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Esporte em foco

Paris 2024: gastos com segurança das Olimpíadas podem estourar orçamento

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O Tribunal de Contas da França apresentou nesta semana um relatório de etapa sobre a preparação das Olimpíadas de Paris em 2024. A apenas 18 meses do evento, o órgão que é responsável por supervisionar as contas do Comitê de Organização dos Jogos (Cojo) alerta sobre uma possível explosão dos gastos previstos no orçamento. Dois pontos em especial preocupam o tribunal: a segurança e o transporte.

Paris 2024 Olympic and Paralympic Games official logo, displayed in the official Paris 2024 shop in Les Halles shopping mall in central Paris.
Paris 2024 Olympic and Paralympic Games official logo, displayed in the official Paris 2024 shop in Les Halles shopping mall in central Paris. © AFP/Thomas Samson
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O relatório foi apresentado na última terça-feira (10) ao Senado e salienta que o Cojo não cumpriu uma recomendação feita em um documento anterior, datado de janeiro de 2021, para reavaliar as despesas, incluindo as prováveis receitas e a previsão de gastos adicionais. O documento também alertou sobre a urgência de terminar a tempo as infraestruturas de transporte que serão utilizadas pelo público.  

Sobre a segurança, o presidente do Tribunal de Contas, Pierre Moscovici, disse aos senadores que era necessário prever cenários de adaptação caso faltem policiais, algo, que segundo ele, é esperado. O tribunal recomendou o aumento das reservas operacionais da polícia e da guarda nacional, mas também alertou sobre um eventual déficit financeiro resultante da mobilização das forças de segurança. 

"A questão é: se fizermos um chamado suplementar às forças de segurança pública – e eu lembro que é necessário garantir a segurança dos Jogos, sem afetar a segurança dos franceses –, quem vai pagar por isso? Logicamente deve ser o comitê de organização", salientou Moscovici. "Da mesma maneira que temos que antecipar uma carência na segurança, temos também que antecipar um eventual rombo gerado pelo financiamento da polícia", acrescentou.  

Equilíbrio orçamentário

No documento, de 130 páginas, existe uma preocupação especial com o equilíbrio do orçamento do Cojo. Em dezembro, uma reavaliação aumentou em € 400 milhões as despesas do comitê, fazendo seu orçamento chegar a € 4,38 bilhões. Desse gasto adicional, € 111 milhões virão do Estado francês e das regiões e cidades envolvidas na realização das competições. 

O Cojo argumenta que a revisão corresponde à inflação e foi validada em dezembro pelo Conselho de Administração dos Jogos Olímpicos de Paris.

Para Saint Clair Milesi, que foi diretor de comunicação da candidatura de Paris às Olimpíadas de 2024, os comentários do tribunal, ainda que necessários, são injustos, já que a aposta de Paris é inovadora e, em termos de custos, mais enxuta que as anteriores. 

"Todo orçamento que estoura é ruim, e quando envolve dinheiro público é pior ainda, mas o orçamento aqui é muito mais responsável, muito menor do que em outras edições, por razões óbvias e pela escolha estratégica, que pouca gente se refere agora: Paris não tem parque olímpico", salienta. 

"Em Londres, bilhões de libras foram investidas para dinamizar a região oeste da cidade. E no Rio foi a mesma coisa na área da Barra da Tijuca, com o parque olímpico que foi criado ali. Em Paris não, a ideia é trazer a celebração para dentro da cidade e usar as instalações já existentes", destaca. 

Apesar de o comitê funcionar com fundos privados, é o Estado francês que responde pelo pagamento em caso de saldo negativo. O controle dos cursos do evento é tão importante quanto os resultados esportivos. A população francesa pede transparência e o objetivo é não transferir os gastos adicionais para o poder público.

Cerimônia de abertura preocupa

Um dos pontos que mais preocupa em matéria de segurança é a cerimônia de abertura, que será realizada às margens do rio Sena. Seiscentos mil espectadores são esperados na festa. 

Alguns senadores questionaram o gigantismo do evento que, pela primeira vez na história das Olimpíadas modernas, não será realizado em um estádio. O tribunal também alertou sobre o risco provável de que faltem profissionais de segurança privada.

Saint Clair Milesi ressalta que essa responsabilidade não pode recair somente sobre o comitê de organização. "Você tem de um lado o poder público, que não pode abandonar a segurança pública, e de outro lado um evento que começa a ficar muito maior do que a realidade local e começa a levar com ele a responsabilidade de coisas que não são dele", diz. 

"Se você voltar lá em 2017 (ano em que a candidatura de Paris foi aprovada), você tem cartas de garantia do Estado francês sobre isso. Então, é legítimo questionar custos. É nosso papel como contribuintes, da imprensa e da Justiça de observar o uso correto dos bens públicos, mas se você mandou uma carta para o Comitê Olímpico Internacional garantindo a segurança, e o estado francês fez isso, não é só o Cojo que tem que ser questionado sobre isso", diz Milesi. 

Em outubro, em uma primeira audição diante do Senado, o ministro do Interior, Gérard Darmanin, falou sobre a mobilização da polícia para o evento. Ele afirmou que cerca de 30.000 policiais estariam a postos diariamente durante os Jogos. 

"Vamos imaginar um certo número de cenários de segurança, a começar pelos transportes públicos, e teremos, na região parisiense, 700 patrulhas policiais. Isso quer dizer que a mobilização de agentes no espaço público será visível", afirmou. "O sucesso da segurança nos transportes é um exemplo, mas um exemplo importante para dizer a vocês que não nos interessamos somente pelo que acontece dentro dos estádios, ou ao redor deles, mas também em outros espaços da cidade", disse Darmanin. 

O Cojo respondeu ao Tribunal de Contas dizendo que a situação não está fora de controle, sem dar detalhes, e lembrou que o orçamento consagrado à segurança passou de € 200 milhões para 320 milhões de euros.

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