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Para especialista, Ucrânia é “suspeito óbvio e ideal” de ataque em Moscou

Na Rússia, 133 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas no ataque reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI). Segundo as autoridades, este número ainda pode aumentar. No início da noite de sexta-feira (22), homens armados entraram numa sala de concertos localizada no subúrbio de Moscou. Eles atiraram contra o público antes que o fogo se espalhasse por quase 13 mil m².

Um memorial foi improvisado em frente à casa de espetáculos Crocus City Hall, onde mais de 130 pessoas morreram na noite de sexta-feira (22).
Um memorial foi improvisado em frente à casa de espetáculos Crocus City Hall, onde mais de 130 pessoas morreram na noite de sexta-feira (22). AFP - OLGA MALTSEVA
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Mayeule de Charon, da RFI

O Kremlin anunciou que 11 pessoas foram presas, incluindo quatro supostos autores do ataque. Emilia Koustova, professora de história russa na Universidade de Estrasburgo, falou sobre o caso à RFI.

RFI: Na manhã deste sábado, nenhum meio de comunicação russo mencionou esta afirmação do grupo Estado Islâmico, mas sim uma pista sobre voluntários russos envolvidos com a Ucrânia. Como você analisa isso?

Emilia Koustova: Sejam quais forem os verdadeiros autores, este ataque será certamente explorado pelas autoridades russas. A Ucrânia e os voluntários russos que lutam ao lado dos ucranianos são os suspeitos óbvios e ideais para as autoridades russas. Isto tornaria possível utilizar o ato terrorista para mobilizar ou remobilizar a sociedade russa contra a Ucrânia. Mas talvez isso procure também influenciar a opinião pública internacional, para enfraquecer o apoio Ocidental à Ucrânia.

RFI: A Rússia, que já está mobilizada externamente na Ucrânia, é agora alvo de ataques internos. Isto revela uma falha de segurança na política de Vladimir Putin?

Emilia Koustova: Cada ato terrorista revela parcialmente uma falha. Isto é ainda mais surpreendente num Estado como a Rússia, que é um Estado policial, sob vigilância, onde uma inscrição numa etiqueta de uma loja ou uma publicação numa rede social pode levar à prisão. Ficamos impressionados com as imagens que vimos ontem à noite no local da tragédia, enquanto o incêndio continuava. Por exemplo, num grupo de jornalistas, um deles foi violentamente espancado por um agente da polícia. Não sabemos o motivo. Vemos que a polícia russa está muito bem treinada para espancar, prender e seguir opositores ou jornalistas. Porém é muito menos eficaz contra atos terroristas.

RFI: Qual poderia ser a reação das autoridades russas a este ataque?

Emilia Koustova: Por enquanto, Vladimir Putin permanece em segundo plano. Imediatamente recebemos a informação de que ele foi informado do que estava acontecendo, mas não quis falar. Acima de tudo, permitiu que falassem personagens, alguns dos quais importantes, como o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, ou certos deputados e senadores que são muito menos centrais. E estas são as pessoas que apresentaram a tese do envolvimento ucraniano, enquanto Putin mantém distância. Muitas vezes tem sido assim face a qualquer tragédia deste tipo, onde ele mandava principalmente quem o rodeava para a linha da frente, mas mantinha sempre esta distância para não ser diretamente acusado de qualquer falha, qualquer disfunção e poder permanecer inacessível pelos críticos.

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