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Especialistas detalham últimos minutos do voo AF447 no 3º dia de julgamento do acidente

No terceiro dia do julgamento por homicídios involuntários da Airbus e da Air France, acusadas pela queda do voo AF447, entre Rio-Paris, nesta quarta-feira (12), quatro especialistas nomeados pela Justiça descreveram os quatro minutos e meio que antecederam a tragédia, ocorrida em 1º de junho de 2009. 

Placa indica local julgamento no acidente "Rio Paris trial AF447", no tribunal de Paris
Placa indica local julgamento no acidente "Rio Paris trial AF447", no tribunal de Paris AP - Michel Euler
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Os engenheiros designados pela Justiça francesa foram encarregados de analisar o FDR (Flight Data Recorder), que traz os parâmetros do voo, e o CVR (Cockpit Voice Recorder), com a gravação do diálogo dos pilotos.

As duas caixas-pretas do A330 foram descobertas quase dois anos após o acidente, em 2011, a 3.900 metros de profundidade no oceano Atlântico.

Após um pedido das famílias das vítimas, que solicitaram a divulgação da conversa da tripulação antes da queda, a Justiça decidiu que o conteúdo sonoro do CVR será revelado na próxima segunda-feira (17). No entanto, essas gravações serão apresentadas apenas aos envolvidos no processo, sem a presença da imprensa ou do público.

O conteúdo escrito do CVR já foi divulgado quase integralmente em 2011 pelo piloto Jean-Pierre Otelli. Ele é o autor do quinto livro da série "Erros de Pilotagem: a queda do voo AF447", publicado em francês. O lançamento da obra, que traz detalhes sobre os últimos instantes do voo, provocou polêmica na época, já que as famílias nunca tiveram acesso à gravação.

Na audiência desta quarta-feira, os especialistas descreveram, com a ajuda de um mapa e gráficos, o que ocorreu após o avião entrar na Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), no meio do oceano Atlântico, área conhecida pelas chuvas e tempestade violentas que provocam fortes turbulências.

O comandante estava descansando e o avião estava sob controle dos dois copilotos. Às 2h10 GMT, três toques curtos sinalizaram a desativação do piloto automático. Um dos copilotos assumiu então o controle da aeronave e, em um intervalo de dez segundos, "seis alarmes se sucederam".

Nelson Faria Marinho, 79 anos, que fundou a Associação de Familiares das Vítimas do Vôo 447, e que perdeu seu filho Nelson Marinho no acidente aéreo da Air France, dá uma entrevista no Rio de Janeiro, Brasil, segunda-feira, 10 de outubro de 2022.
Nelson Faria Marinho, 79 anos, que fundou a Associação de Familiares das Vítimas do Vôo 447, e que perdeu seu filho Nelson Marinho no acidente aéreo da Air France, dá uma entrevista no Rio de Janeiro, Brasil, segunda-feira, 10 de outubro de 2022. AP - Bruna Prado

Velocidades errôneas

Os pilotos rapidamente perceberam que haviam perdido velocidade, mas as indicações eram errôneas. A altitude também estava subitamente a cerca de 122 metros abaixo dos 10.700 metros mostrados anteriormente no painel.

"Isso não correspondia à realidade", explicou o especialista. "Era um efeito do congelamento dos tubos de Pitot, que, obstruídos por cristais de gelo, deixaram de funcionar em menos de um minuto".

Em resposta, o copiloto fez com que o avião subisse, e ele passou a ganhar altitude e oscilar para os lados. O alarme de estol soou, "um primeiro elemento que desestabilizou a tripulação", indicou. Logo em seguida, soou o alarme de desvio de altitude, que já havia tocado antes, devido à falsa perda de altitude. Dessa vez, o motivo foi "altitude maior" do que o normal.

No meio da noite, "podemos imaginar que o piloto não percebe, necessariamente," essa diferença, explicou o especialista. Logo, o alarme de estol, ou perda de sustentação, voltou a tocar, por 54 segundos. O avião, após atingir uma altitude de 11.600 metros, perdeu sustentação e caiu.

"Os pilotos estavam agitados e agiam de maneira desordenada", comentou o especialista. O capitão retornou à cabine, chamado por seus colegas. "Perdemos o controle do avião", disseram a ele.

Uma das caixas-pretas do voo AF447 Rio-Paris.
Uma das caixas-pretas do voo AF447 Rio-Paris. Reuters/Charles Platiau

Avião caiu a 4,5 km por minuto

O aparelho "estava caindo a 4,5 km por minuto, o que é considerável", comentou o especialista. "Nos dois minutos seguintes, e até o impacto, a situação era confusa." Quando o alarme de proximidade do solo soou, os pilotos tentaram "levantar o avião." "Até o final, houve um diálogo entre a tripulação, que tentava descobrir o que estava acontecendo", destacou o especialista. A aeronave atingiu o mar a 300 km/h, quase na horizontal.

Após as explicações, os especialistas divulgaram uma reconstituição digital. Durante quatro minutos e meio, o silêncio tomou conta da sala. No restante da audiência, surgiram divergências entre um dos especialistas e os outros três em determinados aspectos do relatório. Suas conclusões, no entanto, questionam claramente o papel da Air France e da Airbus no que diz respeito ao congelamento dos tubos de Pitot.

(Com informações da AFP)

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