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Um pulo em Paris

França se preocupa com possível polarização política de torcedores brasileiros na Copa

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A dois dias do segundo turno no Brasil, a campanha eleitoral ganha forte repercussão na Europa. Na França, onde o futebol brasileiro é adorado, questiona-se se a polarização política vai dividir a torcida na Copa do Mundo, que tem início em 20 de novembro.

Eleitores de Bolsonaro durante comício do presidente em São João de Meriti, no Rio de Janeiro, em 27 de outubro de 2022.
Eleitores de Bolsonaro durante comício do presidente em São João de Meriti, no Rio de Janeiro, em 27 de outubro de 2022. AP - Silvia Izquierdo
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Até que ponto uma disputa eleitoral pode interferir nos esportes e em uma torcida nacional? O jornal esportivo francês L’Equipe aborda as tensões em torno da camisa da Seleção Brasileira de futebol em uma matéria assinada pelo correspondente do diário no Rio, Eric de Frosio.

Para o repórter o "verde e amarelo" se tornou, nos últimos anos, “símbolo do nacionalismo exacerbado encarnado por Bolsonaro”. Segundo a matéria, “para promover o patriotismo descomplexado do presidente, seus partidários se apropriaram da camisa da Seleção e da bandeira brasileira”.

De fato, a emblemática “amarelinha” também é utilizada como um veículo de propaganda pelo governo. Na época em que era presidente dos Estados Unidos, Donald Trump foi presenteado com a camisa da Seleção. O uniforme também é utilizado por Bolsonaro em alguns de seus comícios de campanha.

De Frosio afirma que, a menos de um mês da Copa do Mundo de Futebol, vai ser complicado vestir a camisa amarela da Seleção sem ser visto como um bolsonarista ou “sem ser relacionado a um fascista”.

Camisa azul

O repórter do L’Equipe entrevistou representantes do Movimento Verde e Amarelo, grupo de torcedores brasileiros fundado em 2008, que lamenta que a camisa da Seleção esteja sendo utilizada para fins políticos. Há meses, muitos brasileiros que se sentem incomodados com a relação das cores da bandeira a bolsonaristas afirmam que pretendem usar a camisa azul para torcer para o Brasil na próxima Copa do Mundo, no Catar.

Não apenas torcedores se irritam com essa apropriação política de um símbolo nacional, mas jogadores também. O atacante Richarlisson, do Tottenham, na Inglaterra, manifesta incômodo com essa situação. Segundo ele, a camisa do Brasil, que está perdendo a sua essência, “é a representação de um povo inteiro e não apenas de uma parte da população”.

Para encontrar uma solução para essa situação, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lançou novas versões da camisa da Seleção, nas cores amarelo e azul. No lançamento desse novo modelo, a entidade lembrou, no Twitter, que o objetivo é homenagear a coragem e a cultura de um povo e unir todos os brasileiros. Uma tentativa da CBF de se distanciar da polêmica envolvendo essa apropriação política de símbolos do Brasil, segundo o L’Equipe.

Apoio de jogadores a candidatos

O apoio de Neymar a Bolsonaro gerou forte polêmica na França. Antes do 1° turno, em 30 de setembro, o atacante do PSG publicou um vídeo no TikTok cantando uma música a favor da reeleição do presidente. No último domingo (23) Neymar participou de uma live com Bolsonaro e prometeu homenageá-lo quando marcar seu primeiro gol na Copa.

O jornal Libération é um dos que mais critica a atitude de Neymar. O diário se diz “surpreso” com a manifestação do atacante a favor de Bolsonaro, uma atitude classificada de “esquizofrênica”. “Muitos dos jogadores da Seleção são negros ou pardos, e são os primeiros a ficar indignados, com razão, quando há casos de racismo nos jogos”, diz a matéria. Libé cita algumas das declarações racistas do presidente nos últimos anos e não vê sentido que jogadores brasileiros vítimas de racismo votem em Bolsonaro.

O jornal esportivo espanhol El Mundo afirmou que, apesar do apoio acalorado do Neymar a Bolsonaro, o atacante do PSG não votou. O diário descobriu que Neymar não transferiu seu título de eleitor para Paris e seu local de voto continua sendo São Paulo.

Já a rádio francesa RMC aponta a falta de cultura política entre alguns jogadores que apoiam Bolsonaro, como Lucas Moura. Em um tuíte, o meio-campista do Tottenham chegou a comparar o socialismo ao nazismo.

Entre os jogadores brasileiros na Europa, também há manifestações pró-Lula. É o caso de Paulinho, atacante do Bayer Leverkusen, na Alemanha, que declarou voto no candidato petista.

Já o ex-jogador Raí, que mora em Paris e estuda Ciências Políticas na prestigiosa universidade Sciences Po, publicou, no início deste mês, um vídeo em sua conta no Instagram e declarou seu apoio a Lula. Há poucos dias, durante a cerimônia da Bola de Ouro, Raí fez um discurso e evocou o engajamento de seu irmão, Sócrates, pela volta da democracia no Brasil. Ao terminar a homenagem, fez o gesto “L” com a mão, em referência a Lula.

Outro apoiador do candidato petista no meio do futebol é Juninho Pernambucano, ex-jogador do Olympique Lyonnais, na França. O ex-craque, que nunca escondeu seu engajamento à esquerda, chegou a participar da propaganda eleitoral de Lula neste ano.

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