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Crise Migratória

Direto da Macedônia: refugiados pagam US$ 1,5 mil por viagem até a Europa

Refugiados continuam chegando sem parar na Macedônia, no maior fluxo migratório registrado desde a Segunda Guerra Mundial. São mais ou menos três mil pessoas atravessando todos os dias esta fronteira com a Grécia – um dos pontos críticos do caminho entre a Turquia e a Alemanha empreendido por estas pessoas. Segundo dados da Unicef, pelo menos um terço são mulheres ou crianças.

Campo de acolhimento em Gevgelija, na Macedônia.
Campo de acolhimento em Gevgelija, na Macedônia. Sandro Fernandes / RFI Brasil
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Sandro Fernandes, correspondente da RFI Brasil na Macedônia.

Eu estou no campo de acolhimento, na cidade de Gevgelija, exatamente na fronteira da Macedônia com a Grécia. Este campo recebe as pessoas que vêm da Grécia. Quando elas chegam aqui, ficam em filas e depois são identificadas, uma a uma, porque a maioria chega sem documentos. E elas, claro, precisam de alguma identidade para atravessar o país e continuar a viagem, rumo ao norte. Da Macedônia, eles vão para a Sérvia e, depois, entram na Hungria, que já é a União Europeia, e seguem para Áustria, Alemanha, Suécia, França e Reino Unido.

05:10

Sandro Fernandes, direto da Macedônia

Eu conversei com muitos refugiados e um jovem sírio de 21 anos, estudante de Arquitetura, me contou a mesma coisa que outros refugiados já tinham me contado. Eles gastaram cerca de US$ 1,5 mil somente com a máfia de contrabandistas, que cobraram US$ 200 para levar estas pessoas da Síria para a Turquia e US$ 1,2 mil pelo barco da Turquia para alguma ilha grega.

Quando chegam à Europa, ainda continuam sendo vítimas de aproveitadores. Na Grécia, este jovem sírio me contou que os preços para os refugiados eram 30% mais caros do que o preço para os locais. Aqui na Macedônia, ouvi relatos de que a água que custa € 0,40 estava sendo vendida por € 3 aos refugiados que chegam à fronteira. A gente está com temperaturas muito altas aqui, 37 graus, e eles chegam com sede e, claro, preparados para gastar o dinheiro que for para um gole de água.

Depois da identificação, eles ficam algumas horas neste centro de acolhimento, alguns sendo atendidos por médicos e enfermeiros. Quando são finalmente liberados pela polícia de imigração, seguem até o centro da cidade, onde podem pegar ônibus ou trens para o norte da Macedônia, na fronteira com a Sérvia. Mas antes de chegarem ao centro aqui de Gevgelija, que é uma cidade de 15 mil habitantes, eles são recepcionados por muitos taxistas e ônibus de excursão, preparados pra levar estas pessoas, por um valor muito alto, à próxima fronteira.

Galeria de fotos:

Ontem, vi taxistas dizerem que não havia ônibus nem trem. Os refugiados, que chegam cansados, acabam ficando nas mãos destes aproveitadores e pagam os valores pedidos. Uma viagem, de táxi, até a fronteira custa € 100, ou seja, € 25 por pessoa. O ônibus custaria € 6 por pessoa. A abordagem dos taxistas e das empresas privadas de ônibus é bastante agressiva.

Aqui na fronteira, as pessoas estão um pouco assustadas com o fluxo de refugiados. É uma cidade de 15 mil habitantes, mas três mil pessoas passam aqui todos os dias, rumo ao norte da Europa.

Medo dos locais

Eu conversei com alguns locais e quase todos estão com medo de uma islamização da Europa e medo de que estas pessoas que chegam sejam criminosos. Muitas pessoas aqui criticam o fato de que a maioria dos que chegam serem homens. Os refugiados explicam que muitos deixaram suas esposas e filhos na Turquia e fizeram este caminho sozinhos, porque é um caminho perigoso, mas que pretendem reunir suas famílias depois, já na Europa.

Mas também vi muita solidariedade. O dono de um bar que fica perto da estação de trem distribui água aos refugiados que chegam e permite que eles usem o banheiro. Tudo de graça. A esposa dele, com muitos sorrisos, brinca com as crianças e recolhe donativos e brinquedos. “Se cada um fizer o pouco que pode, já estará fazendo muito. Ninguém sabe se amanhã podemos ser nós a precisar de ajuda”, me disse ele.

 

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