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"Países ocidentais são cúmplices do massacre na Faixa de Gaza", diz relatora da ONU

Nas últimas 48 horas, vários organismos da ONU voltaram a pedir a intervenção da comunidade internacional para obter um cessar-fogo na Faixa de Gaza. A relatora especial da ONU sobre a situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, esteve na França e denunciou a cumplicidade dos países ocidentais em relação a Israel em entrevista à RFI.

Vista da Faixa de Gaza nesta quarta-feira
Vista da Faixa de Gaza nesta quarta-feira REUTERS - ATHIT PERAWONGMETHA
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Oriane Verdier, da RFI

RFI: A posição da comunidade internacional hoje surpreende?

Francesca Albanese: Sim, estou realmente chocada, e não apenas em relação à falta de ação para colocar um fim aos crimes de guerra e aos crimes contra a humanidade que estão sendo cometidos nos territórios palestinos ocupados.

O que me choca realmente é o apoio quase total e incondicional dado pelos Estados ocidentais a Israel, reconhecendo não só o seu direito de Israel de se proteger – que é, naturalmente, um direito que o país tem para com o seu território e os seus cidadãos. O que é chocante é esses Estados reconhecerem também que Israel tenha o direito de promover uma guerra muito violenta, contra pessoas que mantém sob sua ocupação. Isso é ilegal!  

Nas Nações Unidas, há pessoas que conheço e vivenciaram situações de conflito. Elas são unânimes: nunca viram nada assim. Todo mundo diz: "É o inferno na terra". Este massacre de civis tem que acabar! Para nós que acompanhamos as questões entre Israel e Palestina há anos, está claro que o objetivo não é apenas eliminar o movimento político do Hamas. O objetivo é eliminar os palestinos da Faixa de Gaza e isso foi mencionado por políticos israelenses, antes mesmo de 7 de outubro.

Muitos representantes dos direitos humanos dizem hoje que os países ocidentais são cúmplices e se alinham totalmente com o que Israel e os Estados Unidos, que têm seus próprios objetivos, decidiram. Mas e os europeus? Porque é que os europeus têm que segui-los, mesmo que isso signifique distanciar-se do resto do mundo? Porque esse conflito não se limita a uma região. Este conflito opõe o Sul Global, que se identifica com a forma como os palestinos são tratados pelo Ocidente, ao Norte Global. Por que não escolher desempenhar um papel diferente?

O que os governos poderiam fazer para mudar a situação?

Em primeiro lugar, temos de insistir no cessar-fogo imediato e no respeito ao direito internacional. Mas o direito internacional não é respeitado, isso já era claro antes de 7 de outubro e está ainda mais claro agora. Quase 17.000 pessoas foram mortas, talvez até 20.000, porque 3.000 pessoas estão desaparecidas. O que estamos esperando para tomar medidas sérias contra Israel? Medidas diplomáticas e econômicas? Foi o que fizemos com a Rússia assim que invadiu e iniciou uma guerra ilegal contra a Ucrânia.

Desde 1967, Israel gerencia um “empreendimento” que só pode ser definido como colonialista. Uma ocupação militar que serviu para estabelecer assentamentos, um após o outro. Existem agora 300 colônias, o que conduz ao despejo de palestinos das suas terras e à violência estrutural contra esse povo: detenções arbitrárias, deslocamentos forçados. São crimes. Crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Por que razão nunca se pensou em impor medidas diplomáticas ou em aplicar sanções econômicas, por exemplo? Isso nunca é cogitado quando se trata de Israel. A única forma de soberania na Palestina hoje é a impunidade.

Você foi para diferentes países antes de chegar à França, qual é sua percepção em relação a essa questão?

Há um grande fosso entre as pessoas, a sociedade civil e os governos. Na Austrália, na Nova Zelândia, por exemplo, eu não esperava que houvesse uma reação tão popular. Meu sentimento foi compartilhado pela população e não apenas por membros da sociedade civil ou ONGs. Todos esperam pelo fim da ocupação na Palestina ocupada e o fim da injustiça.

Há uma mobilização global, apesar das proibições em muitos países ocidentais, incluindo a França, o que é bastante chocante. Ainda assim, muita gente foi às ruas. É importante lembrar que este é um momento de solidariedade com o povo israelense que sofreu muito no dia 7 de outubro, mas sobretudo com o povo palestino que sofreu antes do 7 de outubro e hoje sofre mais do que nunca. Estou particularmente sensibilizada com as comunidades locais, políticos e prefeitos franceses, que estão sendo solidários com esse movimento palestino e israelense. Ambos os povos são vítimas de um sistema anacrônico de colonialismo.

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