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Linha Direta

Violências em Jerusalém aumentam temores de nova escalada entre Israel e Gaza

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As violências entre manifestantes palestinos e polícia israelense no fim de semana, em Jerusalém, aumentam temores de uma escalada entre Israel e Gaza nos próximos dias. Líderes da Jihad Islâmica afirmaram que as tensões em Jerusalém podem levar a um “confronto total”.

Muçulmanos diante do Domo da Rocha, nas proximidades da mesquita Al-Aqsa, na cidade velha Jerusalem, domingo 17 de abril de 2022.
Muçulmanos diante do Domo da Rocha, nas proximidades da mesquita Al-Aqsa, na cidade velha Jerusalem, domingo 17 de abril de 2022. AFP - AHMAD GHARABLI
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Daniela Kresch, correspondente da RFI em Tel-Aviv

O domingo foi de apreensão em Jerusalém, cidade sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos, justamente num ano de rara coincidência religiosa que não acontecia desde 1991. O fim de semana marcou não só a Páscoa cristã, mas o começo da Páscoa judaica (o Pessach), que dura uma semana, e o Ramadã, o mês sagrado muçulmano de jejum que começou em 1° de abril.

Mas as orações foram marcadas por confrontos entre manifestantes palestinos e policiais israelenses no local mais sensível da região: a Esplanada das Mesquitas – também conhecida como Monte do Tempo – na Cidade Velha de Jerusalém. A esplanada é onde fica a Mesquisa de Al-Aqsa, terceiro local mais sagrado para o Islã. Ela é adjacente ao Muro das Lamentações, local mais sagrado para o Judaísmo.

De manhã, policiais israelenses fecharam por algumas horas a entrada de fiéis muçulmanos na Esplanada, para evitar atrito com judeus que visitavam a Esplanada das Mesquitas por ocasião da Páscoa judaica – o Pessach. 

O fechamento irritou grupos de jovens palestinos, que lançaram objetos contra as forças de segurança. Alguns deles apedrejaram ônibus com civis judeus que estavam indo em direção ao Muro das Lamentação e atacaram com socos judeus ultraortodoxos que andavam em ruelas da Cidade Velha.

A polícia usou cassetetes, granadas de efeito moral e balas de borracha contra os manifestantes, que entoavam gritos de guerra como: “com nossas almas, com nosso sangue, nos sacrificamos por Al-Aqsa”. Cerca de 20 palestinos foram presos e outros 20 ficaram feridos.

A polícia de fronteira israelense faz patrulha no Portão dos Leões, na cidade velha de Jerusalém, enquanto palestinos esperam a liberação para entrar na Mesquita de Al-Aqsa, domingo, 17 de abril de 2022.
A polícia de fronteira israelense faz patrulha no Portão dos Leões, na cidade velha de Jerusalém, enquanto palestinos esperam a liberação para entrar na Mesquita de Al-Aqsa, domingo, 17 de abril de 2022. AFP - AHMAD GHARABLI

Proibição 

Segundo o status quo estabelecido entre Israel e a Jordânia após a Guerra dos Seis dias, em 1967, quando os israelenses tomaram o controle de Jerusalém Oriental – onde fica a Cidade Velha –, é proibido a não-muçulmanos rezar na Esplanada das Mesquistas.

Essa regra foi criada justamente para não melidrar os palestinos e o mundo árabe-muçulmano como um todo, que não aceitam a presença de Israel na Cidade Velha e em toda parte Oriental de Jerusalém.

Nos últimos anos, no entanto, alguns judeus visitam o local para rezar furtivamente e, paralelamente, demostrar que Israel exerce soberania sobre toda Jerusalém, que considera ser sua capital.

Grupos nacionalistas judaicos têm pregado cada vez mais que judeus possam rezar no Monte do Templo – nome judaico da Esplanada das Mesquitas – porque era lá que ficavam os templos bíblicos sagrados de Salomão e de Herodes – este último destruído há dois mil anos.

Eles gostariam, inclusive, de construir mais um templo no local, o que não é corroborado pela maioria esmagadora da opinião pública israelense. Mas os palestinos temem que isso aconteça. Este ano, um grupo até tentou sacrificar um cabrito no Monte do Tempo em homenagem à Páscoa judaica, como se fazia há milênios nos templos bíblicos, mas a polícia confiscou o animal.

Manifestações 

A tensão atual em Jerusalém não acontece sem motivo. Os ânimos já estavam agitados por ocasião do mês do Ramadã, quando extremistas muçulmanos – uma minoria – consideram ser seu dever lutar contra “infiéis”.

Este ano, esse clima pré-Ramadã levou a uma série de atentados terroristas, desde março, cometidos por cidadãos árabes de Israel ou por palestinos da Cisjordânia. Esses atentados mataram 14 pessoas em Israel, em cidades como Tel Aviv, Hadera, Beer Sheva e Bnei Brak.

A reação massiva das forças de segurança israelenses – com prisões em massa de suspeitos de terrorismo na Cisjordânia – levou a 15 mortes de palestinos, o que acabou insuflando o nervosismo também em Jerusalém.

Na sexta-feira (15), jovens palestinos passaram a lançar paus, pedras e outros objetos contra forças de segurança e civis nos arredores da Esplanada das Mesquisas. A polícia israelense reagiu com granadas e balas de borracha. Mais de 150 pessoas ficaram feridas e 400 foram detidas. Os policiais chegaram a invadir a Mesquisa de Al-Aqsa para deter manifestantes.

Manifestantes palestinos enfrentam a polícia israelense em Jerusalém, em 15 de abril de 2022.
Manifestantes palestinos enfrentam a polícia israelense em Jerusalém, em 15 de abril de 2022. AFP - AHMAD GHARABLI

Novo embate entre Israel e Gaza

O temor é que os confrontos em Jerusalém podem causar mais um embate entre Israel e Gaza, como no ano passado, principalmente esta semana, durante o Pessach, quando um grande número de fiéis judeus deve ir orar no Muro das Lamentações.

No ano passado, em maio, confrontos semelhantes na Esplanada das Mesquistas, levaram ao começo de uma guerra de 11 dias entre Israel e militantes palestinos de Gaza liderados pelo Hamas, o grupo islâmico que controla o território com mão de ferro desde 2007.

Foi supostamente para “defender a Mesquisa de Al-Aqsa” de Israel que o Hamas decidiu lançar foguetes e mísseis contra o país. O exército israelense reagiu com violentos ataques contra Gaza.

Este ano, por enquanto, o Hamas não parece estar interessado numa escalada como a do ano passado. Mas líderes de outro grupo atuante em Gaza, a Jihad Islâmica, afirmaram, neste domingo, que as tensões em Jerusalém podem levar a um “confronto total”. Caso haja mortes em meio aos embates em Jerusalém, é possível que o Hamas decida enfrentar Israel de novo.

Tudo isso tem implicações diretas na política local, enfraquecendo a coalizão de governo em Israel liderada pelo primeiro-ministro Naftali Bennet e o governo da Autoridade Palestina, liderado pelo presidente Mahmoud Abbas.

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