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Cinema/Morte

Milos Forman deixa obra cinematográfica premiada e exemplo de superação

O cineasta tcheco-americano Milos Forman, duas vezes vencedor do Oscar com os filmes "Amadeus" e "Um Estranho no Ninho", faleceu (14) aos 86 anos nos Estados Unidos, onde vivia. A mulher do diretor, Martina Forman, disse que ele "partiu serenamente, cercado de familiares".

Milos Forman fotografado em 2004, durante o Festival de cinema de Sevilha.
Milos Forman fotografado em 2004, durante o Festival de cinema de Sevilha. © Reuters
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O ator Antonio Banderas chamou Milos Forman de "gênio da cinematografia" e "mestre na apresentação da condição humana", em uma mensagem de adeus postada no Twitter.

Nascido em uma família protestante em 18 de fevereiro de 1932, na cidade de Caslav, a leste de Praga, Milos Forman perdeu seus pais nos campos de concentração nazistas.

Na década de 1960, ele se juntou ao movimento de cineastas contra o regime comunista no poder na antiga Tchecoslováquia, a "Nouvelle Vague" tcheca. Foi, então, que se tornou conhecido, com os longas "Pedro, o Negro", "Os amores de uma loira" e "O baile dos bombeiros".

A obra do cineasta é marcada por personagens insubmissos e pela Segunda Guerra Mundial. Seu pai, membro da resistência, morreu no campo de concentração nazista de Buchenwald e sua mãe faleceu em Auschwitz. Forman nunca esqueceu a última vez que viu o pai: ele tinha sete anos e foi retirado da sala de aula para vê-lo escoltado por dois membros da Gestapo, a polícia nazista. O pai entregou um envelope para sua mãe e afirmou: "Diga que está tudo bem, que voltarei". Mas ele nunca retornou.

Três anos depois, a Gestapo entrou em sua casa enquanto Forman estava na cama. "Minha mãe veio e me observou com medo olhos. Sabia que era a Gestapo. Depois ela desapareceu. A casa ficou em silêncio. Eu estava sozinho", recordava.

Em agosto de 1968, poucos dias antes da repressão soviética ao movimento conhecido como Primavera de Praga, Forman deixou a Tchecoslováquia e seguiu para a França. Poucos meses depois, o diretor se mudou para os Estados Unidos, onde obteve a cidadania em 1977. Só retornou a seu país em 1983 para rodar "Amadeus", filme sobre a vida do compositor Mozart e que venceu vários prêmios.

A diversão como estratégia

A morte dos pais foi o primeiro episódio dramático de uma vida repleta de surpresas, como a descoberta em 1964, por meio de uma mulher que conheceu sua mãe em Auschwitz, de que seu pai biológico na realidade era um arquiteto judeu que morava no Equador.

Forman, que trabalhava com atores não profissionais, contou uma vez que sua estratégia consistia em que o elenco deveria se divertir durante a filmagem. "Um diretor é um pouco de tudo, um pouco escritor, um pouco ator, um pouco editor, um pouco figurinista", disse uma vez.

"O baile dos bombeiros" foi produzido pelo magnata italiano Carlo Ponti, ex-marido de Sofia Loren. Quando Ponti assistiu a versão final, negou-se a pagar os US$ 80.000 prometidos (uma quantia astronômica na época). Ponti considerou o filme uma paródia trivial. Forman conseguiu, então, convencer o produtor francês Claude Berri para que comprasse os direitos do filme, que permaneceu proibido na Tchecoslováquia – por ironizar a classe operária – até a queda do comunismo, em 1989.

O primeiro filme de Forman nos Estados Unidos, "Procura Insaciável" (1971), também foi rodado com atores não profissionais, mas não conseguiu impressionar o público não europeu.

Seu filme seguinte, "Um Estranho no Ninho" (1975), protagonizado por Jack Nicholson, foi um grande sucesso de crítica e público. O longa-metragem venceu cinco estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme e diretor. Depois ele dirigiu o musical "Hair" (1979) e "Na Época do Ragtime" (1981).

Em 1983, Forman rodou "Amadeus" com um elenco americano em uma cidade de Praga ainda controlada pelos comunistas. O longa-metragem se tornou um clássico e recebeu 8 estatuetas do Oscar (de um total de 11 indicações), incluindo melhor filme e o segundo prêmio da Academia de diretor para o cineasta.

Forman também dirigiu "Valmont – Uma História de Seduções" (1989), "O Povo Contra Larry Flynt" (1996), pelo qual também foi indicado ao Oscar, "O Mundo de Andy" (1999) e "Sombras de Goya" (2006).

Antes de sair da Tchecoslováquia, Forman foi casado com as atrizes Jana Brejchova e Vera Kresadlova, com quem teve gêmeos, Matej e Petr. Em 1999, casou-se com a roteirista Martina Zborilov, com quem também teve gêmeos, Andrew e James.

O cineasta faleceu na sexta-feira (13), em um hospital de Connecticut, indicou seu agente e amigo Ennis Aspland.

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