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União Europeia suspende cooperação com Níger após golpe militar que derrubou presidente

A União Europeia suspendeu neste sábado (29) a cooperação financeira e de segurança com o Níger, em resposta ao golpe militar que depôs na quarta-feira (26) o presidente Mohamed Bazoum, eleito em 2021. Os Estados Unidos prometeram seu "apoio inabalável" a Bazoum, detido em Niamey pelos golpistas. A União Africana deu um prazo de 15 dias para a junta militar que assumiu o poder restabelecer a autoridade constitucional no país.

Manifestantes que apoiam o golpe contra o presidente Mohamed Bazoum exibem bandeira russa nas ruas de Niamey.
Manifestantes que apoiam o golpe contra o presidente Mohamed Bazoum exibem bandeira russa nas ruas de Niamey. © Sam Mednick/AP/SIPA
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A União Europeia (UE) "não reconhece e não reconhecerá as autoridades resultantes do golpe de Estado" no Níger e suspende imediatamente "todas as suas atividades de cooperação na área da segurança" com o país do Sahel, declara o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, em comunicado publicado em Bruxelas. O presidente Bazoum "foi democraticamente eleito e continua a ser o único presidente legítimo do Níger", sublinha a nota. "Ele deve ser libertado incondicionalmente e sem demora", afirma Borrell. 

Os militares que tomaram o poder no Níger anunciaram na sexta-feira (28) a suspensão da Constituição e a dissolução das instituições do país. O golpe foi liderado pelo general Abdourahamane Tchiani, que era chefe da Guarda Presidencial e foi nomeado o novo chefe de Estado do Níger. Ele afirma contar com o apoio dos corpos do Exército e da Polícia.

Tchiani justificou a deposição de Bazoum dizendo que ele adotava uma "retórica política" que queria convencer a população de que "tudo ia bem", enquanto havia "uma dura realidade com mortos, deslocados, humilhação e frustração" no Níger. "A abordagem atual em matéria de segurança não foi capaz de proteger o país, apesar dos grandes sacrifícios do povo nigerino e do grato apoio de nossos aliados externos", afirmou.

EUA prometem apoio incondicional ao presidente deposto

A União Europeia, os Estados Unidos e outros países apelaram à libertação incondicional de Bazoum, que permanece sequestrado em sua residência, e o retorno da ordem democrática no Níger. Além da suspensão imediata da ajuda financeira, os europeus decidiram interromper a cooperação na área de segurança "por tempo indeterminado".

O Níger é um dos principais beneficiários da ajuda ocidental e um dos principais parceiros da União Europeia no combate à imigração ilegal proveniente da África subsaariana. A UE mantém um pequeno número de soldados no país, que atuam no treinamento de militares nigerinos. De acordo com o site do bloco, no período de 2021 a 2024, os europeus destinam € 503 milhões (US$ 554 milhões) de seu orçamento para esse extenso país africano. Os recursos são utilizados em ações para melhorar a governança, a educação e o desenvolvimento sustentável no Níger. 

Golpes desfavoráveis à França

País pobre com um histórico de golpes de Estado, o Níger era um dos últimos aliados da França no Sahel, uma região assolada por instabilidade, insegurança e ataques jihadistas. A reviravolta em Niamey é a terceira na região desde 2020, após a chegada dos militares ao poder no Mali e em Burkina Fasso, em um contexto de crescente influência da Rússia naquela área.

A França, que pôs fim à operação antiterrorista Barkhane e se retirou do Mali sob pressão da junta em Bamako, tem atualmente 1.500 soldados destacados no Níger, que até agora operavam ao lado do Exército nigerino. Outros 1.000 soldados franceses estão estacionados no vizinho Chade. Os Estados Unidos têm 1.000 soldados na área. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, reúne-se na tarde de sábado, em Paris, com seu Conselho de Defesa, para avaliar a situação. Macron condenou o golpe com veemência. Assim como a União Europeia, a França "não reconhece as autoridades" que tomaram o poder à força no Níger.

União Africana dá prazo para soldados retornarem às casernas

Neste sábado, a União Africana (UA) exigiu o restabelecimento da "autoridade constitucional". O Conselho de Paz e Segurança da UA "exige que os militares [nigerinos] regressem imediata e incondicionalmente aos seus quartéis e restabeleçam a autoridade constitucional, num prazo máximo de 15 dias", de acordo com um comunicado divulgado após uma reunião do órgão ocorrida na sexta-feira. 

No domingo, está prevista "uma reunião de cúpula especial" da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), à qual pertence o Níger, para avaliar a crise. Os representantes da Cedeao poderão adotar sanções em virtude do golpe. 

General golpista é figura discreta e controvetida 

O general Abdourahamane Tchiani, de 59 anos, mantinha-se discreto até sequestrar o presidente eleito do Níger e se autoproclamar o novo homem forte do país. "Não se sabe muito sobre ele fora dos círculos militares. É um homem poderoso nos bastidores, mas não é figura muito consensual", descreve Ibrahim Yahaya Ibrahim, pesquisador do International Crisis Group.

Segundo pessoas próximas do presidente Bazoum contatadas pela AFP, as relações entre o general Tchiani e o chefe de Estado deterioravam-se há vários meses. Bazoum teria manifestado recentemente o desejo de o substituir na chefia da Guarda Presidencial.

Tchiani participou de várias missões da ONU na Costa do Marfim, no Congo e no Darfur, no Sudão, bem como numa missão da Comunidade dos Estados da África Ocidental (Cedeao) na Costa do Marfim. Os seus detratores o consideram uma personalidade "controversa" dentro do Exército. Aqueles que admiram o general o descrevem como um militar "duro", "corajoso" e, sobretudo, "popular" entre os cerca de 700 membros da sua unidade.

(Com informações da AFP)

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