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AF447: julgadas na França, Airbus e Airfrance negam responsabilidade por acidente; parentes das vítimas se revoltam

A partir da próxima semana, o tribunal Criminal de Paris dará a palavra aos familiares das vítimas do voo AF447 que caiu no Oceano Atlântico, em 1º de junho de 2009. Alguns pretendem aproveitar para criticar a posição da Airbus e da Air France, empresas que estão respondendo por "homicídio culposo", mais de 13 anos após o acidente do voo Rio-Paris, o pior desastre aéreo da França. Na terça-feira (15) foi encerrada a fase de audiência dos representantes das duas empresas, que não admitiram nenhuma falha e preferiram jogar a culpa sobre a tripulação.

Parte da fuselagem do avião da Air France do voo Rio-Paris recuperada do mar. 14 de junho de 2009.
Parte da fuselagem do avião da Air France do voo Rio-Paris recuperada do mar. 14 de junho de 2009. AFP - EVARISTO SA
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A Airfrance, companhia que operava o voo, foi ouvida na quarta e quinta-feiras (9 e 10) e disse que não tinha nada a se justificar. Durante o interrogatório, o representante da companhia aérea defendeu-se de qualquer culpa, recusando-se, tampouco, a culpar a sua fornecedora Airbus.

“O acidente começa com o congelamento das sondas”, lembrou primeiramente o juiz assessor do caso, um dos três magistrados do tribunal, fazendo circular na sala do tribunal três sondas Pitot, tubos finos de metal que são fixados no exterior da aeronave.  No dia do acidente, desestabilizados pelo congelamento dessas sondas que medem a velocidade da aeronave e, principalmente pelas consequências em cadeia no cockpit, os pilotos do AF447 perderam o controle da aeronave, que atingiu o oceano em menos de cinco minutos.

Christophe Cail, representante da Airbus, defendeu categoricamente, na segunda e terça-feiras (14 e 15), a ausência de responsabilidade do fabricante da aeronave no acidente que causou a morte de 228 pessoas a bordo. "Não estou dizendo que eles são maus pilotos. É a tripulação que não trabalhou bem", disse o ex-piloto de testes e representante da companhia que respondeu por mais de seis horas os questionamentos da justiça.

Durante os meses anteriores, obstruções semelhantes de sondas por cristais de gelo se multiplicaram, quase inteiramente em um único modelo de Pitot, o modelo Thales AA.

Por que a Airbus não fez a substituição dessas sondas nos aviões, aplicando um "princípio da precaução estatística"?, pergunta o magistrado. “Naquela época, não entendíamos o que realmente estava acontecendo”, argumenta Cail, ressaltando que a Airbus havia iniciado uma avaliação com a fabricante das sondas, a Thales. "Antes do acidente, os elementos que tínhamos não nos mostravam nenhum perigo particular, e ainda estamos na fase em que queremos entender", completou.

A fabricante Airbus está sendo processada por ter subestimado a gravidade dessa falha e as suas consequências para os pilotos. A empresa também é acusada de não ter prevenido as companhias aéreas para que treinassem suas tripulações.

Para a Airbus, pelo contrário, havia três "portas de saída" que os pilotos poderiam ter usado para salvar o avião: portanto, não é o dispositivo e seu fabricante que estão em questão. A Airbus também acredita ter "comunicado" amplamente sobre a falha: em sua revista "Safety First", em conferências de segurança e manutenção e durante sessões de treinamento.

"Ações bastante gerais", observa o magistrado: "Não teria sido possível ter uma resposta mais direcionada?", pergunta.

"Não fizemos uma mensagem direcionada sobre isso, exceto para a Air France e Air Caraibes" que haviam questionado a Airbus, admite Cail.

"Você acha que era competência das empresas?", pergunta o juiz.

"Entregamos a Safety First, talvez seja a única forma que temos de ter contato direto com os pilotos. Caso contrário, é para as companhias aéreas que distribuímos a revista. Cabe a elas redistribuírem", resume. "Quando entro em um avião, espero que o piloto saiba administrar essa falha" das sondas. "Acho que teria feito melhor" do que os pilotos, concluiu o representante da Airbus na audiência.

Familiares saem decepcionados

Não satisfeito com a resposta, Alain Jakubowicz, o advogado de dezenas de vítimas, reforça a pergunta: "as sondas de velocidade da aeronave são a causa do acidente?". Para o piloto de testes da Airbus, "a resposta é não. Ninguém pode admitir que um simples congelamento das sondas Pitot causou a queda do avião", responde. “Vamos ser francos", insiste Jakubowicz. O acidente "é devido a um erro do piloto, esta é claramente a sua posição?" Diante de cerca de quarenta famílias, o representante da Airbus responde: "O evento desencadeante é erros de pilotagem".

Ao ouvir o representante da Airbus estimar que as sondas Pitot não foram a causa do acidente e que a culpa seria dos pilotos, Danièle Lamy, presidente da associação de famílias de vítimas "Entraide et Solidarité AF447" se levantou e saiu da sala. “Foi insuportável e eu tive uma reação física de tremores, eu estava com muita raiva de sentir um desprezo total da parte da Airbus em relação às famílias.  

Michel, cuja irmã morreu no acidente, esperava mais explicações. “Nos passam informações técnicas, jogam com as palavras, desviam dos fatos. Não reconhecer hoje que há alguma coisa que aconteceu é cuspir na nossa cara”, diz.

Gilles Lamy, que perdeu um de seus filhos no desastre, diz não se surpreender com a atitude das duas empresas. “Eles estão na negação total. 228 mortos e para eles isso não significa nada. Mas eu não esperada nada diferente dessas pessoas”, afirma.

 

(Com informações da RFI e da AFP)

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