Amorim evoca ‘genocídio’ em Gaza ao discursar em conferência humanitária em Paris
O assessor especial da Presidência do Brasil para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, participa nesta quinta-feira (9) de uma conferência humanitária promovida pelo governo francês, em Paris. Ao discursar no evento nesta manhã, ele elevou o tom de Brasília sobre o conflito na Faixa da Gaza ao evocar a palavra “genocídio” para designar a reação de Israel contra o grupo extremista Hamas.
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Amorim disse que os “atos bárbaros” e “terroristas” perpetrados pelo Hamas em Israel “não justificam o uso indiscriminado da força contra civis”. “A morte de milhares de crianças é chocante. A palavra genocídio inevitavelmente vem à cabeça”, afirmou o assessor especial, que se reuniria com o presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião do evento no Palácio do Eliseu.
A conferência tenta desbloquear a ajuda humanitária a Gaza, quase impossível em meio aos incessantes bombardeios de Israel desde o ataque do Hamas de 7 de outubro. Tel Aviv não está representada no evento e a maioria dos países árabes não enviou representantes de alto escalão.
“Nas palavras do presidente Lula, ‘inocentes estão sendo obrigados a pagar o preço das loucuras da guerra’. Enquanto eu falo, continuamos ansiosos pela saída de brasileiros de Gaza”, indicou Amorim. Ele defendeu um cessar-fogo humanitário no enclave e o respeito a entradas seguras de trabalhadores humanitários na região.
Amorim também avaliou que a realização de uma ampla conferência internacional em busca de soluções para o conflito, “nos moldes da conferência de Anápolis, é indispensável”. Ele se referia ao encontro realizado na cidade americana em 2007 para debater a paz no Oriente Médio, do qual participaram cerca de 50 países.
Dois Estados 'é uma solução'
“Esta não é apenas uma guerra entre o Hamas e Israel. Isto faz parte de um conflito maior, que já dura 75 anos, cuja raiz é a ausência de uma pátria segura para o povo palestino. O reconhecimento de um Estado Palestino viável, vivendo lado a lado, com fronteiras seguras e mutuamente aceites com Israel, é a única solução possível”, defendeu o assessor especial da Lula. “Esta crise é provavelmente um dos desafios mais perigosos à paz e segurança internacionais, com maior potencial de propagação para um conflito global”, advertiu Amorim.
Nesta manhã, na abertura do encontro, o presidente da França pediu um 'cessar-fogo' e anunciou o aumento da ajuda de Paris aos palestinos, de €20 milhões para €100 milhões. Após reiterar o direito de defesa de Israel, mas respeitando o direito internacional, Macron afirmou que a proteção dos civis deve ser uma prioridade.
"Isso requer uma pausa humanitária muito rápida e temos que trabalhar para conseguir um cessar-fogo", disse o presidente francês.
Pressão por cessar-fogo
A França organizou a conferência na véspera do Fórum de Paris sobre a Paz para reunir os principais doadores e acelerar a ajuda – alimentos, energia ou equipamentos médicos – para a Faixa de Gaza, cenário de um êxodo de seus habitantes para o sul.
"Quantos palestinos têm que morrer para que a guerra termine?", questionou o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammed Shtayyeh, que relatou necessidades como atender os feridos e fornecer água, energia elétrica e medicamentos.
Os apelos por “pausas”, “tréguas” ou “cessar-fogo” aumentaram nas últimas semanas, para facilitar o acesso à ajuda e a libertação de mais de 240 reféns capturados pelo Hamas em solo israelense. No entanto, Benjamin Netanyahu descartou, novamente, na quarta-feira (8), qualquer cessar-fogo sem a libertação dos reféns.
A cúpula do governo francês avalia que “o Hamas provavelmente vai permanecer com os reféns enquanto a operação continuar nas condições atuais. Portanto, a pausa humanitária, parece-nos, também é importante para obter a libertação dos reféns”. No final da conferência, não haverá uma declaração conjunta para não “cairmos” num debate interminável “sobre uma palavra ou outra”, indica a mesma fonte próxima a Macron.
(Com informações da AFP)
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