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Barco com ajuda humanitária se aproxima de Gaza; Israel nega novo ataque contra multidão faminta

Um primeiro barco carregado de alimentos para a população faminta por mais de cinco meses de guerra é esperado na sexta-feira (15) na Faixa de Gaza, num momento em que os palestinos celebram a primeira grande oração desde o início do Ramadã sob tensão.

Um palestino mostra restos de mantimento após ataque israelense em um depósito de ajuda no campo de refugiados de Al-Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, 14/03/24.
Um palestino mostra restos de mantimento após ataque israelense em um depósito de ajuda no campo de refugiados de Al-Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, 14/03/24. REUTERS - Ahmed Zakot
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O barco da ONG espanhola Open Arms, que reboca uma barcaça carregada com 200 toneladas de alimentos, era vista na manhã de sexta-feira ao largo da costa da cidade de Gaza, no norte do território, segundo um jornalista da AFP.

O barco abre uma rota marítima de Chipre ao território sitiado desde o início da guerra, em 7 de outubro, entre Israel e o Hamas.

A ONU teme a fome generalizada na Faixa de Gaza, especialmente no norte, de difícil acesso, onde vivem atualmente mais de 300.000 pessoas.

Na sexta-feira, o Hamas acusou o exército de ter aberto novamente fogo com “tanques e helicópteros” na região, contra uma multidão que esperava por uma distribuição de mantimentos à entrada da cidade de Gaza.

Os tiros deixaram pelo menos 20 mortos e 155 feridos, segundo o ministério da Saúde do Hamas.

O exército israelense afirmou não ter “atacado” os palestinianos “num ponto de distribuição de ajuda” e disse estar “analisando seriamente o incidente”, mas sem detalhar a sua versão dos fatos.

“Houve fogo direto das forças de ocupação contra as pessoas reunidas para esperar a chegada dos caminhões com alimentos”, disse à AFP o médico Mohammed Ghurab, diretor de serviços do departamento de emergência do hospital al-Chifa.

No local, um correspondente da AFP viu inúmeras ambulâncias com mortos e feridos.  

300.000 refeições   

Uma corrida contra o tempo está em curso para tentar entregar mais ajuda humanitária ao território palestino.

A ajuda por via terrestre chega principalmente do Egito através da passagem fronteiriça de Rafah, no sul, após inspeção por Israel, mas ela é insuficiente dadas as imensas necessidades dos 2,4 milhões de habitantes do território.

Confrontados com a emergência humanitária, vários países decidiram diversificar as rotas de entrega de ajuda, organizando lançamentos aéreos ou um corredor marítimo a partir de Chipre.

Saindo de Chipre na terça-feira, o barco Open Arms transporta 300 mil refeições preparadas pela ONG americana World Central Kitchen.

“Todos sabemos que isto não é suficiente (...), por isso devemos abrir este corredor com um fluxo contínuo de barcos”, disse a presidente da WCK, Erin Gore, à AFP na quinta-feira.

Uma equipe da WCK presente em Gaza desde o início da guerra construiu um cais flutuante onde serão descarregadas cargas destinadas à população do norte do território.

“Esperamos descarregar a ajuda assim que for possível atracar, mas muitos fatores influenciam esta operação complicada”, acrescentou Gore, cuja ONG indicou que estava fretando um segundo navio com “centenas de toneladas” de alimentos.  

"Com fome e exausto"   

No norte da Faixa de Gaza, os residentes examinam o céu diariamente à espera de um lançamento aéreo, mas as quantidades lançadas são limitadas. Assim que os paraquedas se aproximam do solo, eles correm para o meio das ruínas, na esperança de recuperar um saco de comida.

“Desde que a guerra começou e as pessoas se mudaram para o sul, não recebemos nenhuma ajuda. Estamos vagando desde o início da manhã esperando que um avião lance paraquedas sobre nós”, disse à AFP um deslocado, Mokhles al-Masry, com um saco de farinha nos ombros, em Beit Lahia. “Todas as pessoas estão com fome e exaustas”, acrescentou.

A guerra foi desencadeada em 7 de outubro por um ataque sem precedentes realizado por comandos do Hamas infiltrados a partir de Gaza, no sul de Israel, que resultou na morte de pelo menos 1.160 pessoas, a maioria delas civis, segundo uma contagem da AFP estabelecida a partir de fontes oficiais israelenses.

Segundo Israel, cerca de 250 pessoas foram sequestradas naquele dia e 130 delas ainda são reféns em Gaza, 32 das quais se acredita terem morrido.

Em retaliação, Israel prometeu aniquilar o movimento islâmico, no poder em Gaza desde 2007, que considera uma organização terrorista juntamente com os Estados Unidos e a União Europeia. O exército lançou uma ofensiva que até agora deixou 31.341 mortos na Faixa de Gaza, a maioria civis, segundo o ministério da Saúde do Hamas.

Dezenas de ataques atingiram o território durante a noite, incluindo a cidade de Gaza, Khan Yunis no sul e no centro, segundo as autoridades do Hamas. Testemunhas relataram combates em Khan Yunis e no bairro de Zeitoun, na cidade de Gaza.

Tensão se espalha

A guerra também inflamou as tensões nos territórios palestinos ocupados por Israel.

Em Jerusalém, milhares de policiais foram destacados na sexta-feira para a primeira grande oração na Esplanada das Mesquitas desde o início do Ramadã, em 11 de março, por medo de incidentes violentos.

Os Estados Unidos, o Egito e o Catar, os três países mediadores, não conseguiram garantir um acordo de trégua acompanhado da libertação de reféns em Gaza, como esperavam antes do início do Ramadã.

Uma fonte do Hamas disse à AFP que o movimento islâmico apresentou aos mediadores egípcios e catarianos uma posição que mostra “flexibilidade” em relação à troca de reféns por prisioneiros palestinos detidos por Israel. O Hamas também exige a retirada das forças israelenses de “todas as áreas povoadas” de Gaza, acrescentou a fonte.

Quinta-feira à noite, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, considerou as exigências do Hamas "irrealistas".

Para derrotar completamente o Hamas, Netanyahu anunciou uma próxima ofensiva contra a cidade de Rafah, localizada perto da fronteira fechada com o Egito, onde, segundo a ONU, estão concentrados cerca de um milhão e meio de palestinos.

(com AFP)

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