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A Semana na Imprensa

Revistas francesas condenam antissemitismo em análises sobre ataque do Hamas a Israel

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As revistas francesas desta semana trazem reportagens e análises sobre a guerra entre Israel e o Hamas, movimento extremista islâmico que governa a Faixa de Gaza e que promoveu, em 7 de outubro, o pior ataque terrorista da história do Estado hebreu.

Familiares no enterro do israelense May Naim, de 24 anos, da cidade de Gan Haim (centro), morto no ataque do Hamas.Em 11 de outubro de 2023.
Familiares no enterro do israelense May Naim, de 24 anos, da cidade de Gan Haim (centro), morto no ataque do Hamas.Em 11 de outubro de 2023. AP - Francisco Seco
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Com a manchete de capa "O ódio aos judeus", a revista Le Point descreve a estratégia de erradicação do Estado de Israel prevista na carta de fundação deste movimento de resistência islâmico, criado em 1987, financiado e armado pelo Irã.

O editorial, assinado pelo jornalista e escritor Franz-Olivier Giesbert, afirma enfaticamente: "O Hamas, braço armado do Irã, é furiosamente antissemita, como foi Hitler em seu tempo". Nas páginas internas, diversos especialistas em geopolítica do Oriente Médio relatam como os extremistas do grupo impuseram uma ditadura em Gaza e passaram a fabricar armas dentro do enclave palestino. 

Embora o Hamas tenha demonstrado força com o ataque inesperado a Israel, o principal braço armado do Irã segue sendo o grupo xiita libanês Hezbollah, na opinião do analista político Bruno Tertrais, entrevistado pela Le Point. Indagado se havia risco do conflito israelo-palestino se espalhar na região, Tertrais, que é diretor-adjunto da Fundação de Pesquisas Estratégicas, descartou esse cenário. Apesar de ataques mútuos estarem ocorrendo na fronteira de Israel e Líbano, e também da Síria, nem o Irã nem o Hezbollah têm interesse em abrir uma nova frente de guerra, estima o francês. 

Tertrais diz estar com os olhos voltados para as reações da Arábia Saudita, que havia iniciado um processo de normalização das relações com Israel, e do Qatar, que parou de financiar há alguns meses os integrantes do Hamas na Faixa de Gaza, criando fortes tensões internas no movimento.

Em seu editorial, a revista L'Obs diz que levará um bom tempo para se compreender como o aparelho militar e de inteligência de Israel, que tem a reputação de ser um dos melhores do mundo, pôde fracassar a tal ponto na proteção dos israelenses, ainda mais em um momento em que o país é dirigido pela coalizão ultradireitista mais belicista da história de Israel.

"Se o governo agora está ocupado em combater o terrorismo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deverá em algum momento prestar contas de sua responsabilidade nessa tragédia e na humilhação que a nação está vivendo", com mais de 1,3 mil mortos e dezenas de homens, mulheres, crianças e idosos reféns do Hamas.

Entrevistado pela publicação, Fréderic Encel, ensaísta e professor de geopolítica, acredita que a principal razão que levou o Hamas a atacar Israel é impedir a normalização das relações com a Arábia Saudita. Ele recorda que o Hamas não é apenas um movimento social, político, educacional e diplomático, mas acima de tudo uma "construção religiosa", a ala radical da Irmandade Muçulmana. Em muitos países árabes, a opinião pública é solidária aos palestinos e crítica em relação à política de ocupação e colonização de Netanyahu. 

Oposição aos Acordos e Abraão

O principal objetivo dos extremistas do Hamas não é criar o Estado da Palestina, afirma Encel nas páginas da L'Obs, mas sim "recriar uma comunidade de fiéis islamitas". E, desse ponto de vista, se a Arábia Saudita, que é a guardiã dos lugares sagrados de Meca e Medina, o Estado mais conservador do mundo árabe-muçulmano, reconhecer Israel como o Estado-nação do povo judeu, essa concessão comprometeria a legitimidade teológica do Hamas.

Para o professor da universidade Sciences Po, apesar de o Irã financiar o Hamas desde 2000-2001, Teerã tem uma agenda diferente, centrada no fim das sanções ocidentais contra seu programa nuclear e outros problemas internos. O especialista ainda observa que a agenda iraniana é xiita, enquanto o Hamas é um movimento sunita, as duas correntes que divergem dentro do Islã.

Em seu editorial, a revista L'Express estima que a visão dos Estados Unidos para a região, impulsionada pelo ex-presidente Donald Trump por meio da assinatura dos Acordos bilaterais de Abraão sobre a normalização árabe-israelense, continuada por Joe Biden, fracassou ao negligenciar a questão do Estado palestino e o poder de fogo do Hamas. 

De acordo com a publicação, encerrada a operação militar de retaliação, Israel deverá revisar sua política para os palestinos, o que passa por um reforço da Autoridade Palestina, instalada na Cisjordânia. Até lá, os moradores da Faixa de Gaza pagarão caro com suas vidas, sem obter avanços para a criação da Palestina, lamenta a L'Express.

Palestinos feridos em ataques israelenses são levados ao Hospital Shifa, na Cidade de Gaza. 11 de outubro de 2023
Palestinos feridos em ataques israelenses são levados ao Hospital Shifa, na Cidade de Gaza. 11 de outubro de 2023 AP - Ali Mahmoud

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