Acessar o conteúdo principal

Com divergências internas, Mercosul realiza cúpula mas não deve atingir consenso sobre a UE

Os governantes do Mercosul se reúnem nesta segunda e terça-feiras (3 e 4), em Puerto Iguazú, na Argentina, sem um projeto detalhado para contrapor as exigências ambientais da União Europeia nas negociações do acordo de livre comércio entre os dois blocos. A cúpula ocorre num contexto de insatisfações do Uruguai com o grupo sul-americano.

Presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e Lula encontraram-se em maio, na Cúpula dos Países Sul-Americanos. Montevidéu tem questionado a falta de avanços no Mercosul. (30/06/2023)
Presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e Lula encontraram-se em maio, na Cúpula dos Países Sul-Americanos. Montevidéu tem questionado a falta de avanços no Mercosul. (30/06/2023) AP - Andre Penner
Publicidade

A reunião contará com a presença do presidente anfitrião, o argentino Alberto Fernández, e seus colegas do Uruguai, Luis Lacalle Pou; do Paraguai, Mario Abdo; e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que exercerá a presidência do bloco até o final do ano.

Um dos assuntos mais importantes da agenda do Mercosul hoje, uma resposta detalhada às novas exigências ambientais da Europa, não deve sair do encontro. Desde o vazamento, em março, de uma carta na qual Bruxelas apresenta rígidas condições para o avanço da ratificação do tratado, uma nuvem de desconfiança mútua se instalou e coloca em dúvida qualquer conclusão do acordo Mercosul-UE, alcançado em 2019.

"Estamos muito próximos de apresentar nossas avaliações aos parceiros do Mercosul", disse o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Mauricio Carvalho, embora seja improvável que se chegue a conclusões a tempo de Puerto Iguazú.

Lula tem liderado as críticas ao bloco de 27 países europeu por formular uma série de exigências ambientais adicionais ao setor agropecuário e estabelecer sanções pelo descumprimento de vários compromissos do Acordo do Clima de Paris, assinado em 2015.

"Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaça a um parceiro estratégico", disse o presidente brasileiro durante um fórum em Paris sobre financiamento para os países em desenvolvimento. O presidente francês, Emmanuel Macron, e o chefe de governo alemão, Olaf Scholz, estavam presentes na audiência, entre outras autoridades europeias.

Frentes abertas

Depois de mais de 20 anos de duras negociações, UE e Mercosul atingiram um acordo de livre comércio há quase quatro anos, mas a adoção do texto ficou paralisada devido à resistência dos setores agrícolas de alguns países europeus, em especial os franceses.

A reação de Lula contra as novas demandas europeias parece ofuscar o otimismo da UE em concluir o acordo este ano, expressado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em sua turnê pela América Latina neste mês, que incluiu Buenos Aires e Brasília.

O chefe da diplomacia dos europeus, Josep Borrell, admitiu nesta semana que o novo documento "não foi bem recebido" pelos países sul-americanos e disse que a Europa ainda espera uma "resposta concreta" às suas solicitações. Lula abriu, por sua vez, outra frente, assegurando que o Brasil "não cederá" em proteger sua indústria local nas compras governamentais. Segundo o acordo, elas ficariam abertas em igualdade de condições para empresas europeias.

Mas o governo brasileiro permanece envolvido nas negociações. A principal economia latino-americana deseja alcançar um "bom resultado equilibrado e adequado às duas partes", afirmou Carvalho.

Para Bruno Binetti, especialista em assuntos internacionais do think tank americano Inter-American Dialogue, o máximo que pode sair da cúpula é "uma agenda concreta perante a UE”, com “exigências". "Mas não acredito que estejamos nessa etapa", disse à AFP.

Na reunião, também estarão presentes autoridades da Bolívia, país em processo de adesão ao Mercosul, e representantes dos Estados associados, que abrangem toda a América do Sul – exceto a Venezuela, que está suspensa.

Insatisfação do Uruguai

Fundado em 1991, o Mercosul chega à cúpula em meio a um novo capítulo de tensões causadas pelas assimetrias entre os parceiros. O Uruguai, a menor economia juntamente com o Paraguai, mostra um crescente incômodo dentro do bloco.

O governo de centro-direita de Luis Lacalle Pou avança em direção a um acordo de livre-comércio com a China e solicitou a adesão ao Acordo Transpacífico, sem o consentimento dos demais parceiros. Este mês, o chanceler Francisco Bustillo colocou a necessidade de "mudar o status" do Uruguai no Mercosul, argumentando que "não há interesse do Brasil, da Argentina, nem do Paraguai de aprofundar e avançar no esquema de integração".

Após Puerto Iguazú, os sul-americanos terão outro encontro com os europeus. A UE e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) farão uma cúpula em 17 e 18 de julho, em Bruxelas. Fazia oito anos que o encontro não se repetia.

Com informações da AFP

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.