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Viagem de Lula a países árabes pode ampliar relações comerciais em novos setores

Para alavancar o crescimento do país e atrair os petrodólares de países como a Arábia Saudita, o presidente Lula aproveitará a viagem à COP 28 para viajar a Riad e Doha. Especialistas ouvidos pela RFI vêem uma abertura para ampliar a relação comercial entre o Brasil e o Oriente Médio, não apenas no agronegócio, mas em áreas como energia limpa e indústria de transformação.

Lula recebe brasileiros que chegaram de Gaza no aeroporto de Brasília, em 13 de novembro
Lula recebe brasileiros que chegaram de Gaza no aeroporto de Brasília, em 13 de novembro REUTERS - UESLEI MARCELINO
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

A retomada das viagens internacionais do presidente Lula tem por destino final a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças do Clima (COP28), que começa dia 30 em Dubai, nos Emirados Árabes.

Mas, além de levar propostas sobre meio ambiente e dados sobre a queda do desmatamento na Amazônia, o presidente brasileiro tem no roteiro paradas importantes, onde o público-alvo são os árabes e seus bilionários fundos soberanos. Para isso, ele trará na bagagem um cardápio de obras, projetos de infraestrutura e parcerias em várias setores.

“A aproximação com países árabes pode ser muito profícua a ambos. O ideal seria negociar investimentos na indústria de transformação brasileira, capaz de incorporar valor, empregar e contribuir para uma pauta de exportações de maior valor agregado”, afirmou à RFI a economista Cristina Helena Pinto de Mello, da PUC/SP.

Lula tem eventos e encontros nesta quarta-feira na Arábia Saudita, onde ontem se reuniu com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Os dois líderes estimaram que os negócios entre brasileiros e sauditas, hoje na casa dos U$ 8 bilhões, podem chegar a U$ 20 bilhões em sete anos, incluindo investimentos e negócios que envovem de produtos agropecuários à energia verde, passando por projetos nas áreas de Defesa e Ciências.

O líder saudita ressaltou a presidência rotativa do Brasil no G20, que começa agora no fim do ano, e o fato dos dois países estarem no BRICS. O economista Luciano Losekann, professor da Universidade Federal Fluminense, afirmou à RFI que o Brasil tem potencial de atrair os recursos árabes.

“São investimentos que são possíveis e fazem bastante coerência para o Brasil. Podemos pensar, por exemplo, no setor de energia, não apenas na cadeia de petróleo, mas também em hidrogênio, que é a grande vedete hoje dessa área. E aí utilizar as vocações brasileiras nesse ramo de produção de renováveis”, disse Losekann.

O economista também citou a produção de insumos agrícolas como ponto de interesse comum entre os dois países e que, no caso brasileiro, carece de um leque mais ampliado de fornecedores, como ficou evidenciado com a Guerra da Ucrânia, que atingiu os principais vendedores desses produtos para o Brasil. “Outro segmento é o de fertilizantes, porque o Brasil tem muito interesse nisso e os árabes poderiam financiar projetos brasileiros de produção. E nesse caso é um setor que necessita de um menor aporte de recursos para a viabilização dos projetos”.

Diversificação de pautas

O menu de projetos que o Brasil está apresentando lá fora se ancora também na retomada do PAC – o Programa de Aceleração do Crescimento - , que foi o principal projeto da área de fomento das gestões petistas anteriores.

A especialista Cristina Helena Pinto de Mello diz que as exportações de minério, carne e grãos do Brasil já são conhecidas e que o país precisa agora criar oportunidades para que essa pauta se diversifique.

“Países árabes possuem recursos e o Brasil é capaz de exportar proteína animal, produtos agrícolas, entre outros. E vislumbro investimentos no escoamento dessa produção, com infraestrutura em modais de transporte, silos e armazéns, infraestrutura portuária. E há muito espaço para incremento de exportações. Já fomos fortes na pauta agropecuária, mas queremos ser uma força também na indústria de máquinas e equipamentos e de transformação”.

Brasileiros em Gaza

Na quinta-feira Lula irá para Doha onde, além de negócios, vai pedir ajuda para que mais 86 brasileiros sejam retirados de Gaza, já que o Catar é um dos países influentes nessas negociações, por abrigar lideranças do Hamas. Depois o brasileiro embarca para Dubai, onde o foco será o meio ambiente, mas onde ele também terá agendas bilaterais buscando atrair investimentos ao Brasil.

A viagem de Lula teve ainda seu grau de saia justa, já que o clímax do primeiro dia nas terras sauditas foi o encontro com o príncipe e principal líder do país, Mohammed bin Salman, o mesmo que fascinou a família Bolsonaro com joias de alto quilate, com atraso e muita polêmica devolvidas ao Estado brasileiro.

Comandante de fato do país, o príncipe é apontado como responsável pelo assassinado de Jamal Khashoggi, em 2018. Reportagens e colunas do jornalista sobre o regime autocrático da Arábia Saudita não só incomodavam o herdeiro, como eram consideradas por ele perigosas aos interesses da família.

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