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'Em 13 anos, nunca fiquei tão emocionada', diz telefonista que acompanhou ao vivo agonia de menina palestina morta

Hind Rajab, a menina palestina de seis anos que ficou presa em um carro, em Gaza, com os corpos de familiares e foi encontrada morta em 10 de fevereiro, "tinha a voz cheia de tristeza e angústia", disse Rana, telefonista do Crescente Vermelho. Ela foi a última pessoa a conversar com a criança, em uma ligação que durou três horas. A organização de socorro palestina acusa Israel de atirar contra suas equipes e ambulâncias, e de impossibilitar resgates na região.  

A foto sem data mostra Hind, que morreu em Gaza, apesar da tentativa de salvamento do Crescente Vermelho palestino. O corpo da criança de 6 anos foi encontrado em 10 de fevereiro de 2024.
A foto sem data mostra Hind, que morreu em Gaza, apesar da tentativa de salvamento do Crescente Vermelho palestino. O corpo da criança de 6 anos foi encontrado em 10 de fevereiro de 2024. AP
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A agonia da pequena Hind Rajab comoveu o mundo inteiro. Nas gravações divulgadas pelo Crescente Vermelho Palestino, a menina de 6 anos chora por socorro, sozinha, dentro de um carro, cercada pelos corpos de seis membros de sua família, no dia 29 de janeiro.  

Por mais de três horas, ferida, ela enfrentou os tiros de tanques israelenses contra o veículo onde estava. Ela e sua família foram cercados pelas forças israelenses. Hind e uma prima adolescente conseguiram entrar em contato com o Crescente Vermelho palestino para pedir ajuda. 

No dia 10 de fevereiro, a menina foi encontrada morta no sul da cidade de Gaza, com seus familiares. Os corpos de dois paramédicos que tinham ido resgatá-la também foram encontrados à proximidade, ao lado dos destroços da ambulância onde estavam.

O site francês Franceinfo entrevistou os telefonistas do Crescente Vermelho em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, que receberam a ligação. 

A primeira chamada foi feita por Layan Hamada, prima de Hind, de 15 anos, e respondida por Omar. Do outro lado da linha, ele ouviu tiros e presenciou a morte da adolescente. 

“Eu estava fora de mim, como se minha mente tivesse saído do corpo, não conseguia entender o que tinha acabado de presenciar”, conta Omar, que trabalha para a organização de maneira voluntária. 

Ele então tenta recuperar os sentidos e retoma a ligação. Desta vez é Hind que fala com ele. Durante cerca de dez minutos, “ela conseguiu me explicar quem estava perto dela no carro”, lembra Omar. Ao perceber que a menina estava cercada por seis corpos no carro, ele “não pôde continuar” e pediu à colega Rana que “assumisse o controle”, conta ao site da Franceinfo.

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“Eles estão todos dormindo”

A ligação durou três horas. Primeiro se escuta a voz aterrorizada de Hind, depois a de Rana, que faz tudo para tranquilizá-la, e também “um ruído de drone e, às vezes, tiros”, explica a operadora do Crescente Vermelho. 

“Imagine a cena, uma menina em um carro cheio de cadáveres”, disse a voluntária. “Às vezes ela me dizia 'estão todos dormindo'. E outras vezes, 'estão todos mortos, tem sangue por toda parte, tem tiroteio'”, relata.

"Mesmo um adulto não poderia enfrentar uma situação como essa. Coloquem-se no lugar de Hind!", diz Rana. 

Apesar da cena aterradora, Rana manteve a calma até o começo da noite. Nesse momento Hind pede ajuda. “A voz dela estava cheia de tristeza e angústia”, lembra a operadora. A menina diz à Rana que tem medo do escuro. “Ela me pediu para prometer que a tiraria de lá”, explica.

“Ela me perguntou: 'Quando você vai chegar?' Eu disse, em 'uma hora'. Finalmente, uma hora e meia se passou e ainda não havíamos enviado ninguém. Ela insistiu: 'Você me disse que chegaria em uma hora! Onde você está?'”, diz Rana explicando que leva tempo para organizar a coordenação com Israel

A menina pergunta então o que significa “coordenação”. “Trabalho com resgate e primeiros socorros há 13 anos, nunca fiquei tão emocionada”, diz a operadora.

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Ataque às equipes de salvamento

Finalmente, o Crescente Vermelho recebeu “luz verde” do Exército israelense “para enviar uma ambulância à área onde Hind estava”, explica Rana. "Ainda estávamos online com ela e em contato com nossa equipe. E, de repente, ouvimos tiros", diz ela. “Nunca teríamos pensado que o alvo era a ambulância, estava quase chegando na Hind”, continua ela.

Pouco antes das 18h, as comunicações com a menina e a equipe de resgate foram interrompidas. As duas ambulâncias enviadas pelo Crescente Vermelho nunca chegaram ao objetivo. 

“Ficamos 12 dias sem notícias”, lamenta Rana. Atrás da mesa da operadora, há agora três fotos: a de Hind e de Youssef e Ahmed, os dois paramédicos da equipe de resgate que morreram no mesmo dia, a 100 metros do carro em que estava a menina. 

O Crescente Vermelho palestino acusa o Exército israelense de ter como alvo trabalhadores e ambulâncias.

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