Acessar o conteúdo principal

Em busca de modernização, Ópera de Paris contrata 'fiscal da diversidade'

A Ópera de Paris tomou nesta segunda-feira (8) a decisão sem precedentes de revisar seus critérios de recrutamento para encorajar a entrada de mais artistas que não sejam brancos na tradicional instituição francesa. A direção anunciou a futura nomeação de um "fiscal da diversidade", a exemplo do Metropolitan Opera de Nova York.

Os dançarinos da Ópera de Paris se apresentam no Palais Garnier durante um ensaio geral de "Giselle" em janeiro do ano passado.
Os dançarinos da Ópera de Paris se apresentam no Palais Garnier durante um ensaio geral de "Giselle" em janeiro do ano passado. Lionel BONAVENTURE AFP/File
Publicidade

O anúncio foi feito pela instituição, que completou 300 anos, durante a apresentação de um relatório sobre a diversidade elaborado pelo historiador Pap Ndiaye e pela secretária-geral da Defensoria dos Direitos de Paris, Constance Rivière.

Os dois relatores fizeram uma série de recomendações para a tradicionalíssima instituição, especialmente uma "reformulação" do concurso de entrada para a escola de dança, celeiro de talentos que integrarão, mais tarde, o corpo de baile. O objetivo é "localizar talentos" em toda a França, ou incluir pessoas de fora da instituição para o júri durante o recrutamento de músicos.

Bailarinos serão "enviados para localizar e buscar talentos em todos os territórios franceses", declarou Alexander Neef, diretor-geral da Ópera, que disse querer trabalhar em estreita colaboração com conservatórios e escolas locais.

Encomendado há cinco meses pela Ópera, o relatório recomenda que a Escola de Dança "faça esforços para se projetar para fora de si mesma", sendo que seu processo de recrutamento se baseia hoje "apenas nos candidatos que a procuram espontaneamente". O texto promove o princípio de audiências descentralizadas, inclusive em departamentos ultramarinos da França, como Mayotte ou a Ilha de Reunião, no Oceano Índico.

“O objetivo da escola não é recrutar alunos mais pobres para atender aos objetivos da diversidade, mas buscar alunos muito bons onde quer que estejam”, destaca o texto.

Modelo para crianças de diversas origens

Pap Ndiaye lembrou a importância de um "modelo" para crianças de diversas origens que se interessariam por dança, música ou canto. Ele cita o caso de Misty Copeland, a primeira afro-americana a ser eleita "dançarina principal" no American Ballet Theatre em 2015 e que, segundo ele, inspirou muitas crianças afro-americanas.

Ndiaye recomenda também uma reflexão sobre os "critérios anatômicos de seleção" dos futuros alunos da Escola de Dança e ir além da "velha e insistente ideia" de que as morfologias e anatomias negras "não seriam adequadas à dança clássica" porque "teriam pés mais planos" e "uma musculatura mais visível", enquanto o balé exigiria pés arqueados e musculatura alongada.

 O texto também recomenda abandonar "a ideia de que a homogeneidade é uma certeza absoluta". Ndiaye cita dançarinos que foram questionados dentro da Escola de Dança, "já que vocês não são brancos, como vão poder dançar o "Lago dos Cisnes"?, lembra.

Alexander Neef aposta, “da temporada 2021-2022, numa maior presença de artistas de diversas origens”, “ampliando os nossos processos de recrutamento e selecção de artistas, bem como as nossas políticas de convites e encomendas de obras”.

"Fiscal da diversidade"

O diretor artístico anunciou ainda que a Ópera de Paris nomeará "um gerente de projeto, um fiscal de diversidade e inclusão" que será "um ponto de contato com bailarinos e funcionários".

Uma “comissão científica consultiva composta por artistas da casa e personalidades externas” também será criada nos próximos meses para serem “questionadas sobre questões de diversidade”, bem como um sistema de denúncia de casos de racismo ou discriminação.

Neef especificou que os estereótipos seriam "identificados" no repertório lírico e de balé, e que um trabalho de "contextualização" seria realizado com o público. "Isso não significa que desejamos reescrever o libreto, especificou.

Em dezembro, o diretor atraiu a ira da extrema direita francesa que, através da voz de Marine le Pen, denunciou um "antirracismo enlouquecido" após comentários no Le Monde onde ele parecia sugerir que o balé clássico iria sem dúvida desaparecer. A Ópera invocou uma "infeliz justaposição" de parágrafos e Neef reiterou na segunda-feira que não tem como objetivo "censurar" as obras.

Neef lembrou as ações já realizadas pela Ópera: acabar com a prática do "blackface", optar por não branquear a pele em certos balés, e adaptar o penteado, maquiagem e meia-calça para mulheres mestiças e artistas negros.

 “Estou convencido de que [este processo] nos tornará uma organização mais ancorada na sociedade de hoje”, disse.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.