“Próximas horas serão determinantes”: governo francês prevê fim de semana de violência

Após a terceira noite de distúrbios, a França se prepara para um fim de semana de forte tensão. O funeral do adolescente Nahel M., morto pela polícia na última terça-feira (27), será realizado neste sábado (1°). O governo aposta na eficácia de uma série de medidas anunciadas na tarde desta sexta-feira (30) para colocar fim às violências, mas descarta decretar estado de emergência por enquanto.

Manifestantes queimaram carros e enfrentaram a polícia em Nanterre, na madrugada desta sexta-feira (30). REUTERS - GONZALO FUENTES

Em comunicado enviado às forças de segurança, o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, afirma que “as próximas horas serão determinantes”. Prevendo uma nova noite de distúrbios e vandalismo, ele diz “contar com o engajamento ao respeito das leis e da deontologia”.

No total, na noite de quinta (29) para sexta-feira (30), 875 pessoas foram detidas, 492 prédios foram atacados, dois mil veículos foram queimados e dezenas de lojas foram saqueadas. Cerca de 40 mil membros das forças de segurança foram mobilizados em toda a França em um dispositivo reforçado para tentar conter a revolta com a morte de Nahel, de 17 anos, baleado durante uma abordagem policial em Nanterre, a oeste de Paris.

“Vocês sabem que essa minoria de delinquentes não representa a imensa maioria de moradores dos bairros populares”, reiterou Darmanin. “Os reforços humanos e materiais que enviamos a vocês atualmente lhes darão meios para defender a República e seus valores”, completou o ministro.

Estado de emergência é descartado

Apesar dos pedidos da extrema direita para o endurecimento das medidas contra os distúrbios, o governo descarta decretar estado de emergência. No entanto, nesta tarde, anunciou uma série de medidas, entre elas, a mobilização de veículos blindados.

Vários eventos noturnos estão sendo cancelados, como o show da cantora canadense Mylène Farmer, que ocorreria nesta sexta-feira e sábado no Stade de France, em Saint-Denis, periferia de Paris. Manifestações contra as violências policiais também foram proibidas em 18 cidades francesas.

O Ministério do Interior ordenou a suspensão da circulação de ônibus e bondes a partir das 21h. Proibiu também a venda e transporte de fogos de artifício, galões de gasolina e produtos inflamáveis que possam ser usados na fabricação de coquetéis molotov.

Após reunião da célula interministerial de crise, o presidente Emmanuel Macron anunciou que o governo vai pedir que as redes sociais retirem “conteúdos sensíveis”, que possam incitar mais violência. O chefe de Estado também fez um apelo para que as famílias mantenham os jovens em casa. 

"É claro e visível que o contexto em que vivemos é o resultado da ação de grupos organizados, que condenamos e que serão julgados, mas também de muitos jovens", explicou Macron.

Segundo a imprensa francesa, a metade dos detidos na última noite têm entre 14 e 18 anos. Forças de ordem afirmam que câmeras de segurança registraram a participação de adolescentes ainda mais jovens nos atos, de 12 e 13 anos. 

Funeral de Nahel

O prefeito de Nanterre, Patrick Jarry, anunciou que o funeral de Nahel será realizado neste sábado. “É preciso continuar apoiando essa família, essa mãe que vai enterrar seu filho”, afirmou depois de uma reunião com a cúpula do governo.

A cerimônia ocorrerá em uma funerária de Nanterre, antes de uma reza na mesquita local. O adolescente será enterrado às 14h30 pelo horário local no cemitério da cidade.

Até o momento, a família do jovem não indicou se o público poderá participar das cerimônias. Na quinta-feira, uma passeata silenciosa, convocada pela mãe de Nahel, Mounia M., reuniu mais de seis mil pessoas em Nanterre. No final da homenagem, jovens entraram em confronto com a polícia, em distúrbios que se estenderam até a madrugada.