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Turquia/Grupo Estado Islâmico

Tiroteio entre policiais e jihadistas na Turquia deixa nove mortos

Sete supostos membros do grupo Estado Islâmico (EI) e dois policiais morreram durante um tiroteio no centro de Diyarbakir, principal cidade da minoria curda no sudeste da Turquia. Os confrontos aconteceram na madrugada desta segunda-feira (26), durante uma operação da polícia, que invadiu diversas casas onde os extremistas estariam escondidos.

Polícia especial participa de operação em Diyarbakir, na Turquia, nesta segunda-feira
Polícia especial participa de operação em Diyarbakir, na Turquia, nesta segunda-feira REUTERS/Sertac Kayar
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De acordo com a agência governamental Anatólia, os dois policiais mortos foram vítimas de armadilhas com explosivos montadas pelos jihadistas. Cinco outros policiais foram feridos e 12 pessoas foram presas, nesta operação que o vice-premiê Numan Kurtulmus classificou como a "neutralização de uma importante célula do Daesh (sigla em árabe para designar a organização)". De acordo Kurtulmus, o governo busca agora estabelecer as conexões desta unidade com células doEI em outras cidades turcas.

Essa é a primeira vez que as forças de segurança turcas atacam o grupo Estado Islâmico dentro de seu território. Até agora, todas as operações internas do governo de Recep Tayyip Erdogan (AKP, de direita) visaram o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Tensão pós-atentado

O tiroteio acontece em um contexto de tensão, gerado pelo atentado que, em 10 de outubro, causou 102 mortes no coração da capital. Esse duplo ataque a bomba no meio de uma manifestação contra a ofensiva do governo ao PKK foi rapidamente atribuído pelas autoridades ao grupo Estado Islâmico, ainda que não tenha sido reivindicado pelos jihadistas.

Isso não impediu que Erdogan aproveitasse o caso ("um ato terrorista coletivo", nas palavras dele) para evocar uma improvável conspiração entre os jihadistas, os rebeldes do PKK, as milícias curdas que atuam na Síria (YPG e YPJ) e os serviços de inteligência de Damasco. Mas a única coisa que esses grupos têm em comum é que todos são inimigos de Erdogan.

Os serviços de segurança turcos ainda buscam quatro pessoas que estariam envolvidas no atentado de Ancara ou participariam do planejamento de outros ataques. Mas, até agora, o único suspeito identificado formalmente é Yunus Emre Alagoz, irmão do suposto autor do ataque que matou 34 voluntários de esquerda, que se preparavam para uma missão de reconstrução de Kobani, cidade reconquistada ao grupo Estado Islâmico pelas brigadas YPG e YPJ, ligadas ao PKK.

Depois deste atentado de 20 de julho na cidade de Suruç, os independentistas curdos, que denunciavam uma colaboração do presidente Erdogan com os jihadistas, romperam uma trégua que durava desde março de 2013. Em represália, o governo declarou guerra em duas frentes: contra o grupo Estado Islâmico na fronteira síria e contra o PKK, internamente. Mas, na prática, atacou quase exclusivamente os curdos.

O próprio PKK suspendeu novamente as hostilidades logo depois do ataque contra Ancara, para tentar garantir as eleições legislativas antecipadas marcadas para este domingo. A proximidade do pleito, convocado depois que o primeiro ministro conservador Ahmet Davutoglu (AKP) falhou em formar um governo de coalizão, aumenta ainda mais a tensão.

Projeto político ameaçado

Nas eleições de 7 de junho, a presença parlamentar da sigla governista retrocedeu com a entrada de 13% de deputados da agremiação pró-curda HDP. Sem maioria simples, Erdogan viu naufragar seu projeto de estabelecer o presidencialismo no país.

Por isso, o presidente faz uma campanha agressiva para as eleições antecipadas, acusando quase cotidianamente o HDP de colaborar com "terroristas". A mais recente foi neste domingo, diante de políticos locais na capital: "Se, no 1° de novembro, vocês não derem uma lição aos que se apoiam nesta organização terrorista (o PKK), quando o farão? Eles têm a audácia de falar em paz mas, para eles, a paz é o sangue", disse, em referência ao HDP.

Antes disso, ele já havia sugerido diversas vezes que fosse suspensa a imunidade parlamentar dos deputados pró-curdos e acusado o líder da sigla, Selahattin Demirtas, de ser a face política do PKK. Isso porque o irmão de Demirtas, Nurettin, luta contra o grupo Estado Islâmico no Iraque, ao lado de combatentes do PKK. "Ele é alguém cujo irmão obviamente cresceu nas montanhas", declarou Erdogan no final de setembro, em referência às bases iraquianas da organização curda. "Ele correria para lá se tivesse a oportunidade". Demirtas afirma que não tem notícias de seu irmão e que não sabe sequer se ele está vivo.

Ofensiva jurídica

A ofensiva governista contra o HDP também se estende ao plano jurídico: o líder pró-curdo enfrenta um processo por "perturbar a ordem pública" e "incitar a violência" e pode ser condenado a até 24 anos de prisão. As suspeitas remontam a uma onda de protestos curdos, que terminaram com 31 pessoas mortas.

Dado curioso é que a maioria das vítimas era curda e Selahattin Demirtas foi um dos líderes a fazer um apelo pela paz, quando dois prédios que abrigavam organismos ligados ao HDP foram incendiados na cidade de Gaziantep. Os fatos remontam a outubro de 2014, mas a Justiça turca só se interessou em abrir o processo no início da campanha pelas eleições antecipadas.

No domingo, Erdogan garantiu que, independentemente do resultado das eleições, a ofensiva "contra todas as organizações terroristas continuará". Por organizações terroristas, leia-se o PKK, o EI e a extrema-esquerda turca.

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