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Israel: 50 anos depois, especialistas comparam crise atual com Guerra do Yom Kippur

Yoram Eshat tinha 23 anos em 1973. Em seu escritório, ele mostra fotos antigas tiradas no front. Memórias dolorosas, que lhe marcam o corpo e a mente. Há 50 anos, a unidade de paraquedistas israelitas da qual ele fazia parte cruzou o Canal de Suez.

Um manifestante é preso pela polícia durante uma manifestação contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e a reforma judicial de seu governo de coalizão nacionalista. Em Jerusalém, em 11 de setembro de 2023.
Um manifestante é preso pela polícia durante uma manifestação contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e a reforma judicial de seu governo de coalizão nacionalista. Em Jerusalém, em 11 de setembro de 2023. © Ronen Zvulun / Reuters
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Sami Boukhelifa, enviado especial da RFI a Jerusalém

A missão: mover tanques em direção às linhas egípcias. A operação foi um fiasco. O jovem soldado ficou gravemente ferido. “Esta foto é verdadeiramente excepcional. Aqui você pode ver o médico militar, eu estou aqui. Dá uma ideia da gravidade dos meus ferimentos”, diz emocionado o veterano. “Fui atingido por estilhaços na mão esquerda. Eu também tive um pulmão perfurado. Olha os curativos no meu abdome, para eu conseguir respirar. E o pior dos meus ferimentos foi aquele que atingiu o meu cérebro”, diz, com voz embargada.

Com quase 73 anos, Yoram Eshat ainda tem metade do corpo paralisado. Demorou anos para o veterano de guerra reaprender a andar, a ler e a escrever. Apesar da sua deficiência, ele se manifesta quase todas as semanas contra a reforma da Justiça desejada pelo chefe do governo de Israel, Benjamin Netanyahu, e pelos seus aliados de extrema direita, os ministros Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich.

Nesta véspera de Yom Kippur, sob aplausos da multidão, Yoram Eshat fala em público, durante um encontro de movimentos contra a reforma. “Hoje, o mundo não funciona bem: o nosso governo é composto por terroristas e criminosos. Para eles, verdade, compaixão, empatia e paz são palavrões. São políticos miseráveis, que nunca viram um campo de batalha. Estou falando de Ben Gvir, Smotrich e os outros”, ele grita diante dos manifestantes, que respondem em uníssono: “Boucha, boucha, boucha [Vergonha, em hebraico]”.

“Esses políticos incitam ao ódio. Eles se opõem a todos aqueles que consideram seus inimigos. Isto é, os palestinos, o povo da esquerda em Israel, os pilotos do Exército [que se recusam a servir sob o seu governo], os manifestantes contra a reforma, os magistrados. Aos olhos deles, somos todos traidores, idiotas que deveriam ser presos e talvez até executados”, lamenta o ex-soldado.

“A Guerra do Yom Kippur não acontecerá"

Frédérique Schillo é o autor de “A Guerra do Yom Kippur não acontecerá”. O título de seu livro não foi escolhido ao acaso.: estas são as palavras proferidas à época pelo chefe da inteligência israelita.

Em 1973, todos os sinais eram de alerta. Os relatórios previam uma guerra árabe iminente contra Israel. "Mas as autoridades estatais optam por ignorá-los, convencidos de que os nossos inimigos não ousariam desafiar o seu poderio armado", diz. “Kippur é o exemplo típico de uma interpretação errada. E apesar de todas essas informações, continuamos da mesma forma. Hoje comparamos este acontecimento à crise que abala a sociedade na esfera judicial”, analisa o especialista em política israelense.

“Alguns estão falando sobre um golpe judicial. Podemos ver muito claramente que a sociedade israelense está totalmente dividida. Vemos que esta reforma tem efeitos dramáticos na economia. O shekel (moeda de Israel) está se desvalorizando. As startups estão deixando o país e se estabelecendo em outros lugares. Esses são efeitos que afetam a sociedade como um todo. E apesar disso, o governo continua. Então, realmente, é como naquela época. Os líderes militares e políticos tinham todas as informações, mas ignoraram tudo, não acreditando que o pior iria acontecer”, explica o pesquisador.

Da guerra do Yom Kippur à guerra civil

Para Frédérique Schillo, a comparação entre a Guerra do Yom Kippur e a crise em torno da reforma judicial vai além da cegueira dos dirigentes israelitas atuais. “A sociedade está se dilacerando como nunca, com estes protestos que duram desde janeiro. A batalha também está ocorrendo na Suprema Corte. Alguns falam de uma guerra civil e até falam de uma catástrofe existencial para Israel”, relata o especialista.

“E a única catástrofe existencial que Israel enfrentou foi a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Portanto, fazemos esta comparação porque Israel parece muito vulnerável hoje. E os inimigos de Israel poderiam tirar vantagem disso para atacar. De qualquer forma, é isso que os militares dizem hoje. A história poderia se repetir? Em Israel, alguns afirmam: é novamente 6 de outubro de 1973. Eram14 horas, quando estourou a Guerra do Yom Kippur”, conclui.

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