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Paris: Brasil é homenageado em desfile da alta-costura

Termina nesta quinta-feira (26) a temporada de desfiles da alta-costura. Além das tradicionais Chanel, Christian Dior ou Giorgio Armani Privé, um dos destaques desta programação parisiense foi a coleção do francês Stéphane Rolland, que se inspirou do Brasil e sua história em um show que levou ao pé da letra a definição de haute couture.

Inspirado no Brasil, o desfile de alta-costura do francês Stéphane Rolland termina com uma explosão de dourado, "o tesouro do conquistador", segundo o estilista.
Inspirado no Brasil, o desfile de alta-costura do francês Stéphane Rolland termina com uma explosão de dourado, "o tesouro do conquistador", segundo o estilista. AP - Michel Euler
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Silvano Mendes, de Paris, com agências. 

A alta-costura é um momento especial na maratona das semanas da moda. Enquanto nos meses de março e setembro os profissionais dessa indústria correm de um lado para o outro entre centenas de desfiles, entre Nova York, Londres, Milão e Paris, nos meses de janeiro e junho todos os olhos se voltam apenas para capital francesa, única autorizada a usar o título de haute couture.

A chancela, aliás, não é apenas uma questão de procedência: para ganhar essa denominação, as maisons devem antes ser convidadas pela Federação da alta-costura e da moda, entidade que organiza os desfiles em Paris, e respeitar uma série de critérios, como produzir um determinado número de modelos únicos, na França, feitos principalmente à mão, aplicando técnicas artesanais, como bordados e apliques em pedrarias, que fazem com que as horas passadas na realização de cada vestido se contem em centenas ou até milhares.  

Nem todos seguem à risca. Mas para quem busca a tradição, o desfile de Stéphane Rolland foi um prato cheio. O estilista francês respeita os critérios do ritual parisiense, com vestidos esvoaçantes e espetaculares, modelos distantes e esguias, e um show de artesanato em praticamente cada look.

Seus desfiles nem sempre são os mais disputados da fashion week, mas têm o mérito de encarnar a essência da alta-costura. Talvez por essa razão na plateia de Rolland há sempre algumas atrizes, como a francesa Valérie Lemercier, ou cineastas, como Claude Lelouch, que estavam na primeira fila nesta terça-feira (24), mas não há tantos influenciadores digitais, que preferem os grandes nomes do luxo internacional e os desfiles com cenografias instagramáveis.

No desfile de Rolland o espetáculo acontece na passarela, que desta vez foi montada no Teatro Nacional Chaillot, em frente a Torre Eiffel, para mostrar uma coleção totalmente inspirada no Brasil. “Eu amo esse país e passo a maior parte das minhas férias por lá, quando posso”, contou o estilista às agências. “Queria que minha inspiração fosse tipicamente brasileira”.

Segundo Rolland, o ponto de partida foi o filme Orfeu Negro, clássico do cinema francês rodado no Brasil, que levou a Palma no Festival de Cannes em 1959 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960. Na passarela, com exceção da trilha sonora, essa inspiração não salta aos olhos imediatamente, pois o estilista mistura uma série de recortes da cultura e da história do Brasil.

Desfile de alta-costura do francês Stéphane Rolland mistura referências históricas com a arquitetura de Oscar Niemeyer e as riquezas da Amazônia.
Desfile de alta-costura do francês Stéphane Rolland mistura referências históricas com a arquitetura de Oscar Niemeyer e as riquezas da Amazônia. AP - Michel Euler

“O desfile tem três partes: a primeira parte é mais sobre a arquitetura, sobre Brasília, sobre a arte de Oscar Niemeyer, sobre o Rio, as ruas, os prédios. Você vê que tudo é puro, limpo e branco”, resume, em referência a vestidos esculturais nos quais as golas de alguns remetem diretamente ao arquiteto. “A segunda parte nos leva para a Amazônia profunda, nas florestas profundas, com tons de marrom, esmeralda, marrom escuro”, com um importante trabalho de pedrarias brasileiras na maioria das peças. “Na terceira parte, voltamos para o primeiro século do Brasil, com os conquistadores”, conclui Rolland, que abusa do dourado para terminar o show. “Tem muito ouro, ouro puro e muito rico. É o ouro e o tesouro do conquistador”, se empolga.

Vitrine da excelência francesa

Muita gente diz que a couture é coisa do passado, já que não se sabe quantas são as clientes interessadas em pagar dezenas de milhares de euros em um vestido. Há quem fale de apenas algumas centenas dessas endinheiradas pelo mundo.

Mas a alta-costura é antes de mais nada um laboratório de criação e, ao mesmo tempo, uma vitrine do rigor e da excelência dos ateliês de maisons que, graças a essa reputação, podem em seguida vender seu prêt-à-porter (roupas de pronta entrega, fabricadas em escala industrial), seus perfumes e assessórios.

Além disso, para Paris esses quatro dias de desfiles representam uma oportunidade de reforçar sua reputação de capital mundial da moda e de berço da alta-costura. Afinal, foi na cidade que essa prática foi “inventada”, em 1858, quando um costureiro decidiu convidar suas clientes, com hora marcada, nos salões de sua maison. Nesse momento ele deixou de ser um simples prestador de serviço para se tornar o pioneiro de uma arte tipicamente francesa. Mesmo se, ironia da história, esse costureiro, Charles Frederick Worth, não era francês, e sim inglês.

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