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Le Monde: demissão de Calero demonstra fragilidade de Temer

O fim do estado de urgência relativo ao Zika vírus e a semelhança do imbróglio político que culminou na demissão do ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, com a trama do filme "Aquarius", de Kléber Mendonça Filho, são os destaques brasileiros do jornal Le Monde desta quarta-feira (23).

O ex-ministro da Cultura brasileiro, Marcelo Calero.
O ex-ministro da Cultura brasileiro, Marcelo Calero. EVARISTO SA / AFP
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 O jornal Le Monde publicou matéria nesta quarta-feira afirmando que o fim do estado de urgência internacional relativo ao vírus da Zika provoca inquietação no Brasil. Segundo a correspondente Claire Gatinois, "muitos consideram a decisão prematura e ninguém está aliviado" com a decisão da Organização Mundial da Saúde, a OMS. "O fim do estado de urgência na sexta-feira, 18 de novembro, não reduz a magnitude da tragédia ligada ao surto de Zika, particularmente no Brasil", publica Le Monde.

O jornal francês traz entrevista com Peter Salama, diretor-executivo do programa de gestão de emergências de saúde para a organização. Segundo ele, o flagelo veio para ficar. "Vamos precisar de vários anos para resolver o problema", destaca Le Monde. "Menos de um ano após alertar o mundo para os perigos do misterioso vírus transmitido principalmente pelo Aedes aegypti, suspeito de causar defeitos congénitos graves - incluindo a microcefalia - a OMS estima que a epidemia é agora um combate médio-longo prazo", afirma o diário francês. Uma vez que a ligação entre o Zika e os bebês nascidos com microcefalia está agora cientificamente estabelecida, "a prioridade agora é encontrar a vacina para a OMS", afirma Le Monde.

Para o infectologista brasileiro Luiz Arraes, que pesquisa o vírus em Pernambuco e foi entrevistado pelo jornal, trata-se, no entanto, de uma decisão "incompreensível". "Ainda não existe vacina, o número de casos potenciais é enorme. O alerta deve permanecer em nível máximo", declarou Arraes a Le Monde.

"Aquarius" e Calero: quando a realidade imita a ficção

A correspondente do Le Monde em São Paulo publica também editorial nesta quarta-feira sobre o que o jornal francês chama de "Remake político de Aquarius no Brasil", fazendo uma referência ao filme do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho, estrelado por Sônia Braga e à recente demissão do ministro da Cultura Marcelo Calero.

O jogo de palavras no título do editorial de Le Monde evidencia as semelhanças, segundo o diário francês, entre a "ficção e a realidade". Para Le Monde, o motivo da demissão de Calero - as chantagens de Geddel Vieira Lima, o "braço direito de Temer", segundo o jornal, e o roteiro de "Aquarius",  são "enormes", e afirma que o embróglio entre Calero e Geddel parece uma "versão política em quase nada retrabalhada da trama do filme Aquarius".

Geddel Vieira se irritou, segundo Le Monde, com o impedimento colocado pelo Iphan, o Instituto Brasileiro de Preservação do Patrimônio Histórico, sobre seu projeto imobiliário próximo ao centro histórico de Salvador. "A saída estrondosa de Marcelo Calero obedece sem dúvida a um cálculo político que lher permitirá dissociar sua imagem do governo. Seu gesto é testemunha da fragilidade patente da equipe de Michel Temer, que contabiliza sua quinta demissão desde o dia 12 de maio", finaliza Le Monde.

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