rio Tejo, na zona histórica de Lisboa, e a poucos metros da Torre de Belém, o monumento, que representa uma caravela com 32 navegantes, apareceu vandalizado no último domingo. Em letras azuis e vermelhas, ao longo de 20 metros, uma frase em inglês dizia: "Navegando cegamente por dinheiro, a humanidade se afoga em um mar escarlate".

A frase de protesto teria sido pichada por uma turista francesa, que deixou o território português na sequência. A estátua já foi limpa, mas a frase reavivou o debate sobre a revisão dos símbolos históricos feita no país.

Em fevereiro, um deputado do Partido Socialista, Ascenso Simões, já havia defendido a destruição do Padrão dos Descobrimentos, peça criada durante a ditadura salazarista. O tema causou furor, e o monumento foi defendido por diversos políticos e personalidades portuguesas.

Com o novo ataque, diversos políticos da direita vieram a público denunciar o que chamam de “terrorismo cultural”.

Para o sociólogo João Teixeira Lopes, as reações mostram um debate justo que precisa ser feito. “É interessante verificar que há hoje uma intensa disputa política, simbólica, sobre aquilo que são os símbolos do nosso passado e da nossa história [de Portugal]. E isto leva-nos a perceber que a ideia que nós temos do passado, a memória que construímos sobre ele, é alvo de visões muito diferentes”, sublinha.

Genocídio no Brasil

“Ao contrário de tudo o que foi dito, Portugal não foi um país de tão brandos costumes. Foi um país que, ao colonizar, praticou atos de enorme violência, massacrou, dizimou populações, como no Brasil”, lembra.

E foi contra uma homenagem a um dos colonizadores do Brasil que ocorreu em 2020 outro ataque. A estátua do Padre Antonio Vieira, conhecido por sua evangelização de indígenas e pelo uso do trabalho escravo dessas comunidades, foi pichada com a palavra “descoloniza”.

Após o ato, o monumento foi limpo e continua no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, mostrando o padre ao lado de três crianças.

Cabo Verde quer retirada de símbolos esclavagistas

Se no país europeu, o debate ainda engatinha, em Cabo Verde, antiga colônia portuguesa, um grupo apresentou à Assembleia Nacional uma petição para “Remoção de monumentos pró-esclavagistas e coloniais”.

O documento, com mais de duas mil assinaturas, foi promovido por Gilson Varela Lopes, que pede especificamente a retirada das estátuas de Diogo Gomes, tratado como o descobridor português da ilha, mas que também foi “traficante de escravos”.

“Neste momento estamos na fase de contestação racial e de reclamação por justiça, porque a escravatura não fez só mal na altura, ceifou a vida de cerca de 8 milhões de pessoas e ainda hoje todos nós africanos sofremos com algum estigma e penso que faz todo sentido, pelo menos lançar o debate sobre descobridores que foram também esclavagistas”, defende Lopes.  

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