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Um pulo em Paris

Combate ao turismo em massa na Europa: preservação do patrimônio ou xenofobia?

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Veneza, no norte da Itália, se tornou na quinta-feira (25) a primeira cidade a cobrar ingresso para visita. Paralelamente, vários países europeus adotam medidas para tentar lutar contra a frequentação massiva de turistas. As autoridades alegam a necessidade de preservar o patrimônio local, mas visitantes estrangeiros também vêm sendo alvo de xenofobia.

Desde 25 de abril, turistas que passam o dia em Veneza devem desembolsar € 5 para visitar a cidade.
Desde 25 de abril, turistas que passam o dia em Veneza devem desembolsar € 5 para visitar a cidade. AP - Luca Bruno
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Daniella Franco, da RFI

Medida ainda em fase de experimentação, a entrada de € 5 em Veneza entrou em vigor sem muita resistência da parte dos turistas e sob críticas dos moradores. A administração local escolheu 29 dias em todo o ano de 2024 – e todos os fins de semana de maio a julho – para que essa tarifa seja cobrada de visitantes que chegam para passar o dia na cidade. Ela não se aplicará àqueles que planejam pernoitar no local.

Com 50 mil habitantes, a cidade famosa por seus canais, gôndolas e arquitetura única, recebe 20 milhões de turistas por ano. Em época de alta temporada, a quantidade de pessoas na cidade chega a dobrar, o que dificulta a convivência com os moradores.

Para o prefeito de Veneza, Luigi Brugnaro, o turismo na cidade “precisa mudar” para protegê-la. “O objetivo é definir um novo sistema de gestão dos fluxos turísticos e desencorajar o turismo diário em alguns períodos”, explicou.

Os turistas aprovam a medida e parecem não se importar em pagar a taxa, um valor baixo em relação ao preço dos ingressos de museus e espetáculos. “Acho que é uma boa medida para diminuir a frequentação de visitantes em Veneza”, afirma o turista francês Sylvain Pélerin.

Mas nem todos os moradores de Veneza concordam com a imposição de um ingresso para visitar a cidade, e veem a medida como um ataque à liberdade de circulação.

“Não somos um museu ou uma reserva natural, mas uma cidade, onde não deveria ser necessário pagar para ter acesso”, afirma Marina Dodino, integrante da associação de moradores Arci Venezia.

Medidas se multiplicam pela Europa

Em outros países europeus, movimentos de moradores contra turistas realizam ações que beiram a xenofobia. Em Málaga, no sul da Espanha, adesivos com mensagens hostis aos visitantes são colados nas portas de imóveis que foram transformados em hotéis ou Airbnbs.

Nas ilhas Canárias, manifestantes saíram às ruas na semana passada para denunciar o turismo em massa e os prejuízos ambientais, com as construções de imensos complexos hoteleiros. “Não somos contra o turismo. Somos contra esse modelo que resulta na degradação da nossa terra e do nosso povo”, afirmou uma manifestante em Santa Cruz de Tenerife.

Em Atenas, na Grécia, frases contra turistas são pichadas em muros perto da Acrópole. Desde o ano passado, o governo grego impôs um limite de venda de 20 mil ingressos por dia para visitar o monumento que é símbolo do país. Na ilha de Santorini, os desembarques nos portos foram reduzidos a oito mil por dia para evitar o engarrafamento de embarcações.

França: 100 milhões de turistas por ano

Na França, o governo já elaborou um plano contra o turismo de massa cujos detalhes serão apresentados em breve. O país, que é o primeiro destino turístico do mundo, recebe 100 milhões de turistas estrangeiros por ano. Esse número deve ser ainda maior em 2024, já que Paris sedia neste ano os Jogos Olímpicos.

No entanto, algumas localidades já determinam medidas por conta própria. É o caso do Parque Nacional das Calanques, em Marselha, no sul da França, que estabeleceu um limite de 400 visitantes por dia. A grande quantidade de turistas estava provocando a erosão de alguns pontos nas montanhas.

A ilha francesa de Porquerolles, uma reserva natural no Mar Mediterrâneo, também impôs há três anos o limite de 6 mil chegadas por dia nos meses de julho e agosto, período do verão no Hemisfério Norte.

O Monte Saint Michel, na Normandia – o local mais turístico da França depois de Paris – colocou em prática todo um sistema de regulação do fluxo de visitantes. O acesso aos estacionamentos é limitado nos horários de pico, além do controle da quantidade de ônibus que levam os turistas até o local durante o dia, principalmente na alta temporada. O objetivo é proteger esse vilarejo que abriga uma abadia medieval que é Patrimônio Mundial da Unesco.

“A frequentação turística constitui, às vezes, uma ameaça à preservação dos destinos”, afirma a ministra francesa encarregada do Comércio, Olivia Grégoire, em entrevista ao jornal Le Figaro. Além disso, “80% da atividade turística se concentra em 20% do território”, ressalta.

Para ela, é essencial dividir a vinda massiva de visitantes ao longo do ano e por todo o país. Uma das pistas estudadas pelo governo francês é a promoção do que a ministra classifica de “turismo quatro estações”, além da divulgação de circuitos e destinos alternativos.

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