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“Tenho pouca esperança”, diz pai à procura de filha desaparecida em explosão na Ucrânia

Enquanto o norte e o leste da Ucrânia continuam sob fogo da artilharia russa, em inúmeros municípios resta apenas uma solução para os civis: refugiarem-se em abrigos comunitários ou esconderijos cavados sob suas casas. Os correspondentes da RFI conversaram com ucranianos que relatam o dia a dia de espera e medo.

Pessoas em um vagão de metrô em uma estação que serve como abrigo antiaéreo, enquanto os ataques russos continuam em Kharkiv, Ucrânia, Sexta-feira, 25 de março de 2022.
Pessoas em um vagão de metrô em uma estação que serve como abrigo antiaéreo, enquanto os ataques russos continuam em Kharkiv, Ucrânia, Sexta-feira, 25 de março de 2022. AP - Felipe Dana
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Com informações dos enviados especiais à Ucrânia Vincent Souriau, Sami Boukhelifa, Anastasia Becchio e Boris Vichith

Os combates ainda são intensos em Mikolaiv, localizada na foz do rio Dnieper. Esta é a última grande cidade às margens do Mar Negro que ainda bloqueia o acesso das tropas russas a Odessa, cidade que conta com dois grandes portos e um terminal petrolífero importante.

Os correspondentes de guerra descrevem Mykolaiv como uma metrópole deserta. Localizada a poucos quilômetros do front, quase todas as lojas estão fechadas. Apenas um pequeno estabelecimento comercial permaneceu aberto. Com ou sem guerra, “as flores continuam desabrochando", diz Ângela, a florista que vende tulipas e rosas cintilantes, apesar do cenário desolador no entorno, en entrevista à Anastasia Becchio.

O trabalho de limpeza continua pela cidade onde, na terça-feira (29), um ataque russo atingiu o prédio da administração regional. De acordo com a última avaliação, ainda provisória, 15 pessoas morreram e outras 33 ficaram feridas nesta ofensiva a Mykolaiv.

Em busca dos desaparecidos

Pouca coisa restou em pé do imponente prédio branco, de oito andares, que sediava a administração de Mykolaiv. Pás mecânicas são usadas para retirar os escombros deixados após a queda de um míssil que abriu um buraco no topo do edifício. Soldados armados isolam o local.

“Impossível passar”, lamenta um homem de sessenta e poucos anos, desorientado, à procura da filha, Nadezhda, de 44, que trabalhava na contabilidade. “Fui ao hospital, ao pronto socorro, ao necrotério, e ela não está lá. Quando aconteceu, liguei para ela, mas minha filha nunca atendeu. Em algum momento, recebi uma mensagem estranha que dizia que ela estava online, só isso. Eu tenho pouca esperança”, contou o pai à reportagem.

Abatido, o homem também não tinha notícias de sua esposa, que havia chegado ao trabalho 25 minutos antes da explosão: “Não conseguimos encontrá-la. Mas nem todos ainda foram localizados e identificados. Sua mesa ficava onde está o buraco provocado pelo míssil”, diz.

Vitaly Kim, o popular governador da região, não estava no prédio no momento do ataque: "Esta é uma administração civil, não é um local militar. Todas as pessoas que trabalhavam aqui são heróis, pois vieram trabalhar sem interrupção durante trinta e quatro dias de guerra”, contou ele à RFI.

Os trabalhos de limpeza foram suspensos para que as equipes de resgate pudesse dinamitar uma parte do prédio que ameaçava desabar a qualquer momento. As equipes não tinham mais esperança de encontrar sobreviventes nos escombros.

A vida num abrigo de Kharkiv

Em Kharkiv, milhares de pessoas vivem em reclusão há semanas esperando o fim dos bombardeios. Os correspondentes da RFI Vincent Souriau e Sami Boukhelifa visitaram o porão de uma escola transformada em abrigo improvisado. É nesse ambiente que Anya comemorava o seu aniversário de 34 anos. O subsolo, com paredes cinzentas, luzes de néon e colchões jogados ao chão, virou a casa de muitos ucranianos que tentam se proteger dos bombardeios. Há alguns dias, a chegada da internet WI-Fi representa um pequeno milagre.

“Nós improvisamos uma conexão com o roteador instalado no andar de cima” conta a aniversariante. “Antes, assim que um projétil explodia, todos correriam para fora para ter notícias de suas famílias. Era muito perigoso. Agora não precisamos mais sair”, completa Anya.

Cursos online para crianças

É à noite que os bombardeios se tornam mais frequentes em Kharkiv. Quando anoitece, cerca de cem pessoas se refugiam no porão da escola. No começo, o clima era de pânico, “mas com o tempo as pessoas se acostumam a tudo”, diz uma médica entrevistada pela reportagem da RFI. “Temos pessoas em tratamento que têm medo de ficar sem remédio. Nós temos medicamentos estocados aqui, e se tivermos as pílulas certas, podemos dar a eles”, afirma.

A continuidade dos estudos no meio da guerra é outra preocupação. A educação das crianças é uma das maiores ansiedades dos pais que vivem com suas famílias nos abrigos. Em Kharkiv, as escolas estão fechadas há um mês. Porém, há dois dias a região lançou aulas online. E as crianças deste abrigo, onde a internet chegou, agora podem finalmente voltar a aprender.

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