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Desigualdade social e questão palestina são desafios do novo governo israelense

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O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que saiu vitorioso das eleições israelenses da terça-feira (17), tem muitos desafios a sua frente, começando pela grande desigualdade social, entre a mais alta dos países do mundo desenvolvido, e pela alta porcentagem de crianças em situação de pobreza (27%).

Benjamin Netanyahu terá muitos desafios pela frente.
Benjamin Netanyahu terá muitos desafios pela frente. REUTERS/Amir Cohen
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"O índice de pobreza dobrou nos últimos dez anos em Israel. A desigualdade social e as diferenças salariais aumentaram de maneira extraordinária. Esse é o resultado de uma política liberal que não beneficia a todos. Se por um lado há um crescimento sustentável, por outro há pessoas muito ricas e pessoas muito pobres. Há um baixo índice de desemprego, mas muitos trabalhadores pobres. Há um déficit em baixa, mas há uma falta de investimento público em saúde, educação e transporte", explica o economista francês Jacques Bendelac.

Imóveis caros

Netanyahu, ministro de Finanças de Israel entre 2003 e 2005, foi responsável pela liberalização da economia do país. Os índices macroeconômicos são excelentes, com crescimento do PIB de 2,9% em 2014, taxa de desemprego de 6% e renda per capita de US$ 38 mil, mas a desigualdade continua em ascensão. Outro desafio do novo governo é o elevado preço dos imóveis, uma das principais causas de insatisfação da população. Um relatório do Interventor Geral do Estado, apresentado durante a campanha eleitoral, revelou que o valor dos imóveis subiu 55% entre 2008 e 2013 e que os aluguéis aumentaram em 30%.

"As razões desses preços elevados são diferentes. Mas foi principalmente a falta de ação do governo, que durante anos não construiu, não investiu. Não se preocupou com a habitação. Hoje, há uma grande demanda de moradia por parte dos israelenses, mas a oferta é insuficiente. A quantidade de construções é muito inferior ao necessário. Então os preços aumentaram muito nos últimos dez anos, principalmente porque construir em Israel leva muito tempo. O processo de construção pode levar 10 anos. Tudo isso levou em 2015 a uma bolha imobiliária, com uma moradia muito cara", avalia Bendelac.

Economia de cartel

Não é apenas a moradia que é cara em Israel. Os setores de alimentação, saúde, comunicação e transporte também têm preços elevados. Bendelac culpa o modelo econômico do país: "Isso acontece porque a economia de Israel é principalmente uma economia de cartel, de grandes empresas, que têm uma política de preços muito elevados. A concorrência não existe de verdade. Os preços são altos porque há grandes empresas que dominam a maior parte do mercado, seja no setor de alimentos ou de transporte. São monopólios que dominam o mercado. Dizemos que em Israel há 20 famílias que possuem a metade da riqueza nacional. É uma economia com um forte crescimento, mas muito desigual, com pessoas muito ricas e grandes empresas e pessoas que têm dificuldade em sobreviver".

Questão palestina

Outro claro desafio do novo governo é a questão palestina. O processo de paz não avançou no último ano e perdeu força durante o mandato de Netanyahu. No final da campanha eleitoral, ele disse inclusive que não será criado o Estado palestino enquanto ele for premiê.

"Vemos um governo colonizador que sai fortalecido dessas eleições e que então deve ser limitado o mais rápido possível pela ação da comunidade internacional, cuja ação ou falta de ação contribuiu para esse resultado. Nós queremos a nossa liberdade e nós queremos nossos direitos. E achamos que a impunidade de Israel é um dos grandes obstáculos para a obtenção desses dois objetivos", critica o diplomata palestino Majed Bamya.

E continua: "Temos o direito, como todas as nações do mundo, de ir às convenções internacionais e de ter acesso às cortes internacionais e esperamos julgar os criminosos de guerra. Infelizmente, Israel lançou medidas punitivas e ninguém brecou esse tipo de medida para não nos permitir de colocar fim à sua impunidade. Mas continuamos a nossa missão de levar a julgamento os responsáveis pela colonização e pelo massacre contra o nosso povo no verão de 2014".

Relação com os Estados Unidos

O novo primeiro-ministro terá que lidar ainda com a disputa pendente entre Israel e a União Europeia sobre a regulamentação das isenções alfandegárias às importações israelenses. Outra questão problemática são as abaladas relações com o presidente norte-americano, Barack Obama, após Netanyahu realizar um polêmico discurso no dia 3 de março no Congresso dos EUA, no qual condenou um acordo com o Irã na questão nuclear, contrariando os desejos do governo norte-americano. A perda do apoio dos Estados Unidos representaria um enfraquecimento para Israel.

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