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Linha Direta

Venezuela: Maduro defende empresário extraditado e aumenta tensão com EUA

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Nicolás Maduro saiu em defesa do empresário colombiano Alex Saab, extraditado de Cabo Verde para os Estados Unidos no sábado (16). Ele é acusado de ser o testa de ferro do presidente venezuelano. Em represália, além do cancelamento da quarta rodada de diálogos com a oposição, o governo venezuelano organizou uma marcha a favor de Saab e fez duras críticas aos Estados Unidos no domingo (17), aumentando ainda mais a tensão entre os dois países. 

Manifestação em apoio a Alex Saab, empresário colombiano que foi extraditado de Cabo Verde para os Estados Unidos sob acusação de lavagem de dinheiro. Caracas, Venezuela, 17 de outubro de 2021.
Manifestação em apoio a Alex Saab, empresário colombiano que foi extraditado de Cabo Verde para os Estados Unidos sob acusação de lavagem de dinheiro. Caracas, Venezuela, 17 de outubro de 2021. REUTERS - LEONARDO FERNANDEZ VILORIA
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Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

As mobilizações em defesa de Alex Saab demonstram a importância que o empresário colombiano tem para o chavismo. Além de interromper o diálogo com a oposição, previsto para começar no domingo, o governo organizou uma marcha no centro de Caracas. Poucas pessoas participaram. A esposa do milionário, a italiana Camila Fabri, discursou ao lado de políticos.

Horas depois, Nicolás Maduro usou a tradicional cadeia de transmissão nacional de rádio e TV para defender seu suposto testa de ferro. Segundo o presidente venezuelano, o empresário foi "sequestrado". Caracas trabalha junto às Nações Unidas, em Nova York e Genebra, e ao lado de organizações de defesa dos direitos humanos para libertá-lo. Essa mobilização pode ser um indício de que Alex Saab tem informações comprometedoras sobre Nicolás Maduro. 

Saab e seu sócio comercial Álvaro Pulido são acusados nos Estados Unidos de dirigir uma rede que explorava a ajuda alimentar destinada à Venezuela. Eles são acusados de transferir cerca de US$ 350 milhões (quase R$ 2 bilhões) para contas que controlavam nos Estados Unidos e em outros países, e podem ser condenados a até 20 anos de prisão. O colombiano foi preso em junho de 2020 quando seu avião particular pousou em Cabo Verde para abastecer. O empresário pretendia desembarcar no Irã, um dos principais parceiros comerciais da Venezuela.        

Propaganda em favor de Saab

Poucas semanas após a prisão de Saab em Cabo Verde, o governo venezuelano fez uma campanha em defesa do colombiano. Foi a partir desta ação que Alex Saab se tornou popular no país, mas não como alguém que supostamente gerou prejuízos ao povo venezuelano.  

Além disso, já preso em Cabo Verde, Saab - que nasceu em Barranquilla, na Colômbia - ganhou a nacionalidade venezuelana e também um passaporte diplomático como representante comercial da Venezuela. 

Uma das jogadas do chavismo para livrar Saab da prisão era incluí-lo na mesa de diálogo com a oposição. Esta manobra foi vista com incredulidade dentro do próprio governo venezuelano. Para críticos, a estratégia pode ser interpretada como uma cartada em favor de alguém que tem informações comprometedoras. 

"Sequestraram um bom homem"

Para o presidente venezuelano, a extradição de Alex Saab do Cabo Verde à Flórida, nos Estados Unidos, marcou “um dia triste". "Sequestraram um bom homem. Saab foi perseguido por não falar contra a Revolução Bolivariana”, disse Maduro. "Levaram Saab sem avisar os advogados, a família, ninguém. Um sequestro compatível como a filosofia do governo dos Estados Unidos", reiterou.

Esta não é a primeira vez que o governo venezuelano critica os Estados Unidos abertamente, mas desta vez Maduro não mediu palavras. O líder venezuelano afirmou que Washington “violou o direito internacional ao sequestrar um diplomata". "A única coisa que ele fez foi amar a Venezuela. (...) Saab trouxe gasolina, alimentos, remédios" à Venezuela.

Com as refinarias petroleiras sucateadas, desde junho de 2020 a Venezuela começou a vender gasolina importada do Irã. Saab teria sido um dos intermediários na transação de combustível iraniano - país também sancionado pelos Estados Unidos.         

Foi o próprio Maduro que ordenou que o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, suspendesse a participação do governo na rodada de negociações com a oposição no domingo. Além disso, seis executivos da CITGO, a subsidiária da estatal PDVSA nos Estados Unidos, foram detidos. Eles já cumpriam prisão domiciliar, mas foram levados de volta à prisão no sábado.   

Maduro já se prepara para um novo capítulo na briga com os Estados Unidos. O líder venezuelano afirmou que “virão outras medidas. O governo dos Estados Unidos sabia que íamos responder de maneira contundente”.  

Desdobramentos da extradição

Saab deve se pronunciar nesta segunda-feira (18), por vídeo, à procuradoria do Distrito Sul da Flórida. De acordo com figuras do chavismo, o milionário colombiano deverá defender sua inocência. A situação se agrava com as provas que supostamente demonstram as negociações da dupla Saab-Pulido, feitas em diversas partes do mundo, sobre a compra de produtos para a Venezuela. Entre eles estão alimentos de qualidade duvidosa que integram a cesta básica que o governo fornece em programas sociais. 

Enquanto Saab estava em Cabo Verde, Maduro enviou advogados e agentes para tentar libertar o colombiano. Representantes do governo venezuelano teriam tentado coagir o Judiciário do arquipélago africano. Nas redes sociais cabo-verdianas foram publicados posts em defesa do empresário. 

O primeiro contrato assinado por Saab na Venezuela foi em 2011, quando Maduro era chanceler do presidente Hugo Chávez. Na ocasião, o colombiano fechou uma “aliança estratégica” para a construção de casas pré-fabricadas.

Diálogos interrompidos

Após a morte do ex-ministro da Defesa, Raúl Baduel, na última terça-feira (12), já pairavam dúvidas sobre a continuação das negociações, sobretudo por parte da oposição. No entanto, ao que tudo indica, foi o governo venezuelano quem decidiu colocar um ponto final nas conversas, que estavam sendo realizadas na Cidade do México. Maduro culpou governo norte-americano: “Os Estados Unidos sabiam que sequestrando Alex Saab estavam apunhalando o diálogo. Eles não querem diálogo”.

Gerard Blyde, um dos representantes da oposição na mesa de negociações, divulgou uma mensagem no domingo: “Aqui estamos para abrir a discussão sobre a construção do sistema de justiça. Venezuela é um país com uma justiça sequestrada, que persegue e prende a dissidência e promove a impunidade. Resgatá-la é um requisito fundamental para reconquistar nossos direitos”.       

A Noruega, país mediador dos diálogos, divulgou uma mensagem informando que “continua convencida de que as negociações são a única solução para a Venezuela. Seguiremos trabalhando para que as partes continuem, o mais breve possível, seu importante esforço na mesa de negociações para uma solução política inclusiva em benefício do povo venezuelano”.

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