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Eleição do social-democrata Arévalo à presidência da Guatemala é sinal de nova era, dizem analistas

Candidato surpresa e alvo de diversas tentativas de desqualificação durante sua campanha, o social-democrata Bernardo Arévalo venceu no domingo (20) o segundo turno da eleição presidencial na Guatemala. Para analistas, não há dúvidas que esta escolha indica uma vontade de mudança por parte do povo guatemalteco e um protesto contra décadas de corrupção da classe política. 

O candidato Bernardo Arévalo cumprimenta simpatizantes após anúncio dos resultados parciais do segundo turno da eleição presidencial na Guatemala, no domingo 20 de agosto de 2023.
O candidato Bernardo Arévalo cumprimenta simpatizantes após anúncio dos resultados parciais do segundo turno da eleição presidencial na Guatemala, no domingo 20 de agosto de 2023. AP - Moises Castillo
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"O povo guatemalteco falou alto e forte", declarou Arévalo, 64 anos, durante seu discurso de vitória na noite de domingo. "Unidos, como povo, lutaremos contra a corrupção", martelou o líder do partido Semilla.

Um pouco antes, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) do país havia indicado que o deputado centro-esquerdista obteve 59% dos votos, com quase a totalidade das urnas apuradas, contra 36% da ex-primeira-dama Sandra Torres. Até o momento a adversária não reconheceu a derrota.

O presidente Alejandro Giammattei, de direita, reagiu rapidamente no X (ex-Twitter), parabenizando Arévalo e convidando-o a "começar uma transição ordenada a partir da oficialização dos resultados". Chefes de Estado de países vizinhos, como o mexicano Andrés Manuel López Obrador e o salvadorenho Nayib Bukele, telefonaram ao candidato vencedor para felicitá-lo.

Transição pacífica

"A vitória de Arévalo significa a derrota da velha política, do partido no poder. Uma outra era começa para nosso país e teremos de nos mobilizar para uma transição pacífica", avalia o analista independente Miguel Angel Sandoval.

Francisco Rojas, reitor da Universidade para a Paz (Upeace), aposta na legitimidade do candidato centro-esquerdista. "A experiência diplomática e parlamentar de Arévalo lhe dá uma base de conhecimento e experiência para formar uma grande equipe de governo", ele analisa.

Tanto Arévalo quanto Sandra Torres, 67 anos, se dizem de centro-esquerda. No entanto, o social-democrata levantou a bandeira da mudança, prometendo combater a corrupção e trazendo uma perspectiva de novos tempos ao país. Sua rival, líder do partido Unidade Nacional da Esperança (UNE), focou em programas de ajuda social e subvenções aos pobres. No entanto, ela recebeu apoio da direita e de evangélicos, multiplicando discursos conservadores. 

"Vamos ver se Sandra Torres reconhecerá sua derrota, mas haverá um longo período até o início do próximo governo [14 de janeiro de 2024]. Esse será um período complexo", prevê Francisco Rojas. 

Ex-esposa do presidente Alvaro Colom (2008-2012), Torres tinha o apoio, ainda que silencioso, do presidente em fim de mandato. Com a escolha de Arévalo, os guatemaltecos demonstram a vontade de virar a página do governo Giammattei, marcado pela repressão a juízes e jornalistas que denunciavam a corrupção. 

Candidato surpresa

Em apenas dois meses, Arévalo passou do status de quase desconhecido à presidente eleito. Filho do presidente Juan José Arévalo (1945-1951), o líder centro-esquerdista prometeu seguir os passos do pai, que marcou a história da Guatemala ao colocar fim a 13 anos de ditadura de Jorge Ubico. Admirador de Adolf Hitler, o regime de Ubico impôs um sistema de trabalho forçado da população autóctone maia. 

No primeiro turno, em 25 de junho, Arévalo surpreendeu ao conquistar o segundo lugar sob a bandeira do partido Semilla, que chegou a ser suspenso devido a supostas irregularidades - uma decisão invalidada pela Suprema Corte do país. Antes do primeiro turno, o centro-esquerdista ocupava a 8ª posição com apenas 2,9% das intenções de voto.

Entre os eleitores que mais apostaram em Arévalo estão os jovens, que representam 16% dos 9,4 milhões dos guatemaltecos habilitados a votar. Além da corrupção, o presidente eleito também promete melhorar o acesso à educação e combater a violência e a miséria, que assolam o país.

No entanto, nesta nação profundamente católica, o centro-esquerdista se diz contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito ao aborto, autorizado somente em caso de perigo à saúde da gestante.

(RFI com agências)

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