Le Monde diz que Lava-Jato é a versão brasileira de “House of Cards"
Em um artigo publicado pela correspondente do jornal Le Monde no Brasil, a operação Lava Jato é comparada a uma série de televisão. A segunda temporada do maior escândalo do corrupção da história do Brasil deve ser a versão brasileira do "House of Cards", escreve Claire Gatinois, comparando as reviravoltas da política brasileira à célebre saga americana protagonizada por Kevin Spacey.
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Na "primeira temporada", o jornal descreve a batalha de diversos membros do PT, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chama de "o pai dos pobres", diante do juiz Sérgio Moro, o "xerife da Lava Jato". "O escândalo de corrupção serve de pano de fundo à polêmica destituição de Dilma Rousseff", publica Le Monde.
Na segunda temporada, o roteiro se concentra no PMDB e especialmente sobre Michel Temer, continua a correspondente: "presidente em exercício desde maio, esse ex-advogado de 76 anos (...) teria recebido R$ 10 milhões, inclusive uma parte em dinheiro vivo, da parte da Odebrecht, quando era vice-presidente de Dilma Rousseff".
O Brasil aguarda ansioso o desfecho da história, "digna de uma produção hollywoodiana", que deve ficar ainda mais apimentada com as confissões de mais de 70 pessoas que ocupavam cargos importantes na Odebrecht. O roteiro seria cômico se fosse apenas ficção, "mas trata-se da política brasileira", ressalta a jornalista.
O cansaço dos brasileiros é traduzido nas urnas
Gatinois também se pergunta o que aconteceu com o povo que saiu às ruas para protestar contra o aumento das passagens de ônibus em 2013 e a multidão que pediu o impeachment de Dilma Rousseff em 2015. O artigo afirma que dessas revoltas restaram escassos protestos que reúnem os poucos que ainda estão mobilizados contra a corrupção na política brasileira. "Será que os brasileiros estão cansados?", indaga a jornalista.
De acordo com ela, a revolta passou das ruas para as urnas, e "apenas 5% dos brasileiros confiam em partidos políticos", reitera, citando uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Esse sentimento, segundo Gatinois, pode favorecer a emergência de um candidato "contra o sistema" nas eleições presidenciais de 2018.
A correspondente do Le Monde lembra que, até o momento, é Marina Silva a preferida dos brasileiros, "uma mulher religiosa, séria, mestiça e que, até agora está ausente do reality-show atual". Mas nada impede que o pior aconteça, salienta, sem descartar a ascensão de um candidato populista como Jair Bolsonaro "deputado nostálgico da ditadura, homofóbico, favorável à pena de morte e conhecido por suas gafes".
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