Na cúpula do Brics, Lula critica guerra na Ucrânia e defende integridade territorial de países
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a guerra da Ucrânia e o impacto que o conflito gera nos países menos desenvolvidos, em discurso na sessão plenária de abertura da 15ª Cúpula do Brics, na manhã desta quarta-feira (23). Em Joanesburgo, na África do Sul, Lula também voltou a defender a reforma das organizações multilaterais e criticou os países ricos nas negociações sobre as mudanças climáticas.
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Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Joanesburgo
“Em poucos anos, retrocedemos de uma conjuntura de multipolaridade benigna para uma que retoma a mentalidade obsoleta da Guerra Fria e da competição geopolítica. Essa é uma insensatez que gera grandes incertezas e corrói o multilateralismo”, argumentou o presidente, diante dos presidentes da China, Xi Jinping e África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o chanceler russo, Sergey Lavrov, que representa o presidente Vladimir Putin no evento.
Alvo de um mandato de detenção expedido em março pelo Tribunal Penal Internacional, Putin não pode viajar à África do Sul, onde estaria sujeito à prisão. Ele participou ao vivo, por videoconferência, da abertura da cúpula esta manhã.
“Sabemos bem onde esse caminho pode nos levar. O mundo precisa compreender que os riscos envolvidos são inaceitáveis para a humanidade”, continuou Lula, antes de abordar a guerra na Ucrânia. O presidente saudou as tentativas de mediação de paz, em que o Brasil tem buscado se posicionar, assim como a China e a África do Sul.
Defesa da integridade territorial
“O Brasil tem uma posição histórica de defesa da soberania, da integridade territorial e de todos os propósitos e princípios das Nações Unidas”, ressaltou, em alusão ao conflito iniciado por Moscou para assumir regiões ucranianas cujas populações mantêm laços históricos com a Rússia, como o Donbass.
“Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e à destruição que aumentam a cada dia”, ele criticou, a poucos metros do chanceler russo, Sergey Lavrov. “Todos sofrem as consequências da guerra. As populações mais vulneráveis nos países em desenvolvimento são atingidas desproporcionalmente”, destacou Lula.
Ao mesmo tempo, o presidente defendeu os esforços para viabilizar "um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura" – o que atende aos interesses de Moscou. A medida, adverte Washington, tende a facilitar a consolidação da tomada de territórios já promovida pela Rússia na Ucrânia.
Vaga no Conselho de Segurança da ONU
Para o mandatário brasileiro, o conflito evidencia as limitações do Conselho de Segurança da ONU, no qual o Brasil tem pleiteado uma vaga permanente ao lado das potências nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido).
A diplomacia brasileira tem batalhado para que, em troca do apoio à abertura do Brics para novos membros, China e Rússia apoiem a antiga reivindicação do Brasil de uma reforma da instituição.
No contexto da cúpula, a demanda se tornou conjunta: Pretoria e Nova Délhi também querem uma cadeira definitiva na instância das Nações Unidas.
“Dívida histórica” de países ricos nas questões climáticas
Para o brasileiro, “o esfacelamento da governança global também está patente nas agendas do desenvolvimento, do financiamento e do enfrentamento à mudança do clima”. Ele lamentou que a implementação da Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável da ONU esteja “em risco em todo o mundo”.
“É muito difícil combater a mudança do clima enquanto tantos países em desenvolvimento ainda lidam com a fome, a pobreza e outras violências. O princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, mantém sua atualidade”, salientou Lula, em referência ao princípio segundo o qual todos os países deverão buscar enfrentar a crise climática, porém os maiores responsáveis históricos pelo aquecimento do planeta, os países industrializados, devem arcar com maiores compromissos.
“Os grandes responsáveis pelas emissões de carbono que causaram a crise climática foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e alimentaram um extrativismo colonial predatório. Eles têm uma dívida histórica com o planeta Terra e com a humanidade”, afirmou Lula. “Precisamos valorizar o Acordo de Paris e a Convenção do Clima, em vez de terceirizar as responsabilidades climáticas para o Sul Global”, ele insistiu.
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