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Um pulo em Paris

Inflação alta e veganismo fazem franceses mudar de hábitos no Natal

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O aumento da inflação impôs mudanças aos franceses naquilo que eles mais apreciam: a boa mesa. Com algumas especialidades a preços astronômicos, pratos típicos dessa época do ano estão sendo substituídos por alternativas mais em conta. O tradicional foie gras, o polêmico fígado gordo de pato ou ganso, dobrou de preço em um ano e está custando a bagatela de € 150 o quilo, cerca de R$ 822. 

Mesa típica para uma ceia de Natal na França.
Mesa típica para uma ceia de Natal na França. © DR
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Esta entrada, que sempre foi associada a um luxo, mas que a maioria das famílias ainda fazia questão de ter na mesa de Natal e no Réveillon, praticamente sai do cardápio. Isto já era uma tendência, devido à forma como as aves são forçadas a se alimentar.

A moda, agora, é servir a versão vegana do foie gras, que os chefes de cozinha batizaram de "non gras", uma receita à base de castanhas, manteiga de cacau, óleo de coco, missô japonês, pasta de gergelim, conhaque e uma pitada de trufa, aquele fungo raro que também é um assalto à carteira. 

Os chefes de cozinha dão várias ideias de como fazer uma ceia de Natal sem se arruinar. A dica é evitar o salmão selvagem, trocado pela truta, algumas espécies de aves e crustáceos que encareceram acima da conta e substituí-los por outros produtos, principalmente, pelas vieiras, chamadas de noix de Saint-Jacques, abundantes na França neste ano.

Com a comida cara, o orçamento para presentes diminuiu e esta é outra tendência de fundo. As lojas estão lotadas, mas é perceptível que os franceses estão privilegiando mais qualidade e menos quantidade, tanto devido à inflação, dos preços proibitivos, quanto por consciência ecológica. Na França, não é comum fazer amigo secreto, mas isso está mudando, justamente para diminuir a quantidade de presentes nas famílias. 

Segundo uma pesquisa Ifop, 18% dos franceses não irão oferecer presentes de Natal neste ano, uma alta de 8 pontos em relação ao ano passado. A geração mais jovem tem muito mais consciência da gravidade das mudanças climáticas, sofre com isso e quer se livrar do peso que essa tradição de consumo exagerado e presentes representam. 

Nas vésperas do Natal, dá para ver que as pessoas aguardam a temporada de liquidação de inverno, que vai começar em 11 de janeiro. Tem muita mercadoria sobrando nas lojas. Marcas de roupa mais caras diminuíram visivelmente suas coleções. Algumas lojas têm aquela área enorme e poucas peças nos cabides. Os donos de indústrias estão pessimistas: 56% acreditam que 2023 será um ano difícil para o setor da moda na Europa, contra 9% que faziam essa previsão pessimista no ano passado.  

A festa das famílias

Fala-se muito que os franceses são desgarrados das famílias, mas o Natal é realmente a data em que a grande maioria das pessoas fica em família. Para muita gente, é a única ocasião do ano em que toda a família se reúne: bisavós, avós, pais, filhos, netos e bisnetos. Quem mora fora volta para casa; os aposentados, que costumam mudar para uma região mais ensolarada, ficam com a casa cheia. Por isso, os preparativos para a ceia do dia 24 e o almoço de 25 de dezembro são tão importantes. 

As pessoas são capazes de passar de três a cinco horas à mesa, e cada região tem suas tradições. Uma delas é o trou normand, um hábito criado na Normandia. Para aguentar a refeição de duas ou três entradas, prato de peixe, uma ave assada, queijos e sobremesas, bebe-se um copo de Calvados, a cachaça local feita de maçã, entre as etapas, para abrir de novo o apetite. Assim, é garantido que a comilança dure horas. 

Depois do Natal, quem tem dinheiro viaja. Alguns vão para as estações de esqui, embora as pessoas prefiram fazer o esqui em fevereiro e passar o Natal e o Ano-Novo mais sossegados. O que está uma dor de cabeça nesses dias é a greve de trens.

Greve de trens prejudica viagens

A greve dos agentes que controlam as passagens deve tirar de circulação praticamente dois terços dos trens na França, neste fim de semana. Os controladores, independentes de sindicatos, convocaram uma mobilização por aumento de salários, e mais de 200 mil passageiros tiveram suas passagens canceladas.

A companhia ferroviária SNCF indenizou os clientes, propondo um vale no valor do dobro da passagem perdida, mas a paralisação estragou o Natal de muita gente. Os carros de locação desapareceram das lojas, os preços das passagens de ônibus e de caronas na plataforma Blablacar foram às alturas, um estresse de última hora que deixou os viajantes irritados.

O conflito social só foi resolvido na manhã de sexta-feira (23), depois que o presidente Emmanuel Macron deu uma bronca, na véspera, no presidente da companhia, no ministro dos Transportes, e acusou os grevistas de falta de empatia com a população, ao fazer uma greve no único momento do ano em que as pessoas visitam familiares. 

Finalmente, um acordo foi encontrado, e os sindicatos da SNCF suspenderam a greve que também estava prevista para o fim de semana do Ano-Novo. O Natal já está perdido.

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