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Um pulo em Paris

Demanda por vasectomia tem forte alta entre homens jovens na França

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A Agência Nacional de Segurança do Medicamento e de Produtos de Saúde, com atribuições semelhantes à Anvisa no Brasil, publicou neste mês de fevereiro um relatório que aponta que o número de vasectomias aumentou 15 vezes em 12 anos na França. No mesmo período do levantamento, feito entre 2010 e 2022, o número de esterilizações femininas, seja pela cirurgia de laqueadura das trompas ou pela colocação de implantes – retirados do mercado em 2017 – diminuiu 50%.

Enquanto para as mulheres existem vários métodos de contracepção, os homens só dispõem do preservativo e da vasectomia.
Enquanto para as mulheres existem vários métodos de contracepção, os homens só dispõem do preservativo e da vasectomia. © Unsplash- rhsupplies
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Durante anos, a vasectomia era uma demanda de homens de 35 a 45 anos. O que mudou na última década é o interesse de jovens franceses que a partir de 18 anos querem fazer a cirurgia de esterilização masculina. Segundo o relatório, abaixo de 30 anos, o número de pedidos aumentou 28 vezes em dez anos.

O procedimento interrompe a circulação dos espermatozoides produzidos pelos testículos nos canais deferentes do sistema reprodutivo masculino que desembocam na uretra, sem comprometer a ejaculação, apenas impedindo a gravidez.

De acordo com urologistas, os jovens que buscam a cirurgia na França dizem que não desejam ter filhos por causa das consequências da mudança climática, da superpopulação do planeta ou pela simples vontade de viver sem a carga de trabalho e responsabilidade que um filho representa. Mas muitos homens também entenderam que era preciso dividir a responsabilidade da contracepção com suas companheiras.

Quando o paciente tem menos de 25 anos, os médicos alertam que a esterilização nem sempre é reversível e deve ser uma decisão refletida. Mas como as opções para evitar filhos são limitadas para os homens, basicamente só existe o preservativo ou a vasectomia, a cirurgia passou a ser usada como método anticoncepcional. A legislação francesa prevê um prazo de reflexão de quatro meses entre a primeira consulta de informação e o procedimento cirúrgico.

Resistência de médicos

Homens de 18 a 25 anos que dizem ter certeza que não querem ter filhos têm relatado à imprensa e nas redes sociais que não tem sido fácil encontrar um especialista que concorde com a vasectomia precoce. Em reportagens, alguns contam que tiveram de bater em várias portas até encontrar um especialista disposto a fazer a ligadura. Não são todos que aceitam.

Diante da recusa do médico, eles se sentem desrespeitados, como se não tivessem o direito de escolher o que querem para a própria vida e o corpo. Os urologistas que aceitam a demanda costumam recomendar o congelamento do esperma antes do procedimento, que se torna uma garantia em caso de mudança de planos mais tarde.

Procedimento ainda inspira comentários machistas

Nas redes sociais, homens jovens que fizeram a vasectomia e compartilham a experiência são questionados com comentários machistas, do tipo “você não é mais um homem de verdade”, “você foi castrado como os animais” e isto dito por homens da mesma faixa etária. Muitos ainda cultuam a ideologia do macho dominante.

Por ignorância ou machismo, há homens que acreditam que a vasectomia compromete a virilidade, arranha a imagem de força que insistem em manter perante as mulheres e a sociedade, ou que causa impotência, o que é falso. A ligadura dos canais do sistema reprodutivo masculino permite que o homem continue ejaculando normalmente, apenas o sêmen deixa de conter espermatozoides e por isso impede a gravidez.

As mulheres francesas aprovam essa mudança de comportamento da nova geração, afinal esperaram décadas para poder contar com essa evolução da mentalidade.

Mulheres aprovam mudança de comportamento

Nesta quinta-feira (29), uma humorista da rádio France Inter, emissora de maior audiência na França, apresentou o quadro “Vasectomia para todos”. Ela recordou que as mulheres "se entopem" há décadas de hormônios para evitar a gravidez, às vezes correndo riscos para a própria saúde, e nenhum homem parece se comover com isso. Agora que a nova geração finalmente se conscientizou de que era preciso dividir essa responsabilidade, ela aconselhou os homens a ir a fundo na vasectomia, sem medo. "Vocês vão continuar atraentes", disse, antes de acrescentar com humor: "E continuar ganhando um salário 20% ou mais superior ao das mulheres".

O sistema público de saúde francês cobre 80% dos custos da vasectomia. Os 20% restantes ficam a cargo do seguro-saúde que as empresas são obrigadas a oferecer aos empregados. 

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