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Kremlin acusa 'interferência externa' ucraniana em invasão de aeroporto por multidão anti-Israel

A diplomacia russa acusou a Ucrânia nesta segunda-feira (30) de ter desempenhado “um papel fundamental” nos motins anti-Israel que eclodiram na noite anterior num aeroporto na república caucasiana russa do Daguestão, cuja população é predominantemente muçulmana.   

O aeroporto de Makhachkala, capital do Daguestão, durante invasão na noite de domingo, 29 de outubro, por uma multidão hostil a Israel, aparentemente à procura de passageiros vindos de Tel Aviv.
O aeroporto de Makhachkala, capital do Daguestão, durante invasão na noite de domingo, 29 de outubro, por uma multidão hostil a Israel, aparentemente à procura de passageiros vindos de Tel Aviv. AP
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O Kremlin atribuiu à “interferência externa” a responsabilidade pelo ataque ao um aeroporto Makhachkala, capital do Daguestão por manifestantes que visivelmente procuravam israelenses. “O resultado de uma provocação planejada e liderada externamente” na qual Kiev teria desempenhado um papel “chave e direto”, disse a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, num comunicado.

Uma multidão de homens invadiu a pista e o terminal do aeroporto da capital Makhachkala na noite de domingo (29), em meio a tensões em todo o mundo ligadas ao conflito entre Israel e o Hamas.

A polícia prendeu 60 pessoas suspeitas de terem invadido o local e foram identificados mais de 150 “participantes ativos nos distúrbios”, disse o Ministério do Interior russo, garantindo que estavam em curso operações de busca para identificar todos os agressores. Nove policiais ficaram feridos, dois dos quais foram hospitalizados, informou o Ministério do Interior russo em comunicado.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, garantiu que os confrontos no Daguestão foram "em grande parte o resultado de interferência externa, incluindo informações externas".

Com as “imagens televisivas dos horrores ocorridos na Faixa de Gaza”, é “muito fácil que pessoas mal intencionadas usem, para provocar a situação”, lamentou.

Dmitri Peskov não especificou quem seria o responsável por esta suposta “interferência”, mas o líder do Daguestão, por sua vez, já havia apontado o dedo à Ucrânia.

Em resposta a esta invasão, Vladimir Putin também presidirá uma reunião na noite de segunda-feira "para discutir as tentativas ocidentais de usar os acontecimentos no Oriente Médio para dividir a sociedade russa", segundo o Kremlin.

“Considero o que aconteceu como uma tentativa de semear a discórdia entre os muçulmanos e os judeus da Rússia, que mantiveram boas relações de amizade e cooperação durante séculos”, disse o presidente em comunicado.

A Ucrânia ainda não reagiu a estas acusações, mas o presidente Volodymyr Zelensky, de credo judaico, considerou no domingo que estes incidentes demonstraram “a cultura russa de ódio contra outras nações”.

Em resposta a esta violência, Vladimir Putin presidirá uma reunião na noite de segunda-feira para “discutir as tentativas ocidentais de usar os acontecimentos no Médio Oriente para dividir a sociedade russa”, segundo o Kremlin.

Dezenas de invasores acessaram a pista de pousos e decolagens no aeroporto do Daguestão, na noite de domingo, 29 de outubro, após o anúncio da chegada de um voo vindo de Israel. O aeroportoreabriu esta segunda-feira ao meio-dia, hora local.
Dezenas de invasores acessaram a pista de pousos e decolagens no aeroporto do Daguestão, na noite de domingo, 29 de outubro, após o anúncio da chegada de um voo vindo de Israel. O aeroportoreabriu esta segunda-feira ao meio-dia, hora local. AP

Rastreamento de passageiros 

Vídeos transmitidos nas redes sociais e na mídia russa no domingo mostraram homens verificando carros, checando a identidade de um passageiro, forçando portas no terminal e reunindo-se junto à base de um avião na pista.

Um deles, num desses vídeos, segura uma placa: “Assassinos de crianças não têm lugar no Daguestão”, enquanto outros gritam “Allah Akbar!” Alguns na multidão agitavam bandeiras palestinas.

Segundo o site especializado Flightradar, um voo desta empresa proveniente de Tel Aviv posou às 19h locais (13h de Brasília) em Makhchkala. Segundo o meio de comunicação independente russo Sota, tratava-se de um voo que deveria decolar novamente em direção a Moscou duas horas depois. Não foram divulgadas informações sobre a situação dos seus passageiros do voo, mas autoridades informaram que o caos foi controlado.

Na segunda-feira, um imponente sistema de segurança foi instalado ao redor do aeroporto e os funcionários começaram a reparar as barreiras danificadas, segundo um jornalista da AFP presente no local.

O aeroporto sofreu “danos significativos”, explicou o seu diretor-geral. No entanto, conseguiu reabrir no início da tarde desta segunda-feira, anunciou a agência de aviação russa.

Oficial aponta o dedo à Ucrânia 

O líder do Daguestão, Sergei Melikov, garantiu na manhã de segunda-feira, sem fornecer provas, que estes distúrbios foram organizados a partir de território ucraniano, no meio do conflito armado entre Kiev e Moscou.

“Os iniciadores desta ação, obviamente, são os nossos inimigos, aqueles que organizaram estas ações a partir do território da Ucrânia”, afirmou, citado pela agência de notícias Ria Novosti. Ele alegou que um canal do Telegram crítico às autoridades locais, "Outro Daguestão", era administrado pela Ucrânia por "traidores".

O canal, seguido por cerca de 60 mil pessoas, partilhou um apelo para se reunirem no aeroporto de Makhachkala no domingo à noite, dizendo que queriam evitar a chegada de passageiros “indesejados” no voo Red Wings de Tel Aviv.

A guerra entre Israel e o Hamas entrou no seu 24º dia na segunda-feira. A Faixa de Gaza está sujeita a bombardeios incessantes do exército israelita, desencadeados após o ataque do Hamas ao seu território em 7 de outubro, o mais mortífero da história de Israel.

Enquanto o incidente ainda estava em andamento, Israel apelou à Rússia para “proteger todos os cidadãos israelenses e todos os judeus”.

Os Estados Unidos, por sua vez, condenaram as “manifestações antissemitas”.

(Com informações da AFP)

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