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Front de batalha estagnado, guerra de desgaste: resistência ucraniana priva russos de avanço

A ofensiva de inverno do Exército da Rússia na Ucrânia foi anunciada com grande pompa há alguns meses, mas as tropas de Moscou só conseguiram avançar algumas dezenas de quilômetros e enfrentam uma guerra de desgaste. 

Tanque ucraniano Т-64 abre fogo contra tropas russas em Bakhmut, no leste da Ucrânia.
Tanque ucraniano Т-64 abre fogo contra tropas russas em Bakhmut, no leste da Ucrânia. © AP - Inna Varenytsia
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Os dias mais longos da primavera no hemisfério norte por enquanto não alteram substancialmente o mapa do conflito: soldados russos e ucranianos se enfrentam ao longo de um extenso front de batalha, que vai do Mar Negro (sul) até o nordeste da Ucrânia, o que dificulta os grandes avanços.

A cidade de Bakhmut, na bacia do Donbass (leste), onde quase 70.000 pessoas moravam antes da guerra, é cenário da batalha mais prolongada desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. "Bakhmut virou uma área de forte desgaste, com muitas baixas para os dois lados", destacou o instituto americano Hudson.

O grupo paramilitar russo Wagner reivindicou no início de abril a conquista da prefeitura da cidade, devastada pelos bombardeios e combates. O fundador do grupo de mercenários, Yevgueni Prigozhin, reconheceu na quinta-feira que o cemitério da localidade continua recebendo os corpos dos combatentes da milícia. "Os integrantes do grupo Wagner continuam sendo enterrados aqui (...) Vamos transformar este cemitério em um monumento para as futuras gerações", disse.

O instituto Hudson afirma que "mesmo se Bakhmut cair", o Exército russo não conseguirá "assumir o controle da região de Donetsk, um de seus principais objetivos territoriais".

De acordo com Léo Péria-Peigné, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), os russos conseguiram conquistar apenas 70 quilômetros quadrados em março. "O Exército russo carece de homens com treinamento e enfrenta problemas no abastecimento de munições de artilharia", explicou à AFP. "Nós caminhamos para um equilíbrio entre os dois lados", considera.

O comandante do Estado-Maior do Exército russo, Valeri Guerasimov, "está desgastando suas forças com ofensivas inoportunas e ineficazes, que podem deixá-las vulneráveis", opinou o analista americano Michael Kofman.

Leve vantagem para a Rússia

Há um ano, a guerra dizima os soldados e enfraquece o dispositivo militar. Sem dados confiáveis, avaliações contraditórias de baixas e danos são divulgadas. A atual situação "beneficia a Rússia. (...) A Ucrânia gastou muito de suas forças para conservar cidades sem grande importância estratégica", declarou em Moscou o analista militar Alexander Khramchikhin.

As perdas russas provavelmente representam "mais da metade do total de equipamentos e arsenais" da força operacional terrestre russa antes da invasão, afirmaram, no entanto, Philippe Gros e Vincent Tourret em um relatório para a Fundação de Pesquisa Estratégica, com sede em Paris.

Apesar das dificuldades dos dois lados para avançar, "o Exército russo provavelmente dispõe de recursos e homens para organizar uma defesa tenaz", afirmou Kofman.

Ajuda ocidental

A Ucrânia continua recebendo uma grande ajuda dos Estados Unidos e dos países ocidentais, tanto com o envio de armas quanto com o treinamento de soldados e o apoio dos serviços de inteligência.

O futuro no campo de batalha "dependerá, por um lado, da velocidade do envio de suprimentos ocidentais e de seu tamanho e, por outro, da capacidade do exército russo para interceptá-los", considera Igor Korochencko, editor da revista russa Defesa Nacional.

Os envios de armas à Ucrânia "prolongam o conflito", acrescenta o analista russo, objeto de sanções dos países ocidentais.

O analista ucraniano Andrei Zagorodniuk afirma que o presidente russo, Vladimir Putin, assume que o conflito será prolongado e que esta é "uma guerra de recursos" para subjugar a Ucrânia, cuja economia "não consegue entrar em recuperação".

Ucrânia diz a Lula que não desistirá da Crimeia

A Ucrânia disse na sexta-feira que não renunciará à Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014, em troca do fim da guerra. Um porta-voz da diplomacia ucraniana se manifestou contra essa hipótese sugerida pelo presidente Lula no dia anterior.

"Não há razão legal, política nem moral que justifique abandonar um só centímetro de território ucraniano", escreveu no Facebook o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, que acrescentou, no entanto, apreciar "os esforços do presidente brasileiro para encontrar uma maneira de deter a agressão russa".

"Qualquer esforço de mediação para restabelecer a paz na Ucrânia deve ser baseado no respeito à soberania e à integridade territorial plena e total da Ucrânia, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas", acrescentou o porta-voz.

Na quinta-feira, o presidente Lula sugeriu que a Ucrânia poderia ter que ceder o território da península da Crimeia à Rússia para facilitar um entendimento que acabe com a guerra. Também disse que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, "não pode querer tudo".

"(O presidente russo Vladimir) Putin não pode ficar com o território da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novidade, tem que se repensar", declarou Lula em um encontro com jornalistas em Brasília.

Com informações da AFP

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