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Lula conversa com Macron sobre situação dos reféns em Gaza; Hamas diz ter libertado duas americanas

Nota publicada pelo Itamaraty informa que os presidentes brasileiro e francês concordam sobre a necessidade da liberação imediata dos reféns. Eles falaram sobre o impacto da guerra para os civis, especialmente crianças israelenses e palestinas. Um porta-voz do Hamas disse que duas norte-americanas foram libertadas nesta sexta-feira (20) com intermediação do Catar. O país é apontado por especialistas como protagonista nas negociações.

Familiares e amigos de pessoas sequestradas pelo Hamas se abraçam em uma manifestação no centro de Tel Aviv, onde foi colocada uma mesa e 203 cadeiras vazias, representando os reféns, para um jantar de Sabbath, em 20 de outubro de 2023.
Familiares e amigos de pessoas sequestradas pelo Hamas se abraçam em uma manifestação no centro de Tel Aviv, onde foi colocada uma mesa e 203 cadeiras vazias, representando os reféns, para um jantar de Sabbath, em 20 de outubro de 2023. AP - Petros Giannakouris
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou por telefone com o presidente francês, Emmanuel Macron, nesta sexta-feira (20). Segundo o Itamaraty, Lula agradeceu o voto francês na proposta brasileira no Conselho de Segurança da ONU. Eles discutiram também a importância de se estabelecer um corredor humanitário para a saída de estrangeiros e entrada de água potável, alimentos e remédios na Faixa de Gaza.

"Os presidentes ressaltaram a necessidade de se conferir maior representatividade e força para as Nações Unidas e que Brasil e França continuarão em contato em busca de uma solução pela paz e questões humanitárias na região do Oriente Médio", disse o comunicado.

Segundo o porta-voz do Al-Qassam, o braço armado do Hamas, duas mulheres que estavam entre os 203 reféns foram libertadas nesta sexta-feira (20). Elas são mãe e filha e cidadãs dos Estados Unidos. Segundo a imprensa de Israel, o governo do país confirmou a libertação, que teria sido negociada com o apoio do Catar. 

A libertação destes dois reféns visa “provar ao povo americano e ao mundo inteiro que as alegações (sobre o Hamas) feitas por (Joe) Biden e sua administração fascista são infundadas”, acrescentou o porta-voz.

Outras nações devem intervir na negociação com Hamas

Tudo indica que potências regionais devem pressionar o Hamas pela libertação dos reféns. Especialistas apontam que o Catar pode ter um papel essencial nas negociações.

Até o momento, países que possuem cidadãos entre os reféns, como os Estados Unidos, a França e a Grã-Bretanha, estão atuando nos bastidores pela libertação das vítimas, mesmo que o controle oficial das negociações esteja nas mãos de Israel. Entretanto, nem os Estados Unidos nem a União Europeia, por exemplo, têm qualquer ligação direta com o Hamas, que consideram uma organização terrorista.

Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Mundo Árabe e o Mediterrâneo, com sede em Genebra, destaca uma declaração do porta-voz militar do Hamas, Abou Obeida, de que a libertação dos reféns ocorrerá “no tempo devido”.

Abidi acredita que “não haverá negociação coletiva. Cada Estado é chamado a negociar a libertação dos seus próprios reféns”, diz. Mas, segundo ele, as discussões devem ser feitas por meio de interlocutores como o Catar, o Egito e a Turquia. “Não há muitos mediadores”, acrescenta. Os potenciais intermediários que existem são “apenas aqueles que estabeleceram relações de longa data com o Hamas e, portanto, os únicos autorizados a ter contato com os seus líderes”.

Principal mediador

As expectativas se voltam então para o Catar, que construiu a sua estratégia com base em sua capacidade de falar com todos na região.

“O mediador mais complacente é o Catar, um pequeno Estado que não tem uma agenda regional, que não se preocupa com o uso político da mediação”, resume Hasni Abidi. O rico emirado do gás "é um bom especialista no Hamas e seu leal apoiador financeiro", disse ele, referindo-se ao financiamento de Doha dos salários dos funcionários públicos na Faixa de Gaza.

A capital do Catar, que acolhe há mais de 10 anos a sede do gabinete político do Hamas, também é respeitada pelos Estados Unidos, fiel aliado de Israel. 

Etienne Dignat, do Centro de Investigação Internacional (Ceri), lembra que o país também “se especializou na libertação de reféns”, destacando que o Catar esteve envolvido na recente liberação de prisioneiros americanos no Irã.

Não é, portanto, coincidência que Jean-Yves le Drian, enviado especial para o Líbano do presidente francês Emmanuel Macron, tenha estado no Catar esta semana, segundo fontes diplomáticas. No país, ele se encontrou com o ministro das Relações Exteriores para discutir a questão de Israel e do Líbano, informou a agência de notícias catarense, QNA.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, também fez uma viagem a Doha, enquanto a Alemanha apelou ao Catar para desempenhar um papel na libertação de seus reféns. “O Catar joga um jogo duplo: mantêm relações tanto com grupos terroristas como com certas nações ocidentais”, observa Etienne Dignat.

Turquia e Egito em ação?

Outros países da região tentam intervir. A Turquia demonstrou a sua disponibilidade e recebeu “pedidos de vários países”, disse terça-feira em Beirute o chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan. Apesar dos “episódios de desacordo” desde a chegada do presidente Recep Tayyip Erdogan ao poder, Istambul “nunca cortou relações com Israel”, sublinha Hasni Abidi. E o país acolheu alguns líderes do Hamas.

No entanto, os especialistas duvidam da sua capacidade de influenciar esta questão por si só, embora num esforço para normalizar as suas relações diplomáticas, tenha recentemente se distanciado do grupo palestino.

Já o Egito, mediador tradicional entre Israel e o Hamas, também é citado. “Lembramos que o Egito interveio para a libertação do soldado israelita Gilad Shalit” em 2011, recorda Etienne Dignat.

Para um país como a França, que mantém excelentes relações com o Cairo, o Egito não pode ser negligenciado, mas a grande quantidade de interlocutores acaba aumentando a pressão sobre Israel. Ao lidar com a questão estado por estado, o Hamas tem uma "vantagem lucrativa para a negociação”, observa Hasni Abidi, com a possibilidade de obter a libertação de prisioneiros palestinos ou mesmo de salvar o movimento islâmico que Israel quer erradicar.

(Com informações da AFP)

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