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Um pulo em Paris

A opinião dos franceses sobre a guerra na Ucrânia e a campanha presidencial na França

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A guerra na Ucrânia traz muitas incertezas sobre o futuro da União Europeia no contexto geopolítico mundial. Os franceses têm reagido a este conflito tão próximo de suas fronteiras com a certeza de estarem do lado certo, ao apoiar os ucranianos diante da agressão da Rússia, mas também com apreensão sobre o desfecho da guerra iniciada por Vladimir Putin. 

Manifestação de apoio aos ucranianos na praça da República, em Paris, em 26 de fevereiro de 2022, dois dias depois do início da ofensiva russa.
Manifestação de apoio aos ucranianos na praça da República, em Paris, em 26 de fevereiro de 2022, dois dias depois do início da ofensiva russa. AP - Adrienne Surprenant
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Uma pesquisa mostrou esta semana que 70% dos franceses aprovam o fornecimento de armas à Ucrânia, apesar das advertências que fazem alguns analistas. Devido à superioridade militar da Rússia, é provável que essas armas caiam nas mãos do Exército russo e acabem fortalecendo o inimigo. Vários observadores e políticos de oposição gostariam de ver a França e a União Europeia (UE) investindo mais nos canais diplomáticos, em vez de aumentar diariamente a escalada com Putin. 

Apesar da Rússia ter declarado uma guerra com consequências imprevisíveis para a Europa, o presidente francês, Emmanuel Macron, tem procurado não romper o diálogo com Putin. O fracasso diplomático de suas tentativas de mediação tem sido relativamente tolerado pelos franceses, que aprovam, em algum grau, o protagonismo de Macron em defesa da paz. Analistas veem a manipulação de Putin como uma humilhação para a União Europeia, mas parte dos franceses são mais complacentes com seu chefe de Estado.

As sanções econômicas aplicadas contra a Rússia encarecem a gasolina, a conta de luz, de gás, os cereais, e provocam alta da inflação na França, mas 79% da população apoia a punição financeira contra o regime autoritário de Putin, segundo uma pesquisa do instituto Odoxa realizada para o jornal Le Figaro. Por outro lado, os franceses rejeitam o envio de soldados para a frente de batalha na Ucrânia, uma medida que angaria o apoio de apenas 26% das pessoas ouvidas. Por enquanto, os franceses estão dispostos a aceitar o custo econômico da retaliação, sem se envolver diretamente no conflito armado, nem dentro da Otan (45% de aprovação). 

Ameaça nuclear em todas as conversas

O risco de uma guerra nuclear está presente em todas as conversas. A especialidade de Putin é a intimidação, a guerra psicológica, e ele parece disposto a tudo para deixar uma marca vitoriosa na história da Rússia.

O mais triste em relação a tudo isso é o efeito da guerra no comportamento de crianças e adolescentes. Eles já não estavam bem depois de dois anos de pandemia. Agora, questionam os adultos se haverá uma terceira guerra mundial. Com o acesso à internet nos celulares, ficou difícil proteger crianças e jovens das imagens da guerra e poupá-las da ansiedade que este mundo ameaçador representa. Sem fugir da realidade, os professores têm tentado diminuir esse estresse. A Unicef denunciou hoje o traumatismo de guerra sofrido pelas crianças ucranianas.

Refugiados ucranianos

Até essa quinta-feira (3), cerca de 800 refugiados ucranianos chegaram no territórico francês, segundo informações do Ministério do Interior. Alguns estão em trânsito para outros países, como Portugal, Espanha ou Reino Unido, onde têm amigos ou familiares. Os franceses têm acolhido os ucranianos de braços abertos, oferecendo quartos em suas casas e apartamentos. Os prefeitos estão muito mobilizados nessa rede de assistência. Até surgiram polêmicas sobre essa abertura a refugiados brancos, em relação a discriminações contra negros, árabes e asiáticos.

Quase todos os dias acontecem vigílias na praça da República, no centro de Paris, para condenar a guerra, e manifestações de protesto em frente à embaixada russa na capital. 

O mundo cultural também tem se posicionado, com iniciativas de combate a fake news e acolhimento de artistas ucranianos. Mas nem tudo é solidariedade. Donos de restaurantes russos têm sido ameaçados em Paris e algumas campanhas de cancelamento de artistas russos surgiram nas redes sociais. 

Macron cresce nas pesquisas

A França está a 37 dias do primeiro turno das eleições presidenciais e vive uma incerteza inédita sobre o espaço que os debates de campanha terão nos próximos dias. A oposição teme que Macron se esquive de um enfrentamento sobre o balanço de seu primeiro mandato e sequer detalhe seu programa para o próximo governo.

Os adversários têm acusado Macron de ter querido ganhar pontos com a presidência rotativa da União Europeia, que vai até 30 de junho, e agora, atropelado pela pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, seja integralmente absorvido pelo mandato europeu, em vez de enfrentar com coragem o debate nacional.

A política externa, que raramente tem importância numa campanha presidencial, desta vez ganhou outra dimensão. Além disso, a situação ficou mais favorável para o centrista porque os quatro adversários diretos de Macron, com mais de 10 pontos de intenção de voto, manifestaram algum tipo de apoio, admiração ou simples complacência com Vladimir Putin. Resultado: Macron, que já liderava a corrida para o primeiro turno, ganhou de três a cinco pontos nas sondagens nos últimos dias. 

Na pesquisa BVA publicada nesta sexta-feira (4), ele tem 29% de intenções de voto, muito à frente de Marine Le Pen, da extrema direita, que recuou para 16% (-1,5 ponto em 15 dias). Outro representante da extrema direita, Eric Zemmour, caiu para 13% (-1,5 ponto) e está empatado com a candidata da direita republicana, Valérie Pécresse (13%, -0,5 ponto). Na ordem de classificação, o candidato de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon subiu para 11,5%, enquanto o ecologista Yannick Jadot recolhe 5,5% de intenções de voto.

O risco de uma campanha sem debate é a abstenção recorde do eleitorado. A França tem o primeiro turno marcado para 10 de abril e o segundo, dia 24 do mesmo mês.

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