Revistas francesas condenam antissemitismo em análises sobre ataque do Hamas a Israel
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Ouvir - 02:08
As revistas francesas desta semana trazem reportagens e análises sobre a guerra entre Israel e o Hamas, movimento extremista islâmico que governa a Faixa de Gaza e que promoveu, em 7 de outubro, o pior ataque terrorista da história do Estado hebreu.
Com a manchete de capa "O ódio aos judeus", a revista Le Point descreve a estratégia de erradicação do Estado de Israel prevista na carta de fundação deste movimento de resistência islâmico, criado em 1987, financiado e armado pelo Irã.
O editorial, assinado pelo jornalista e escritor Franz-Olivier Giesbert, afirma enfaticamente: "O Hamas, braço armado do Irã, é furiosamente antissemita, como foi Hitler em seu tempo". Nas páginas internas, diversos especialistas em geopolítica do Oriente Médio relatam como os extremistas do grupo impuseram uma ditadura em Gaza e passaram a fabricar armas dentro do enclave palestino.
Embora o Hamas tenha demonstrado força com o ataque inesperado a Israel, o principal braço armado do Irã segue sendo o grupo xiita libanês Hezbollah, na opinião do analista político Bruno Tertrais, entrevistado pela Le Point. Indagado se havia risco do conflito israelo-palestino se espalhar na região, Tertrais, que é diretor-adjunto da Fundação de Pesquisas Estratégicas, descartou esse cenário. Apesar de ataques mútuos estarem ocorrendo na fronteira de Israel e Líbano, e também da Síria, nem o Irã nem o Hezbollah têm interesse em abrir uma nova frente de guerra, estima o francês.
📍 À la une cette semaine :
— Le Point (@LePoint) October 11, 2023
☞ La haine des Juifs
☞ Exclusif. La Prix Nobel de chimie, Emmanuelle Charpentier, se confie
☞ Les vérités de Robert De Niro
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Tertrais diz estar com os olhos voltados para as reações da Arábia Saudita, que havia iniciado um processo de normalização das relações com Israel, e do Qatar, que parou de financiar há alguns meses os integrantes do Hamas na Faixa de Gaza, criando fortes tensões internas no movimento.
🗞️ Cette semaine dans @lobs 🗞️
— L'Obs (@lobs) October 11, 2023
DOSSIER SPÉCIAL : ISRAËL-GAZA
👉 Le temps de la terreur https://t.co/AO3xSnv9Z3
Le choc est sans précédent. Pour la première fois de son histoire, Israël a été attaqué sur son sol par des terroristes du Hamas qui ont massacré et enlevé des… pic.twitter.com/p23m8YJgBJ
Em seu editorial, a revista L'Obs diz que levará um bom tempo para se compreender como o aparelho militar e de inteligência de Israel, que tem a reputação de ser um dos melhores do mundo, pôde fracassar a tal ponto na proteção dos israelenses, ainda mais em um momento em que o país é dirigido pela coalizão ultradireitista mais belicista da história de Israel.
"Se o governo agora está ocupado em combater o terrorismo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deverá em algum momento prestar contas de sua responsabilidade nessa tragédia e na humilhação que a nação está vivendo", com mais de 1,3 mil mortos e dezenas de homens, mulheres, crianças e idosos reféns do Hamas.
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— L'Obs (@lobs) October 11, 2023
DOSSIER SPÉCIAL : ISRAËL-GAZA
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Le choc est sans précédent. Pour la première fois de son histoire, Israël a été attaqué sur son sol par des terroristes du Hamas qui ont massacré et enlevé des… pic.twitter.com/p23m8YJgBJ
Entrevistado pela publicação, Fréderic Encel, ensaísta e professor de geopolítica, acredita que a principal razão que levou o Hamas a atacar Israel é impedir a normalização das relações com a Arábia Saudita. Ele recorda que o Hamas não é apenas um movimento social, político, educacional e diplomático, mas acima de tudo uma "construção religiosa", a ala radical da Irmandade Muçulmana. Em muitos países árabes, a opinião pública é solidária aos palestinos e crítica em relação à política de ocupação e colonização de Netanyahu.
Oposição aos Acordos e Abraão
O principal objetivo dos extremistas do Hamas não é criar o Estado da Palestina, afirma Encel nas páginas da L'Obs, mas sim "recriar uma comunidade de fiéis islamitas". E, desse ponto de vista, se a Arábia Saudita, que é a guardiã dos lugares sagrados de Meca e Medina, o Estado mais conservador do mundo árabe-muçulmano, reconhecer Israel como o Estado-nação do povo judeu, essa concessão comprometeria a legitimidade teológica do Hamas.
Para o professor da universidade Sciences Po, apesar de o Irã financiar o Hamas desde 2000-2001, Teerã tem uma agenda diferente, centrada no fim das sanções ocidentais contra seu programa nuclear e outros problemas internos. O especialista ainda observa que a agenda iraniana é xiita, enquanto o Hamas é um movimento sunita, as duas correntes que divergem dentro do Islã.
Em seu editorial, a revista L'Express estima que a visão dos Estados Unidos para a região, impulsionada pelo ex-presidente Donald Trump por meio da assinatura dos Acordos bilaterais de Abraão sobre a normalização árabe-israelense, continuada por Joe Biden, fracassou ao negligenciar a questão do Estado palestino e o poder de fogo do Hamas.
⚫ C'est une offensive terroriste qui va changer le visage du Proche-Orient.
— L'Express (@LEXPRESS) October 11, 2023
Pour la première fois depuis 50 ans, Israël s'est déclaré officiellement en guerre.
Notre dossier de la semaine ➡️ https://t.co/gJlel0HyZ7 pic.twitter.com/pxqBVVmFEV
De acordo com a publicação, encerrada a operação militar de retaliação, Israel deverá revisar sua política para os palestinos, o que passa por um reforço da Autoridade Palestina, instalada na Cisjordânia. Até lá, os moradores da Faixa de Gaza pagarão caro com suas vidas, sem obter avanços para a criação da Palestina, lamenta a L'Express.
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