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Esporte em foco

Qual o futuro da Federação Francesa de Futebol depois de escândalos envolvendo seu presidente?

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Depois de bater na trave na conquista do título na Copa do Mundo do Catar, a França enfrenta agora uma outra polêmica que movimenta o mundo do futebol. Uma auditoria instalada junto à Federação Francesa de Futebol (FFF) revelou uma série de escândalos envolvendo seu presidente, lançando algumas incertezas sobre o futuro da instituição.

O agora ex-presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF) Noël Le Graët, acusado de assédio moral e sexual depois da divulgação do relatório de uma auditoria na instituição. Na foto, Le Graët em Paris em 2021.
O agora ex-presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF) Noël Le Graët, acusado de assédio moral e sexual depois da divulgação do relatório de uma auditoria na instituição. Na foto, Le Graët em Paris em 2021. © FRANCK FIFE / AFP
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Por Andréia Gomes Durão, da RFI

“Quanto ao presidente Noël Le Graët, pelas irregularidades analisadas em termos de gestão, pelas suas declarações públicas, pelo seu comportamento gravemente inadequado com as mulheres, falhas acentuadas pelo consumo excessivo de álcool, eu só posso endossar a conclusão do relatório. Ele não tem mais a legitimidade necessária para administrar e representar o futebol francês nessas circunstâncias.”

Com essas declarações, a ministra francesa do Esporte, Amélie Oudéa-Castéra, revelou a conclusão do relatório da auditoria que coloca o presidente da FFF, Noël Le Graët, no epicentro de uma grave crise da federação, o que inclui acusações de assédio moral e sexual contra ele.

Afastado do cargo desde 11 de janeiro, ainda durante o curso das apurações na instituição, Le Graët alega que estaria sendo vítima de um complô político e midiático. E acabou decidindo renunciar à liderança da instituição na última terça-feira (28).

A figura de Le Graët é controversa. Ao mesmo tempo em que é alvo das denúncias de assédio e de centralizar o poder da federação em suas mãos, este bretão de 81 anos, à frente da chamada 3Fs desde 2011, tem a seu favor a reputação de ter turbinado o futebol francês e sua economia. Sob sua gestão, os Bleus conquistaram 11 títulos, inclusive uma Copa do Mundo, em 2018. E a federação alcançou um orçamento recorde de € 274 milhões.

Um desempenho saudado pelo comitê executivo (Comex) da instituição, curiosamente formado por apoiadores de Le Graët.

“A razão prevaleceu. O presidente, como esperado, renunciou. Foi extremamente comovente e todos nós ficamos muito tristes porque, obviamente, não é apenas um momento histórico, mas emocionalmente muito forte para todos. Agradecemos ao presidente pelo desempenho excepcional e pelo grande líder do futebol francês que ele foi”, declarou Eric Borghini, integrando do Comex, ao confirmar a renúncia do presidente no início desta semana.

Da FFF para a Fifa

Mas o anúncio da demissão não foi o único abalo recente promovido por Le Graët nesta polêmica. Tudo indica que o agora ex-presidente da Federação Francesa de Futebol irá “cair para cima”, quer dizer, ele deixa a federação nacional com a perspectiva de assumir o anexo parisiense da Federação Internacional de Futebol (Fifa). E será o braço direito em Paris do presidente da entidade, Gianni Infantino.

Para completar a série de decisões polêmicas, Le Graët também declarou, esta semana, que irá entrar com um recurso para contestar a auditoria na FFF, além de apresentar uma acusação contra a ministra do Esporte por difamação.

Levar o caso para o “lado pessoal” gerou uma forte reação de Amélie Oudéa-Castéra, que insiste que os desdobramentos deste processo se baseiam exclusivamente na conclusão do relatório, como ela declarou à rádio RTL.

“Durante a coletiva de imprensa eu apenas reproduzi os comentários da conclusão do relatório da Inspeção de Esporte. O documento relata comentários e mensagens de texto feitos por Le Graët, ambíguos para alguns, mas de caráter claramente sexual para outros. Esta é a linha do relatório, eu apenas citei o que reflete com precisão o trabalho que fizemos. É um trabalho de denúncia ao Ministério Público sem qualificarmos os fatos, pois não cabe a nós fazer isso.”

Mudanças profundas

A ministra também insiste que as informações reveladas pelo relatório têm consequências muito mais graves do que as acusações que recaem sobre Le Graët, e que pesam sobre uma importante instituição francesa, sobre todas as pessoas e clubes envolvidos, além de comprometer a própria imagem da França.

“Esses incidentes também prejudicam a imagem do nosso país. Acho que ofendem os franceses. Estamos em um momento que considero crítico para o futuro desta federação, e Le Graët simplesmente não está à altura do que merece esta grande federação com 2 milhões de participantes e 15 mil clubes”, revelou durante uma entrevista.

Oudéa-Castéra não é a única a enxergar a dimensão das profundas mudanças que as informações reveladas por essa auditoria podem promover na Federação Francesa de Futebol.

O crítico e comentarista Jean-Philippe Bouchard, da Radio Foot, da RFI, declarou que o relatório evidencia que a instituição precisa passar por grandes modificações estruturais.

“A Federação Francesa não poderá deixar de se questionar sobre as disputas de poder dentro da instituição e a forma como é dirigida. Não é mais possível ter alguém que nomeie seu próprio comitê executivo com pessoas que são leais a ele e que votarão como ele. Haverá, então, necessidade de diferentes posições, de transparência. Vai ser um grande trabalho a ser feito. A sorte é que a federação apresenta bons resultados financeiros. Este é o legado de Le Graët, de certa forma, as seleções que funcionaram bem. O que evitará acrescentar mais crise à crise.”

Muita bola ainda vai rolar, pelo menos até 10 junho, quando uma assembleia geral irá escolher o novo presidente da federação, que deve ocupar o cargo até dezembro de 2024, quando se encerraria o mandato de Le Graët. O posto desde então é ocupado pelo presidente interino Philippe Diallo.

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