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Saiba como atletas olímpicas francesas estudam cada fase do ciclo menstrual para gerar 'desempenho'

Há um ano, a nadadora olímpica francesa Caroline Jouisse vem registrando regularmente o progresso de seu ciclo menstrual no celular, uma informação valiosa para seus treinadores a poucos meses dos Jogos Olímpicos de Paris e um parâmetro que está começando a ser estudado pelas federações de todo o planeta.

A francesa Caroline Jouisse após competir na prova Open Water Mixed 25km, no dia 20 de agosto de 2022, em Lido di Ostia, a sudoeste de Roma, durante o Campeonato Europeu de Esportes Aquáticos LEN.
A francesa Caroline Jouisse após competir na prova Open Water Mixed 25km, no dia 20 de agosto de 2022, em Lido di Ostia, a sudoeste de Roma, durante o Campeonato Europeu de Esportes Aquáticos LEN. AFP - VINCENZO PINTO
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Isso permite que a atleta saiba quando planejar sessões intensivas de musculação, de preferência no meio e no final de seu ciclo, quando seus níveis de testosterona estão mais altos.

"É importante saber quando são os meus picos de testosterona, porque é quando a gente se sente melhor e está mais forte quando estiver treinando", explica a nadadora de 29 anos, que se classificou para a maratona de 10 quilômetros em águas abertas nos Jogos Olímpicos, que acontecem entre 26 de julho e 11 de agosto de 2024 na capital francesa.

Essas são as descobertas do programa "Empow'her", conduzido pelo Insep (Instituto Nacional Francês para o Esporte, Especialização e Desempenho), que foi criado para obter uma melhor compreensão das interações, que variam de uma atleta para outra, entre o ciclo menstrual e o desempenho esportivo.

Não há motivo para se incomodar com seu ciclo menstrual. Ele é um fator de desempenho, como a nutrição e o treinamento, que pode ter efeitos negativos ou positivos, diz Carole Maître", ginecologista do Insep.

Em 2023, uma equipe registrou os dados hormonais, cardíacos e psicológicos da nadadora Caroline Jouisse todos os dias, durante seis meses, durante suas sessões de treinamento. Os dados foram então analisados de acordo com os estágios de seu ciclo menstrual.

"Antes de iniciar o programa, eu não sabia que havia todas essas fases", admite a esportista, que atualmente faz dez sessões de natação e três sessões de musculação por semana.

O que causa cada fase do ciclo menstrual

Para a esquiadora de cross-country Juliette Ducordeau, o "Empow'her" permitiu que ela identificasse "algumas tendências impressionantes" em seu desempenho e "conhecesse melhor (seu) corpo".

"Minhas sessões são ótimas durante a fase de ovulação, do primeiro ao décimo quinto dia do ciclo", enquanto os últimos dias são mais trabalhosos, observou a atleta de 25 anos, membro da equipe francesa de esqui cross-country.

Desde seu lançamento em 2020, 130 esportistas francesas de nove federações participaram do "Empow'her", que também visa preencher a lacuna na pesquisa científica sobre a fisiologia feminina.

Nos últimos cinco anos, apenas 9% dos estudos em ciências do esporte se concentraram nas mulheres, em comparação com 71% dos homens (os 20% restantes tratam tanto de homens quanto de mulheres)", ressalta a pesquisadora brasileira Juliana Antero, coordenadora do programa.

Há "pouquíssimos estudos de alta qualidade, portanto, até o momento, não há consenso sobre o impacto do ciclo menstrual no desempenho esportivo", diz a pesquisadora.

Treinadores "constrangidos"

Em 2020, a jogadora de handebol Estelle Nze Minko escreveu um artigo condenando o tabu que envolve a menstruação no esporte e a falta de estudos científicos, o que provocou um debate em várias federações.

A esquiadora Clara Direz, ex-participante do "Empow'her", observa que seus treinadores, em sua maioria homens, "têm vergonha de falar sobre ciclos menstruais e não demonstram muito interesse ou envolvimento".

"É importante conscientizar os atletas, mas antes de tudo precisamos conscientizar os técnicos", diz Caroline Jouisse, que insiste que o assunto é "tabu" em seu esporte.

Com a aproximação dos Jogos Olímpicos, as federações estão se interessando mais pelo assunto: a federação de ciclismo participou recentemente de um estudo que mostra que seus atletas têm um desempenho melhor, em média, no meio do ciclo mesntrual.

"Antes, era preciso que houvesse desconforto e que o atleta pedisse tratamento. Agora, estamos no processo de fornecer apoio sistemático", ressalta Carole Maître, da Insep.

Ciente do aspecto "elitista" do programa "Empow'her", reservado aos atletas de alto nível, Juliana Antero está criando um "kit científico" para apoiar também as esportistas amadoras.

(Com AFP)

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