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Manifestações a favor e contra Lula marcam discurso do presidente na Assembleia portuguesa

Enquanto no lado de dentro da Assembleia Nacional portuguesa os deputados da extrema direita protestavam contra a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma sessão parlamentar, no lado de fora, milhares de manifestantes foram às ruas para demonstrar apoio ou repúdio ao petista. As manifestações foram enquadradas pela polícia com um forte esquema de segurança, que bloqueou os acessos ao Parlamento.

Manifestantes a favor e contra Lula ocuparam as ruas ao redor da Assembleia da República portuguesa nesta manhã. (25/04/2023)
Manifestantes a favor e contra Lula ocuparam as ruas ao redor da Assembleia da República portuguesa nesta manhã. (25/04/2023) © Lúcia Müzell/ RFI
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Lúcia Müzell, enviada especial da RFI Lisboa

Os manifestantes ficaram concentrados em dois lados opostos. Centenas de apoiadores de Lula vieram com cartazes com frases como “Viva a democracia”, “Seja bem-vindo” e “Fascismo nunca mais”, embalados ao som de batucada e entoando palavras de ordem como “Lula, guerreiro do povo brasileiro”. Eles marcaram presença desde a chegada do presidente a Portugal, na sexta-feira (21), frequentando os locais nos quais Lula era aguardado nos três dias de agenda oficial.

"É muito importante porque o último presidente deixou o Brasil em um estado terrível. Foi um presente estar aqui hoje, depois da prisão injusta e política do Lula”, disse Rita Justino, que integra o comitê do PT (Partido dos Trabalhadores) em Lisboa. “É uma alegria poder partilhar este momento, porque ele é o representante do povo brasileiro e de um governo muito aberto ao diálogo e pela paz”, salientou.

A cerca de 200 metros dali, um número semelhante de manifestantes convocados pelo partido de extrema direita Chega estavam indignados com a presença de Lula na Assembleia em uma data importante como o 25 de abril, feriado em Portugal. O dia marca a Revolução dos Cravos, que há 49 anos resultou na volta da democracia portuguesa depois do regime ditatorial de António Salazar.

O líder do Chega, André Ventura, havia convocado o protesto desde que a participação de Lula na sessão parlamentar comemorativa havia sido anunciada. Ante à polêmica, o petista acabou sendo convidado para uma "sessão especial”, realizada antes da celebração oficial portuguesa – mas mesmo assim, os militantes do partido continuaram insatisfeitos. Os comentários feitos pelo petista a respeito da guerra na Ucrânia jogaram ainda mais pólvora no movimento, já que Portugal é aliada de Kiev no conflito contra a Rússia, inclusive fornecendo tanques para a o exército ucraniano.

"Viemos manifestar o nosso desagrado à participação, em um dia tão importante da história de Portugal, de alguém com o passado que tem e que, depois das últimas declarações que ele fez, em que defende um ditador genocida, vem para Portugal ofender a nossa língua”, alegou o aposentado José Pinheiro.

Brasileiros prometem continuar protestos

Os manifestantes empunhavam cartazes com dizeres como “lugar de ladrão é na prisão” e “contra a corrupção”. Entre os presentes, muitos eram brasileiros apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Alexandre Kunz diz que veio de Londres, onde mora, especificamente para participar do protesto. “A gente está aqui pela liberdade, contra a ditadura dos comunistas e esse governo que quer entregar a nossa terra a um partido que é ditatorial”, explicou, prometendo participar de futuras manifestações contra Lula sempre que ele vier à Europa.

“As lideranças da direita do mundo todo já estão organizando protestos em Londres e ele vai ser recebido como está sendo aqui”, prometeu, em referência à esperada presença de Lula na coroação do rei Charles III, em maio.

O representante comercial Márcio, 47 anos, também veio de outro país, Luxemburgo, para engrossar o coro da manifestação contra o presidente. “Eu nunca fui de política, mas se a gente deixar os maus políticos governarem, vamos deixar o nosso país e Portugal se transformarem numa Venezuela. Nós temos que dar o nosso passo contra os políticos corruptos”, disse. “Se eu tiver oportunidade, onde ele estiver, eu vou para levantar a bandeira do Brasil."

Manifestação dentro da Assembleia

Dentro da Assembleia, Lula foi recebido pela bancada da extrema direita levantando cartazes nos quais se lia “chega de corrupção”, além de bandeiras da Ucrânia. A cada vez que o petista era aplaudido, os deputados protestavam batendo com as mãos sobre as mesas. O presidente da Casa, António Santos Silva, teve de intervir para reclamar da “falta de educação” dos parlamentares.

"Os deputados que quiserem manter-se na sala têm de manter a cortesia, urbanidade e educação que é exigida a qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições e colocarem vergonha no nome de Portugal", frisou, visivelmente irritado.

"Aqui na Europa, políticos demagogos que dizem não serem políticos, negam os benefícios conquistados no continente em décadas de paz, cooperação e desenvolvimento dentro da União Europeia. Eu considero a integração resultante da União Europeia um patrimônio democrático da humanidade. E eu vi no Brasil, a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política, se nega o diálogo”, destacou o presidente brasileiro em seu discurso, mais uma vez sob aplausos da esquerda e repúdio de Ventura e seus colegas.

O discurso no Parlamento foi o último compromisso do petista na viagem ao país, antes de seguir para a Espanha, onde fica até a tarde desta quarta-feira (26). Da Assembleia, Lula seguiu direto para o aeroporto.

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