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Ucrânia tenta retirar civis de Mariupol após cessar-fogo das forças russas

O governo ucraniano deve enviar, nesta quinta-feira (31), 45 ônibus para retirar os civis da cidade sitiada de Mariupol, no sudeste da Ucrânia. De acordo com a primeira-ministra ucraniana, Iryna Verechtchouk, Moscou anunciou uma trégua a partir das 7h de hoje para facilitar o processo, com a presença de observadores da ONU e da Cruz Vermelha. Segundo ela, 17 ônibus já estavam a caminho de Mariupol pela manhã.

A Ucrânia aproveitou o cessar fogo russo para iniciar as operações para a retirada de dezenas de milhares de civis de Mariupol, no sul da Ucrânia.
A Ucrânia aproveitou o cessar fogo russo para iniciar as operações para a retirada de dezenas de milhares de civis de Mariupol, no sul da Ucrânia. REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO
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O governo ucraniano foi informado na noite de quarta para quinta-feira pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha de que a Rússia autorizaria o acesso dos veículos, que levarão os passageiros para Zaporíjia, a cerca de 220 km. A Cruz Vermelha se disse pronta para "dirigir" as operações de retirada dos civis de Mariupol a partir de sexta-feira, desde que tenha as garantias necessárias. 

A organização já tentou várias vezes, em vão, organizar ações como essa na cidade, que vem sendo bombardeada sem interrupção pelas forças russas desde o final de fevereiro. "A vida de milhares de pessoas depende da concretização dessas operações", ressaltou a Cruz Vermelha em um comunicado.

Moradores de Mariupol que deixaram a cidade e organizações não-governamentais descreveram condições catastróficas, com civis escondidos em porões, sem água, comida e incomunicáveis. As ruas estão lotadas de cadávares. Cerca de 160 mil pessoas ainda estão bloqueadas na cidade.

Em entrevista à RFI nesta quarta-feira (30), o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, disse que o cessar-fogo em Mariupol é essencial para evitar uma "carnicifina." Ele também lembrou que a situação na cidade de Kharkiv também é crítica. Sobre a possibilidade do uso de armas químicas pela Rússia, o ministro lembrou que serão necessárias sanções massivas caso sejam usadas "armas não convencionais."

O chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, durante entrevista à RFI e ao canal France 24.
O chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, durante entrevista à RFI e ao canal France 24. © RFI/France 24

Em relação às negociações sobre o fim do conflito, Le Drian disse que "vendo as dificuldades das forças russas na Ucrânia, é possível que os planos de invasão sejam reavaliados. Mas é possível, também, que esse período de discussões aprofundadas seja utuilizado pelos russos para reconstituir suas forças", alertou. 

Segundo o ministério britânico da Defesa, Mariupol é palco de "combates intensos", mas os ucranianos conservam o controle do centro da cidade. O dirigente da Tchechênia, Ramzam Kadyrov, que combate ao lado dos soldados russos, assegurou que a cidade está quase inteiramente sob controle dos russos.

Paralelamente, o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, anunciou que um novo encontro entre os chanceleres russo, Sergueï Lavrov, e o ucraniano, Dmytro Kouleba, poderia ocorrer dentro de duas semanas. A Turquia está mediando as negociações entre os dois países, na tentativa de obter um acordo para por fim ao conflito.

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, durante uma coletiva em Bruxelas, na sede da organização
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, durante uma coletiva em Bruxelas, na sede da organização AP - Olivier Matthys

Otan não espera retirada de forças russas

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não vê uma retirada das forças russas da Ucrânia e espera "mais ações ofensivas", afirmou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, nesta quinta-feira (31). "Segundo nossos dados de Inteligência, as unidades russas não estão se retirando, mas se reposicionando. A Rússia está tentando reagrupar (suas forças), reabastecer e reforçar sua ofensiva na região do Donbass", no leste da Ucrânia, disse Stoltenberg à imprensa.

"Ao mesmo tempo, a Rússia mantém a pressão sobre Kiev e outras cidades. Assim, podemos esperar ações ofensivas adicionais, que provocarão mais sofrimento", acrescentou.  A avaliação da Otan contradiz a promessa dos negociadores russos, feita após conversas na Turquia nesta semana, de reduzir "radicalmente" a atividade militar no norte da Ucrânia, inclusive perto da capital Kiev.

"Ouvimos declarações recentes de que a Rússia reduzirá as operações militares ao redor de Kiev e no norte da Ucrânia. Mas a Rússia mentiu repetidamente sobre suas intenções. Portanto, só podemos julgar a Rússia por suas ações, não por suas palavras", disse Stoltenberg. "É óbvio que observamos pouca vontade por parte da Rússia de encontrar uma solução política", acrescentou.

A Rússia anunciou que cobrará o gás natural em rublos a partir desta sexta-feira
A Rússia anunciou que cobrará o gás natural em rublos a partir desta sexta-feira REUTERS/Gleb Garanich

Boicote à energia russa

Durante uma intervenção por videoconferência no Parlamento holandês, nesta quinta-feira (31), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu aos presentes que estejam preparados para boicotar a energia russa. Moscou anunciou hoje que exigirá o pagamento do gás em rublos a partir de sexta-feira, ou colocará um fim nos contratos.

"Estejam preparados para parar a exportação de energia da Rússia, para não pagar milhares de milhões para a guerra", convocou, em seu discurso. A Rússia é o principal fornecedor de gás natural da Europa. Em um esforço para isolar Moscou e privar a Rússia de receita após sua invasão da Ucrânia, a União Europeia (UE) quer reduzir em dois terços as compras europeias de gás russo este ano.

A maior jazida de gás natural da Europa fica no norte da Holanda, na região de Groningen. Para depender menos do gás russo, uma solução seria extrair mais gás no local, mas o governo quer limitar este processo ao máximo. A longo prazo, a extração de gás em Groningen deve parar em 2023, ou 2024, disse o Executivo recentemente, embora este prazo possa sofrer alterações pela situação internacional.

Em seu discurso de hoje, o presidente ucraniano também pediu sanções "mais fortes" e "a interrupção de qualquer tipo de comércio" com a Rússia. O presidente ucraniano tem conversado, por videoconferência, com vários parlamentos ocidentais, discursando em seu próprio idioma e com tradução simultânea.

(RFI e AFP)

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