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Sob protestos da extrema direita, Lula defende democracia no Brasil na Assembleia de Portugal

No encerramento da viagem oficial a Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na Assembleia da República do país e defendeu a “volta da democracia" no Brasil, sob protestos da bancada da extrema direita. O presidente da Casa teve de intervir para reclamar da “falta de educação” dos parlamentares portugueses.

Bancada da extrema direita portuguesa protestou durante todo o discurso de Lula na Assembleia da República, em Lisboa. (25/04/2023)
Bancada da extrema direita portuguesa protestou durante todo o discurso de Lula na Assembleia da República, em Lisboa. (25/04/2023) © Lúcia Müzell/ RFI
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Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Lisboa

Lula chegou no local por volta de 9h40 (5h40 em Brasília), acompanhado da primeira-dama, Janja, e foi recebido pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

No plano original, Lula discursaria na sessão parlamentar comemorativa aos 49 anos da Revolução dos Cravos, celebrada neste dia 25 de abril e que significou a volta da democracia portuguesa depois do regime ditatorial de António Salazar. Mas a direita questionou a presença de um líder estrangeiro na principal data nacional, e Lula acabou sendo convidado para uma "sessão especial” realizada antes da celebração portuguesa.

Mesmo assim, a mudança não contentou a extrema direita, liderada pelo deputado André Ventura, do partido Chega. A bancada conta com 12 parlamentares.

Assim que Lula tomou a palavra, eles se levantaram com cartazes nos quais se lia “chega de corrupção”, além de bandeiras da Ucrânia. A atitude provocou reação dos parlamentares aliados do primeiro-ministro António Costa, que se reuniu diversas vezes com Lula desde a chegada do líder a Portugal, na sexta-feira (21).

"A democracia no Brasil viveu recentemente momentos de grave ameaça. Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar nosso relógio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos desde a transição democrática”, afirmou o presidente brasileiro, sob aplausos da esquerda, mas repúdio dos opositores da ultradireita, que batiam com as mãos sobre as mesas. A cada vez que o petista foi aplaudido, eles repetiram o ato.

O presidente da Assembleia, António Santos Silva, tentou conter a manifestação. "Os deputados que quiserem manter-se na sala têm de manter a cortesia, urbanidade e educação que é exigida a qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições e colocarem vergonha no nome de Portugal", disse. No final, pediu desculpas a Lula pelo protesto.

Lula volta a condenar 'violação' da Ucrânia

Lula aproveitou a ocasião para voltar a condenar a invasão da Ucrânia, tema que esteve no centro das polêmicas em torno da vinda do presidente a Portugal, aliado do país no conflito com a Rússia.

"O Brasil compreende a apreensão causada pelo retorno da guerra à Europa. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais”, destacou o petista.

"Ao mesmo tempo, é preciso admitir que a guerra não poderá seguir indefinidamente. A cada dia que os combates prosseguem, aumenta o sofrimento humano, a perda de vidas, a destruição de lares. É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho pelo diálogo e pela diplomacia”, ponderou.

'Vírus do negacionismo'

Lula também alfinetou a extrema direita quando abordou o tema da pandemia de Covid-19 e "os vírus da anticiência e do desprezo pela vida humana”.

"No Brasil vivemos a consequência trágica de demagogos, negacionistas durante a pandemia. Setecentos mil brasileiros morreram vítimas da Covid. Metade dessas mortes poderiam ser evitadas não fossem as fake news, o atraso na obtenção de vacinas e a negação da ciência feita pela extrema direita no meu país”, detalhou.

"Aqui na Europa, políticos demagogos que dizem não serem políticos, negam os benefícios conquistados no continente em décadas de paz, cooperação e desenvolvimento dentro da União Europeia. Eu considero a integração resultante da União Europeia um patrimônio democrático da humanidade. E eu vi no Brasil, a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política, se nega o diálogo”, ressaltou, mais uma vez sob aplausos da esquerda e repúdio de Ventura e seus colegas.

No final da sessão, o hino brasileiro foi entoado com vigor pela comitiva brasileira presente na Assembleia e convidados, como o ministro da Defesa, Múcio Monteiro, e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. A primeira-dama, Janja, também se empolgou na tribuna de honra.

Lula lamenta 'cenas ridículas'

Em um rápido comentário à imprensa portuguesa ao deixar o local, o petista afirmou que a manifestação "é a coisa mais natural da democracia, mas às vezes lamento que quando as pessoas não têm uma coisa boa para fazerem, fazem estas cenas ridículas". "Não sei como vão chegar em casa, olhar para os filhos e para os pais e falar que vieram fazer isso à Assembleia, participar num evento de homenagem à Revolução dos Cravos", relatou a emissora Renascença. "Acho que essas pessoas, quando deitarem a cabeça no travesseiro à noite, vão ver o papel que fizeram", concluiu Lula.

Do lado de fora, manifestantes de extrema direita também protestaram contra a presença do presidente brasileiro, gritando frases como “Lula ladrão, o seu lugar é na prisão”. Militantes do PT também manifestam apoio ao presidente, evocando “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.

O discurso no Parlamento foi o último compromisso do petista na viagem ao país, antes de seguir para a Espanha, onde fica até a tarde desta quarta-feira (26). Da Assembleia, Lula seguiria direto para o aeroporto de Lisboa.

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