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Na cúpula do Brics, Lula critica guerra na Ucrânia e defende integridade territorial de países

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a guerra da Ucrânia e o impacto que o conflito gera nos países menos desenvolvidos, em discurso na sessão plenária de abertura da 15ª Cúpula do Brics, na manhã desta quarta-feira (23). Em Joanesburgo, na África do Sul, Lula também voltou a defender a reforma das organizações multilaterais e criticou os países ricos nas negociações sobre as mudanças climáticas.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na plenária de abertura da 15ª Cúpula do Brics, na manhã desta terça-feira (23), em Joanesburgo, África do Sul, em 23 de agosto de 2023.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na plenária de abertura da 15ª Cúpula do Brics, na manhã desta terça-feira (23), em Joanesburgo, África do Sul, em 23 de agosto de 2023. © divulgação/ Ricardo Stuckert
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Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Joanesburgo

“Em poucos anos, retrocedemos de uma conjuntura de multipolaridade benigna para uma que retoma a mentalidade obsoleta da Guerra Fria e da competição geopolítica. Essa é uma insensatez que gera grandes incertezas e corrói o multilateralismo”, argumentou o presidente, diante dos presidentes da China, Xi Jinping e África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o chanceler russo, Sergey Lavrov, que representa o presidente Vladimir Putin no evento.

Alvo de um mandato de detenção expedido em março pelo Tribunal Penal Internacional, Putin não pode viajar à África do Sul, onde estaria sujeito à prisão. Ele participou ao vivo, por videoconferência, da abertura da cúpula esta manhã.

“Sabemos bem onde esse caminho pode nos levar. O mundo precisa compreender que os riscos envolvidos são inaceitáveis para a humanidade”, continuou Lula, antes de abordar a guerra na Ucrânia. O presidente saudou as tentativas de mediação de paz, em que o Brasil tem buscado se posicionar, assim como a China e a África do Sul.

Defesa da integridade territorial

“O Brasil tem uma posição histórica de defesa da soberania, da integridade territorial e de todos os propósitos e princípios das Nações Unidas”, ressaltou, em alusão ao conflito iniciado por Moscou para assumir regiões ucranianas cujas populações mantêm laços históricos com a Rússia, como o Donbass.

“Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e à destruição que aumentam a cada dia”, ele criticou, a poucos metros do chanceler russo, Sergey Lavrov. “Todos sofrem as consequências da guerra. As populações mais vulneráveis nos países em desenvolvimento são atingidas desproporcionalmente”, destacou Lula.

Ao mesmo tempo, o presidente defendeu os esforços para viabilizar "um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura" – o que atende aos interesses de Moscou. A medida, adverte Washington, tende a facilitar a consolidação da tomada de territórios já promovida pela Rússia na Ucrânia. 

Vaga no Conselho de Segurança da ONU

Para o mandatário brasileiro, o conflito evidencia as limitações do Conselho de Segurança da ONU, no qual o Brasil tem pleiteado uma vaga permanente ao lado das potências nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido).

A diplomacia brasileira tem batalhado para que, em troca do apoio à abertura do Brics para novos membros, China e Rússia apoiem a antiga reivindicação do Brasil de uma reforma da instituição.

No contexto da cúpula, a demanda se tornou conjunta: Pretoria e Nova Délhi também querem uma cadeira definitiva na instância das Nações Unidas.

“Dívida histórica” de países ricos nas questões climáticas

Para o brasileiro, “o esfacelamento da governança global também está patente nas agendas do desenvolvimento, do financiamento e do enfrentamento à mudança do clima”. Ele lamentou que a implementação da Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável da ONU esteja “em risco em todo o mundo”.

“É muito difícil combater a mudança do clima enquanto tantos países em desenvolvimento ainda lidam com a fome, a pobreza e outras violências. O princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, mantém sua atualidade”, salientou Lula, em referência ao princípio segundo o qual todos os países deverão buscar enfrentar a crise climática, porém os maiores responsáveis históricos pelo aquecimento do planeta, os países industrializados, devem arcar com maiores compromissos.

“Os grandes responsáveis pelas emissões de carbono que causaram a crise climática foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e alimentaram um extrativismo colonial predatório. Eles têm uma dívida histórica com o planeta Terra e com a humanidade”, afirmou Lula. “Precisamos valorizar o Acordo de Paris e a Convenção do Clima, em vez de terceirizar as responsabilidades climáticas para o Sul Global”, ele insistiu.

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